Com país perto de atingir 1 milhão de casos de dengue, governo faz ‘dia D’
Brasil soma 973.347 casos e 195 mortes em 2024; mutirão contra a doença será neste sábado, 2
Antes de fechar os primeiros dois meses do ano, o Brasil está prestes a atingir 1 milhão de casos de dengue, segundo a última atualização de notificações do Ministério da Saúde. Na tarde desta terça-feira, 27, a pasta anunciou que o país soma 973.347 casos e 195 mortes em 2024. Outros 672 óbitos estão em investigação. Nesta segunda-feira, 26, o número de casos era de 920 mil. No início do mês, o ministério divulgou a estimativa de que o número de casos de dengue pode chegar a 4,2 milhões em 2024, índice que seria um recorde.
Em coletiva, a ministra da Saúde Nísia Trindade explicou que o cenário tem sido atípico desde o ano passado e diferentes fatores têm favorecido o aumento de casos, desde fatores climáticos à interiorização dos casos, passando pela troca do sorotipo prevalente.
“Tivemos, em 2023, casos de dengue no inverno e continuamos com o clima muito quente e úmido. Há o elemento atípico do clima nesses 40 anos, mas outro outro fator diferente é que a dengue começa nas capitais e grandes cidades, mais no Nordeste e Sudeste, e temos agora em cidades médias e a interiorização da doença.”
Segundo Nísia, os quatro sorotipos estão em circulação no país, com o 4 de forma mais pontual. “Em muitos estados que tínhamos a prevalência do sorotipo 1, está com uma grande incidência do sorotipo 2, como no Distrito Federal, que tem 40% dos casos ligados com o tipo 2.”
Em 2023, o país somava 207.475 casos de dengue na semana epidemiológica 8 e atingiu 1 milhão de registros da doença no período entre 30 de abril e 6 de maio, na semana epidemiológica 18. Durante todo o ano passado, foram registrados 1.658.816 casos e 1.094 mortes por dengue.
“Nem fechamos fevereiro e ultrapassamos o pico de 2023, que foi entre o fim de março e o começo de abril. Antecipamos a curva e não sabemos se vai ter uma descida agora, se vai ser sustentada, se vai ter uma descida rápida como foi a subida”, afirma Ethel Maciel, secretária da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do ministério.
O ministério anunciou que vai realizar o dia D contra a dengue neste sábado, 2, com ações para prevenção e eliminação de criadouros em todo o país. A ministra tem alertado que 75% dos focos do Aedes aegypti estão em residências.
Surto de dengue no Brasil
Desde 2022, a dengue voltou a crescer no país. A partir das primeiras semanas do ano, os números da doença causada pelo mosquito Aedes aegypti começaram a escalar de forma preocupante, fazendo com que estados e municípios brasileiros implementassem medidas como aumento de leitos e tendas para hidratação dos pacientes. Acre, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Minas Gerais declararam situação de emergência por epidemia neste ano. O decreto também foi publicado em 154 municípios.
Segundo o Ministério da Saúde, o Distrito Federal concentra o maior número de casos por 100 mil habitantes. Lá, um hospital de campanha da Força Aérea Brasileira (FAB) foi montado para fazer o atendimento de pacientes que precisam de hidratação.
A doença tem colocado o mundo em alerta por estar se alastrando em novas e antigas regiões com a ajuda das mudanças climáticas, que criam condições propícias para a reprodução e proliferação dos mosquitos. Desde o ano passado, a Organização Mundial da Saúde (OMS) elevou o tom ao se debruçar sobre dados e constatar que, em 2022, as taxas de infecção aumentaram oito vezes em relação ao ano 2000.
Em visita ao Brasil no início do mês, o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, afirmou que “o surto atual faz parte de um grande aumento em escala global da dengue”. Segundo Adhanom, o levantamento da entidade apontou que, no ano passado, foram notificados 5 milhões de casos e 5.000 óbitos relacionados com a infecção em mais de oitenta países.
Vacina contra a dengue
O Distrito Federal e o estado de Goiás foram os primeiros a receber doses da vacina contra a dengue, dando início à campanha de imunização que, no momento, está concentrada na faixa dos 10 e 11 anos de idade. Além dessas localidades, Acre, Amazonas, Bahia, Espírito Santo, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Roraima, Santa Catarina, São Paulo e Tocantins também receberão doses que serão distribuídas para 521 municípios.
Eles foram selecionados por serem locais com mais de 100 mil habitantes que estão com predominância do sorotipo 2 da doença e tiveram números altos de notificações desde o ano passado. Também são pontos que registraram índices elevados de infecção nos últimos dez anos.
Com o envio de novas doses, o cronograma vai contemplar as demais faixas etárias até os 14 anos, grupo prioritário escolhido por ser o mais afetado por episódios que levam à internação.
Em outubro do ano passado, a OMS recomendou a vacinação contra a doença com foco principalmente em crianças e adolescentes de 6 a 16 anos em países endêmicos, caso do Brasil. Por aqui, o imunizante Qdenga, da farmacêutica japonesa Takeda, foi liberado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) meses antes, em março.
O Ministério da Saúde seguiu a recomendação da entidade e vai ofertar o imunizante para essa faixa etária. Com a medida, o Brasil se tornou o primeiro país a incluir a vacina no sistema público de saúde.
O país recebeu cerca de 750.000 doses, parte da primeira remessa com 1,32 milhão de doses adquiridas pelo governo brasileiro. Também está prevista a entrega de 568.000 doses ainda neste mês. Neste ano, está prevista a chegada escalonada de mais 5,2 milhões de doses. Para 2025, foram adquiridas 9 milhões de doses.