Black Friday: Revista em casa a partir de 8,90/semana
Continua após publicidade

Na quarentena, aplicativos como o Tinder ganharam nova função

Pessoas solitárias continuam a buscar parceiros nos apps de paquera e namoro, não para encontros, hoje impossíveis, mas para longas conversas

Por Caio Mattos Atualizado em 4 jun 2024, 14h28 - Publicado em 29 Maio 2020, 06h00

Criticadas por aprisionar usuários em suas redes (literalmente) e se tornar um empecilho para as interações frente a frente entre as pessoas, as ferramentas eletrônicas em tempos de pandemia acabaram sendo o instrumento que, ao contrário, aproxima os indivíduos. A constatação se estende inclusive aos sites e aplicativos de relacionamento, e não — ou não só — pelos motivos óbvios. Sem poderem avançar do contato virtual para o encontro ao vivo, como era de praxe, os usuários de Tinder e companhia estão se entendendo nas conversas como nunca antes, trocando impressões não apenas sobre si mesmos, mas sobre a solidão do isolamento, o tédio de não ter o que fazer, a saudade da família — enfim, temas que, no longínquo 2019, dariam unmatch na certa.

A publicitária Carolina Chehade, de 22 anos, relata que, desde março, a cada dez conversas suas no Tinder sete contêm desabafos sobre pessoas que, por exemplo, perderam o emprego ou têm familiares doentes. “Quando me vi sozinha no meu quarto, mesmo com a família em casa e os amigos ao alcance de uma chamada de vídeo, notei que estava precisando do afeto de pessoas que eu não conhecia”, explica. Com uma dessas pessoas, está passando para o segundo estágio possível: a troca de mensagens pelo WhatsApp. O marco da disparada da aproximação social no Tinder se deu no dia 29 de março, menos de três semanas depois de a pandemia ter sido oficialmente confirmada, quando o aplicativo registrou um recorde de mais de 3 bilhões de swipes no mundo . Para os menos familiarizados: swipe é o gesto que o usuário faz na foto de outra pessoa na tela do celular, arrastando-a para a direita quando agradou e para a esquerda quando não. Nunca, nos oito anos de existência da ferramenta, tantos dedos determinaram tantos destinos ao mesmo tempo.

arte-tinder

O concorrente Bumble também teve aumento de trânsito (entre 13 de março e 1º de maio, o número de mensagens trocadas semanalmente cresceu 16%), e o motor de todos eles é a solidão que se abate sobre parte da humanidade. “O uso desses aplicativos se tornou uma compensação para a impossibilidade de encontrar pessoas espontaneamente, ao sair na rua”, explica a psicóloga Camila Figueiredo. Quanto mais rapidamente caminha a curva de contágio e maior é o grau de distanciamento social, mais frequentes são as interações. Na Espanha, país especialmente castigado pelo novo coronavírus, uma pesquisa mostrou que o uso do Tinder elevou-se em até 94% entre menores de 35 anos ao longo do primeiro mês da quarentena. Entre 20 de fevereiro e 26 de março, as trocas de mensagens no mundo todo ficaram, na média, 25% mais prolongadas. Usuária do Tinder desde que estava no ensino médio, a estudante de engenharia Thainá Mendonça, de 22 anos, resume a mudança de parâmetros: “Eu não me privo de conhecer pessoas para outros fins, mas hoje, se virar só amizade, não acho ruim”.

ASSINE VEJA

As consequências da imagem manchada do Brasil no exterior
As consequências da imagem manchada do Brasil no exterior O isolamento do país aos olhos do mundo, o chefe do serviço paralelo de informação de Bolsonaro e mais. Leia nesta edição ()
Clique e Assine
Continua após a publicidade

Nesse contexto, não apenas a troca de mensagens é agora mais constante e comprida, como também as conversas por vídeo têm se popularizado. Um levantamento realizado em abril pelo site de relacionamento Match.com mostrou que 69% de seus clientes estavam abertos a chamadas de vídeo e mais de 30% tinham a intenção de realizá-las — muito acima dos 6% que usavam essa opção antes da pandemia. No Bumble, onde o video chatting existe desde o ano passado, o número dessas chamadas por semana cresceu 38% entre 13 de março e 1º de maio. O Tinder planeja disponibilizar o vídeo até o fim de junho. A estudante de jornalismo Paula Emanuelle, que já está na fase Whats­App com uma garota que conheceu no Tinder, confirma que a impossibilidade de as duas se encontrarem as obrigou a “ter mais calma e paciência para criar laços”. Ela atesta também a utilidade das chamadas de vídeo no namoro a distância. “Dá até para a gente cozinhar e jantar juntas”, diz.

No mundo das pessoas que vivem separadas de quase todas as outras, as tecnologias de comunicação vêm desempenhando papel fundamental. “Conversar com alguém, não importa onde esteja, ajuda os dois a se sentir um pouco menos sozinhos”, diz Elie Seidman, diretor executivo do Tinder. A plataforma liberou gratuitamente durante o mês de abril o “passaporte”, recurso pago que permite contatar pessoas em toda a parte do globo. O Bumble, por sua vez, abriu o acesso a perfis em qualquer lugar do país do usuário, em vez do raio de 160 quilômetros. “Essas tecnologias têm se mostrado bastante efetivas em estabelecer diálogo entre os indivíduos que se sentiam isolados”, ressalta a historiadora Mirtes de Moraes. Ela levanta, inclusive, uma curiosa questão: “Será que as conversas entre pessoas que dividem o mesmo teto têm sido tão longas quanto os bate-­papos virtuais?”. É de pensar.

Publicado em VEJA de 3 de junho de 2020, edição nº 2689

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Semana Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

Apenas 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (a partir de R$ 8,90 por revista)

a partir de 35,60/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.