Probióticos podem não ser tão eficazes quanto os cientistas acreditavam
Estudos recentes mostram que as bactérias que reequilibram a flora intestinal não funcionam da mesma maneira em todos os organismos
Quando o assunto é saúde intestinal, não há quem esqueça de recomendar os famosos probióticos, alimentos que contêm bactérias benéficas, famosas por sua habilidade de equilibrar a flora intestinal e melhorar o bem-estar. No entanto, dois estudos publicados recentemente na revista científica Cell indicam que esses alimentos não são tão vantajosos quanto se acreditava. E, em alguns casos, podem até causar danos ao sistema digestivo.
A flora intestinal ou microbiota é o conjunto de todos os micro-organismos que vivem normalmente no intestino de uma pessoa. Nos últimos anos, esse sistema ganhou importância e acredita-se que ele desempenha um papel importante na saúde em geral. Os antibióticos, medicamentos utilizados para o tratamento de infecções bacterianas, danificam a microbiota intestinal do paciente, por isso, é comum que os médicos recomendem a ingestão de probióticos após tratamentos com esses remédios.
Para investigar se de fato o uso destes produtos é benéfico, 21 participantes tiveram seu intestino analisado por meio de endoscopia e colonoscopia antes de tomarem antibióticos. Em seguida, eles foram divididos em três grupos: no primeiro, considerado de controle, os voluntários não receberam qualquer medida interventiva; no segundo, receberam probióticos comuns; e no terceiro grupo, os participantes receberam a própria microbiota, coletada antes do uso do tratamento, por meio de um técnica chamada transplante de microbiota fecal.
Os resultados mostraram que aqueles que tomaram probióticos apresentaram uma rápida recolonização, porém, as bactérias originárias do seu intestino demoraram para voltar a crescer e a flora intestinal demorou meses para retornar ao ‘normal’. Além disso, esse grupo também apresentou alterações na expressão gênica, processo no qual o DNA genético é transformado em produto genético, como proteína ou RNA. Esse feito persistiu por seis meses.
Já no grupo que recebeu amostras da própria microbiota não foram observadas consequências. Pelo contrário, ela se normalizou em poucos dias. Entretanto, a equipe ressaltou que essa reintrodução não é uma solução viável para todas as pessoas que tomam antibióticos por ser um tratamento invasivo.
Cada organismo reage de um jeito
No segundo estudo foram observados a colonização e o impacto dos probióticos em 15 pessoas através de amostras do trato gastrointestinal. Os participantes foram divididos em dois grupos: um recebeu uma preparação feita com 11 cepas de probióticos mais comuns e o outro recebeu um placebo. Nesta investigação descobriu-se que alguns indivíduos simplesmente expulsaram os probióticos enquanto outros acolheram os novos micróbios.
“Se algumas pessoas resistem [expulsando os probióticos] e somente algumas pessoas os aceitam [probióticos se tornam parte da microbiota], os benefícios dos probióticos que hoje adotamos como ‘padrão’ podem não ser tão universais quanto pensávamos. Esses resultados destacam o papel da microbiota intestinal levando em conta as diferenças clínicas muito específicas entre as pessoas”, explicou Eran Segal, co-autor do estudo, ao Medical News Today. No grupo placebo nada foi observado.
O estudo revelou que por meio de uma análise da microbiota original e da expressão do gene do intestino de um indivíduo é possível determinar quem é capaz de resistir à colonização e quem está mais predisposto a aceitá-la. “Isso nos diz que o paradigma de preparação e tratamento de probióticos usado atualmente deve ser substituído por uma terapia personalizada que aproveita a ciência, a medição e a tecnologia. Com essa abordagem adaptada, os probióticos têm maiores chances para beneficiar a saúde”, completou Elinav.
No entanto, como o estudo não analisou os efeitos clínicos dos probióticos, mas pesquisas são necessárias para esclarecer melhor os reais efeitos desses alimentos no organismo humano.