‘Virtual não substitui o real’, diz papa Francisco em discurso no Vaticano
Em reunião com integrantes da Pontifícia Academia para a Vida, líder da Igreja Católica comentou que redes sociais não podem substituir a esfera pessoal
Em um pronunciamento público, no Vaticano, o papa Francisco discutiu, nesta segunda-feira (20), os limites da relação entre homens e tecnologia. O líder da Igreja Católica se reuniu com integrantes da Pontifícia Academia para a Vida, criada em 1994 pelo papa João Paulo II e presidida por dom Vincenzo Paglia, para discutir a relação entre pessoas, tecnologias emergentes e o bem comum. Em sua fala, o papa disse haver limites delicados entre o progresso, a ética e a sociedade. Neste contexto, disse ele, a fé pode oferecer uma valiosa contribuição para o equilíbrio entre esses polos.
O pontífice garantiu o compromisso da Igreja em incentivar o progresso, a ciência e a tecnologia, valorizando suas contribuições para a dignidade e o desenvolvimento humano. Francisco refletiu ainda sobre os três desafios que considera importantes no que diz respeito ao tema: a mudança das condições de vida do homem em um mundo tecnológico; o impacto da tecnologia na definição do que é ser humano e em nossas relações, onde destacou o efeito sobre populações vulneráveis; e o papel das tecnologias para o conhecimento humano e suas consequências.
O líder católico chamou a atenção para o protagonismo que as relações virtuais estão adquirindo no mundo moderno e fez um alerta dizendo que as interações virtuais não podem substituir as reais. Ele ressaltou que “é importante uma reflexão séria sobre o valor do homem. Na rede de relações, tanto subjetivas quanto comunitárias, a tecnologia não pode suplantar o contato humano, o virtual não pode substituir o real e nem as mídias sociais podem substituir o âmbito social. Estamos na tentação do virtual sobre o real: esta é uma tentação ruim”.
O discurso considera o progresso tecnológico algo cada vez mais “penetrante” e convida à uma reflexão sobre o valor do homem nessa nova realidade. A fala de Francisco considera ainda as implicações éticas cada vez mais complexas que a mediação tecnológica favorece e evidencia a necessidade de enfrentar o problema da confidencialidade dos dados e do compartilhamento de informações de interesse público.
Apesar disso, o papa não demonizou as redes e as interações tecnológicas e destacou a importância da distribuição desses recursos para populações mais vulneráveis, respeitando sempre seus limites culturais. De acordo com sua fala, a teologia “pode contribuir para a definição de um novo humanismo e favorecer a escuta recíproca e a compreensão mútua entre ciência, tecnologia e sociedade”.