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Recém-nascida desenvolve ‘micropênis’ devido a gel de testosterona usado pelo pai

Casos como esse não são raros e podem envolver, também, mães que usam implantes hormonais durante a gestação

Por Victória Ribeiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 25 jul 2025, 18h22 - Publicado em 25 jul 2025, 17h29

Uma história divulgada pela imprensa internacional chamou atenção ao revelar o caso de uma recém-nascida que desenvolveu um “micropênis” — alteração caracterizada por um aumento incomum do clitóris — após dormir repetidamente encostada no peito do pai. Exames indicaram que a bebê apresentava níveis elevados de testosterona, hormônio esteroide anabolizante que o pai aplicava em gel na região do tórax. Ao ninar a filha, ele acabou transferindo a substância de forma indireta à criança.

O caso foi relatado pela endocrinologista sueca Jovanna Dahlgren, que também identificou outros cinco episódios semelhantes. E, embora pareça um evento raro, não se trata de uma exclusividade nórdica. No Brasil, o fenômeno — conhecido como contaminação cruzada — também tem sido observado. Segundo o urologista Ubirajara Barroso, chefe do Departamento de Cirurgia Afirmativa de Gênero da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), esse tipo de exposição pode ocorrer em situações aparentemente inofensivas: aplicar o gel antes de vestir a roupa e, em seguida, pegar o bebê no colo; dormir na mesma cama; ou, ainda, durante a gestação.

“A testosterona, quando absorvida pela pele, pode entrar na corrente sanguínea do bebê e se transformar em outro hormônio chamado DHT, que tem um papel importante no desenvolvimento dos órgãos genitais masculinos”, explica Barroso. “Como o pênis e o clitóris têm receptores parecidos, se uma menina for exposta a grandes quantidades desse hormônio ainda no útero ou logo após o nascimento, o clitóris pode crescer mais do que o normal, ficando com uma aparência semelhante à de um micropênis.”

Os efeitos também podem ir além. A exposição à testosterona pode virilizar a criança de outras formas, seja meninos ou meninas: surgimento precoce de pelos pubianos, escurecimento dos grandes lábios, aumento de pelos em áreas indesejadas, acne, características musculares masculinas e, em casos mais graves, fechamento precoce das epífises ósseas, regiões dos ossos responsáveis pelo crescimento. Segundo o médico, esse fechamento pode comprometer a estatura final da criança, levando a um desenvolvimento físico abaixo da média. 

O ‘elixir’ moderno

Ou seja, por mais inusitado que pareça, o fenômeno está ancorado em bases hormonais bem compreendidas pela ciência. O que preocupa é o pano de fundo que tem favorecido o aumento desses episódios: o uso indiscriminado da testosterona, que virou uma espécie de “elixir” moderno. Hoje, o hormônio vem sendo utilizado como fórmula antienvelhecimento, para ganho de massa muscular, aumento da libido e até como suposta “cura” para depressão, extrapolando suas reais indicações médicas, que são extremamente restritas.

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Parte desse cenário vem da distorção do que, de fato, significa “reposição hormonal”, tanto para homens quanto para mulheres. No caso dos homens, o uso de testosterona pode, sim, fazer parte da reposição, mas apenas quando há uma deficiência comprovada do hormônio. O problema é que, diante de sintomas inespecíficos como cansaço, falta de disposição ou perda de massa muscular, o diagnóstico de “falta de testosterona” tem sido feito de forma apressada — quando, na verdade, essas queixas muitas vezes têm outras causas.

Entre as mulheres, a confusão é ainda maior. A reposição hormonal feminina, tradicionalmente feita com estrogênio e progesterona, passou a ser confundida com o uso de testosterona, apesar de esse hormônio não ser necessário para a maioria das pacientes e raramente fazer parte das diretrizes clínicas.

Além disso, a popularização dos implantes hormonais, conhecidos como “chips da beleza”, reforça essa tendência. Esses dispositivos liberam testosterona e outros tipos de hormônios de forma contínua por meses e, apesar do apelo comercial, não contam com respaldo científico robusto. “Eu mesmo já atendi mulheres que usavam implantes hormonais de testosterona, não sabiam que estavam grávidas, e a genitália da criança acabou com aparência masculinizada”, relata Barroso.

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Aumento do clitóris pode ter outras causas

O aumento incomum do clitóris, conhecido como clitoromegalia, nem sempre está relacionado ao uso externo de hormônios. Em alguns casos, pode ser provocado por condições endógenas. Há situações, por exemplo, em que mães desenvolvem tumores nos ovários durante a gestação, o que leva à produção excessiva de testosterona. Outra causa relativamente comum é a hiperplasia adrenal congênita, uma doença em que o próprio bebê fabrica o hormônio em excesso ainda no útero, resultando na virilização dos genitais.

Segundo Barroso, esse tipo de alteração costuma ser permanente e, por isso, muitas vezes exige correção cirúrgica. Uma das alternativas é a corporoplastia, técnica desenvolvida por ele e sua equipe em 2022. O procedimento permite reduzir o tamanho do clitóris preservando sua sensibilidade, algo que os métodos convencionais nem sempre conseguem manter, já que podem comprometer nervos e vasos da região.

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