Último Mês: Veja por apenas 4,00/mês
Continua após publicidade

“Vivo para inovar”

Bruno Affonso, 42, conta como foi criar na China a bicicleta elétrica que mudou a paisagem brasileira

Por Duda Monteiro de Barros Atualizado em 4 jun 2024, 11h42 - Publicado em 12 jun 2022, 08h00
Bruno Affonso -
Bruno Affonso – (Guilherme Leporace/.)

Aos 27 anos, eu tinha uma carreira tradicional de engenheiro. Trabalhava em uma multinacional na área de monitoramento e GPS e volta e meia viajava para congressos internacionais. Sempre aproveitava para conhecer o lugar, dar uma explorada. E foi isso que aconteceu quando me mandaram para Hong Kong em 2007, com voo de volta via Pequim. Resolvi emendar as férias e conhecer a China, que andava em ebulição a um ano da Olimpíada que iria sediar. Fiquei impressionado. Em todo o canto, sem exagero, esbarrava com uma inovação. Entendi que aquele era o lugar para estar naquela hora e pedi a meu chefe para seguir em Pequim por mais um ano, ajudando na expansão da companhia do lado de lá do globo. Fiquei profundamente feliz quando veio a resposta positiva. Mas a vida tem esse fascinante componente do imprevisível, e minha cabeça mudou. Quatro meses mais tarde, me demiti, no risco, em busca de algo novo. Comecei a viver de bicos de tradução, dava aulas de inglês para crianças e pensava o tempo todo no próximo passo, imerso em um cenário de alta criatividade.

E, de repente, estava morando num país onde não conhecia ninguém, sem saber a língua nem dominar a cultura. Mesmo com as dificuldades naturais de uma reviravolta dessas, porém, me adaptei bem. Fiz amizade com brasileiros e estrangeiros, fui me aclimatando. Estava focado em absorver o que aquela tradição misturada com modernidade poderia me ensinar. Eis que, em meio a tantas diferenças, percebi como as bicicletas elétricas, muito usadas por operários para ir e vir do trabalho, dominavam as ruas. Não se via isso no Brasil. Eram simples, quadradas, sem charme, mas surpreendentemente úteis — inclusive para mim. Como ainda não tinha permissão para dirigir na China, essa bike foi a minha salvação. Fazia tudo com ela e, com o tempo, meus amigos também aderiram. E passamos a percorrer toda a cidade motorizados sobre duas rodas.

Meu interesse por essa forma mais rápida e prática de locomoção cresceu a um ponto tal que decidi visitar fábricas de onde saíam as bicicletas, a meia hora de Pequim. Meu irmão, que hoje é meu sócio, estava no Brasil e eu, empolgado, lá de longe, falava da minha ideia de criar um modelo ajustado à realidade brasileira. Era tudo novo e Rodrigo, a distância, não compreendia exatamente o projeto. Ainda assim, embarcou nele, embalado por um ímpeto de inovar, que é o que também me move. Claro que não foi fácil achar uma fábrica disposta a produzir a bicicleta do jeito que eu imaginava, tudo sob medida. Em 2008, consegui tirar do papel o primeiro modelo da Lev, já prevendo um monte delas na paisagem carioca e de todo o país. Inventamos um produto unissex, com design e, cereja do bolo, ainda vinha com a cestinha. O propósito era criar uma alternativa ao automóvel que atendesse toda a família.

Continua após a publicidade

Fazia alguns meses que vendíamos pela internet quando abrimos no Brasil a primeira loja física, em 2010. Àquela época, o depósito era improvisado na casa dos meus pais, lotado de bicicletas vindas da China. Eu e meu irmão fazíamos as entregas, sempre de madrugada. Nunca duvidei que daria certo, e deu. Hoje, estamos em quatro estados com 26 lojas, dezesseis abertas só nos últimos dois anos. Fiquei em solo chinês até 2019. Aí, vim passar férias no Rio de Janeiro, e a quarentena rígida de lá me impediu de voltar. A ideia agora é me revezar entre os dois países. Interessante é que a pandemia acabou dando um empurrão no negócio, uma vez que as pessoas buscam cada vez mais o ar livre e menos o aperto do carro. Aliás, está todo mundo cansado do trânsito e revoltado com o preço da gasolina. Eu mesmo vendi meu carro há um bom tempo e uso a bicicleta elétrica para tudo. Foi uma inovação também para minha própria vida.

Bruno Affonso em depoimento dado a Duda Monteiro de Barros

Publicado em VEJA de 15 de junho de 2022, edição nº 2793

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Veja e Vote.

A síntese sempre atualizada de tudo que acontece nas Eleições 2024.

OFERTA
VEJA E VOTE

Digital Veja e Vote
Digital Veja e Vote

Acesso ilimitado aos sites, apps, edições digitais e acervos de todas as marcas Abril

1 Mês por 4,00

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (equivalente a 12,50 por revista)

a partir de 49,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.