Presidente da OAB vê Lava Jato em risco após diálogos de Moro
Em entrevista a Augusto Nunes no programa Páginas Amarelas, Felipe Santa Cruz critica postura de ex-juiz em conversas divulgados pelo The Intercept Brasil
O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Felipe Santa Cruz avalia que todos os processos da operação Lava Jato podem ser questionados a partir dos diálogos divulgados pelo site The Intercept Brasil entre o então juiz federal Sergio Moro e o procurador Deltan Dallagnol, do Ministério Público Federal (MPF) e que colocam em xeque a atuação do ex-magistrado.
“Não é só um detalhe. É o prédio que sustenta todo o sistema de Justiça: a imparcialidade”, disse em entrevista ao colunista de VEJA Augusto Nunes no programa Páginas Amarelas, ponderando que a análise deve ser feita caso a caso. Santa Cruz também cobrou o afastamento de Moro do Ministério da Justiça para esclarecer as mensagens — “inclusive pelo fato de ele ser hoje o superior hierárquico da Polícia Federal” — e do procurador da República Deltan Dallagnol.
“Cada vez acho isso mais necessário [o afastamento] porque os fatos vão se agravando, as informações vão deixando claro essa relação entre Ministério Público e magistratura na Lava Jato”, analisa o presidente da OAB, complementando que o afastamento é uma recomendação da entidade.
O presidente da OAB também disse não considerar a divulgação dos diálogos um crime, uma vez que interessa a imprensa e a sociedade. Ele comparou a situação à interceptação telefônica, feita com autorização de Moro, que revelou uma conversa entre os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff em março de 2016.
Naquela ocasião, o ex-juiz derrubou o sigilo das mensagens às vésperas da nomeação do petista como ministro da Casa Civil — e que não se concretizou por ordem do Supremo Tribunal Federal. “O próprio ministro Moro no episódio disse que, em determinado momentos, quando se trata de agentes públicos, o importante é a informação”, disse o advogado.