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Uma vacina é capaz de reduzir em 20% as chances de demência, revela estudo

Imunizante está disponível no Brasil e é indicado para pessoas com mais de 50 anos de idade

Por Luiz Paulo Souza Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 2 abr 2025, 13h00

À medida que populações ao redor do mundo vivem cada vez mais, a ciência tem lutado para encontrar maneiras de evitar ou postergar o desenvolvimento da demência, uma condição comum em pessoas idosas. Agora, um experimento natural realizado quase por acaso no país de Gales jogou luz sobre uma vacina que pode ajudar nesse propósito. 

A descoberta foi publicada nesta quarta-feira, 2, na Nature. No artigo, pesquisadores da Universidade de Stanford revelam que a vacina contra a herpes-zoster está associada a uma redução de 20% no risco de desenvolvimento de demência. “Foi uma descoberta realmente marcante”, disse Pascal Geldsetzer, professor assistente da instituição e autor do estudo. “Esse enorme sinal de proteção estava lá, não importava de que forma você analisasse os dados.”

O que o estudo mostra é que, sete anos após a vacinação, um em cada oito indivíduos que não receberam a vacina desenvolveram demência, mas no grupo imunizado essa taxa foi um quinto menor. 

Por enquanto, as investigações não permitem dizer que a vacinação foi a responsável pelo efeito observado, mas os especialistas estão confiantes de que é só uma questão de tempo. “O estudo utilizou uma abordagem científica muito rigorosa” disse a VEJA Paulo Gewehr, infectologista e coordenador do Núcleo de Vacinas do Hospital Moinhos de Vento. Podemos confiar mais que a vacina realmente ajudou a prevenir ou atrasar a demência, e não que outro fator tenha influenciado o resultado.”

Qual a relação entre a herpes zoster e a demência?

A herpes zoster é causada pelo mesmo vírus que causa a catapora em crianças e adultos. “Após a catapora, o vírus não vai embora, ele fica latente no corpo, como se estivesse dormente dentro dos nervos”, explica Paulo Gewehr, infectologista e coordenador do Núcleo de Vacinas do Hospital Moinhos de Vento. “Quando acorda, geralmente em idosos, provoca dor intensa e feridas na pele, o famoso cobreiro.”

Como o vírus – chamado entre cientistas de varicela-zoster – tem uma grande atração por celular do sistema nervoso, pesquisadores suspeitam que, ao ser reativado, ele não apenas provoque as feridas na pele, mas também cause danos em outras partes do sistema nervoso. 

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E isso já foi sugerido anteriormente. Um estudo publicado em 2024, no periódico Health Science Reports, mostra que pacientes que passaram por episódios de herpes-zoster têm um risco aumentado de demência, o que pode ser diminuído com o uso de terapias antivirais adequadas. Por outro lado, um outro artigo publicado na Nature Medicine no mesmo ano já mostrava uma associação entre a vacinação e o risco diminuído para essa condição. 

Como o estudo foi feito?

A política de vacinação do país de Gales foi o que permitiu a realização de um experimento natural. Em 2013, eles decidiram que qualquer pessoa que tivesse nascido após o dia 2 setembro de 1933 poderia receber a vacina, que não estaria disponível para quem nasceu antes disso. 

A questão é que pessoas nascidas pouco antes ou pouco depois dessa data têm, basicamente, a mesma idade. “Sabemos que, se pegarmos mil pessoas aleatórias nascidas em uma semana e mil pessoas aleatórias nascidas uma semana depois, não deveria haver nenhuma diferença entre elas, em média”, diz o pesquisador. “O que torna o estudo tão impactante é que ele funciona quase como um ensaio randomizado, com um grupo de controle — aqueles um pouco velhos demais para se qualificar para a vacina — e um grupo de intervenção — aqueles jovens o suficiente para serem elegíveis.”

Esse é exatamente o tipo de experimento que os manuais de pesquisa clinica recomenda para a realização desse tipo de estudo, o que permite que a análise fique imune a possíveis vieses dos pesquisadores. Ao analisar os dados dos pacientes, portanto, os cientistas conseguiram evidências muito robustas da proteção supostamente provocada pela vacina sete anos após a imunização – e melhor, avaliando mais de 280 mil indivíduos, algo impraticável em um experimento convencional. 

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E não parou por aí, para confirmar o resultado os pesquisadores ainda utilizaram dados externos, como avaliações epidemiológicas, e aplicaram ferramentas estatísticas rígidas para garantir que a diminuição da demência estava mesmo associada à vacina e não a outros fatores. 

Como evitar a demência?

Embora mais estudos sejam necessários para comprovar a relação entre a vacinação para herpes zoster e o menor risco para demência, a imunização contra esse vírus é muito recomendada para pessoas com mais de 50 anos, já que ela previne outras complicações associadas à reativação do vírus, como doenças vasculares e dores crônicas. 

No Brasil, a opção disponível é a Shingrix, produzida pela GSK. Ela é indicada em duas doses para adultos imunossuprimidos ou para pessoas com mais de 50 anos e pode ser encontrada na rede privada, por valores que giram em torno de 800 reais por dose. 

Enquanto isso, outras estratégias também podem ser adotadas para evitar o desenvolvimento da condição, algo que deve ser prioridade no Brasil, onde cerca de 2,71 milhões de pessoas são diagnosticadas – número que pode chegar aos 6 milhões até 2050. São elas: 

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  • Aprendizado constante: já está muito bem estabelecido entre os profissionais que a educação é um importante fator protetor para demências, portanto, aprender coisas novas é uma boa maneira de prevenir o desenvolvimento dessas condições
  • Participação social: a solidão se mostrou um fator importante para o declínio cognitivo, então estão estar envolvido em grupos sociais também pode ser um fator protetivo importante
  • Cuidado com doenças crônicas: as doenças metabólicas como diabetes, hipertensão e obesidade estão muito relacionadas a demências, então preveni-las é uma forma relevante de evitar doenças neurodegenerativas
  • Saúde auditiva e visual: pesquisas recentes mostram que a perda da audição e da visão podem ser um fator de risco para demências
  • Estilo de vida saudável: fatores como alimentação e exercícios físicos são essenciais para manter um bom funcionamento do organismo e para evitar grande parte dos outros fatores de risco relacionados ao Alzheimer
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