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Por que o cérebro tem facilidade para aceitar ‘fake news’

Tal inclinação, inerente ao ser humano, é conhecida pela ciência como 'viés de confirmação'; saiba como evitá-la

Por Da Redação
Atualizado em 4 jun 2024, 17h42 - Publicado em 13 ago 2018, 17h34

O cérebro é programado para absorver notícias falsas, aponta estudo publicado na revista Science. De acordo com os pesquisadores, a tendência cerebral do ser humano é aceitar com maior facilidade informações que confirmem crenças pré-existentes e repelir – ou ignorar – as que desafiam suas opiniões.

Essa inclinação é conhecida pela ciência como viés de confirmação, considerada um dos motivos pelos quais as fake news são tão apelativas e se espalham mais rápido do que informações verdadeiras. O estudo, apresentado na convenção anual da American Psychological Association (APA), nos Estados Unidos, afirma que essa “habilidade” começa a ser desenvolvida ainda na infância, quando a criança está aprendendo a distinguir entre a realidade e a fantasia.

O perigo do ‘faz de conta’

Durante a infância, os pais costumam incentivar os filhos a acreditar em fatos que nem sempre são verdadeiros para que eles possam conviver por mais tempo em um mundo ‘mais bonito’. No entanto, ao passo que as crianças ficam ‘protegidas’ da realidade, elas aprendem que, às vezes, a fantasia é socialmente aceitável. À medida que chegam à adolescência, os indivíduos desenvolvem habilidades de pensamento crítico, que as incitam a questionar figuras de autoridade, incluindo os próprios pais. O pensamento crítico provoca questionamentos que podem levar a conflitos internos que causam desconforto psicológico.

Por causa disso, os adolescentes criam métodos de racionalização tendenciosa, ou seja, para evitar a ansiedade provocada pelo conflito interno, eles desenvolvem mecanismos de enfrentamento, como o viés de confirmação, que os ajudam a racionalizar as mentiras e evitar o desconforto psicológico. “Internamente, existe a necessidade do cérebro de receber informações confirmatórias que se harmonizem com as opiniões e crenças existentes do indivíduo”, explicou Mark Whitmore, autor do estudo, ao Medical News Today.

Especialistas apontam que essas estratégias desenvolvidas pelo cérebro tornam as pessoas mais vulneráveis a notícias falsas na vida adulta.

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O poder das ‘fake news’

Outro estudo realizado pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês) descobriu que as notícias falsas atingem um maior número de pessoas e se espalham muito mais rápido do que notícias precisas. As descobertas aconteceram através da análise de 126.000 notícias contestadas pelas pessoas e pelo acompanhamento das atividades de 3 milhões de usuários do Twitter. Os resultados foram divulgados depois de uma década de avaliações.

Esse poder concedido às fake news causam desconfiança, principalmente nos meios de comunicação que lidam com informações diariamente. Uma pesquisa internacional, realizada em 28 países e publicada em janeiro deste ano, revelou que 63% dos entrevistados acreditam que uma pessoa comum não sabe distinguir o bom jornalismo das notícias falsas. Além disso, sete em cada dez pessoas temem o uso das notícias falsas como algum tipo de ‘arma’ para iniciar conflitos sociais.

“Em um mundo onde os fatos estão sob cerco, fontes credenciadas estão se mostrando mais importantes do que nunca. Existem problemas de credibilidade para plataformas e fontes. A confiança das pessoas nelas está em colapso”, disse Stephen Kehoe, presidente global da Edelman (empresa americana de consultoria em relações públicas e marketing), à CNBC.

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Como se proteger?

Acredite ou não, o humor pode ser um excelente método contra as fake news, apontam os pesquisadores. Isso acontece porque o apelo das notícias falsas diminui conforme a ansiedade é reduzida. Apesar de não alterar a fonte do stress, o humor – que pode vir de filmes, séries ou vídeos engraçados, por exemplo – pode ajudar a controlar a ansiedade.

“Outro mecanismo de defesa eficiente é a sublimação, situação em que o indivíduo canaliza os sentimentos negativos para algo positivo, como participar de protesto ou manifestações pacíficas em prol de uma causa ou participar de projetos voluntários”, sugeriu Whitmore.

Ouvir – realmente ouvir e respeitar – pontos de vista diferentes dos seus também pode ajudar a moderar opiniões e torná-las menos extremas, diminuindo o risco dos conflitos internos que ativam o viés de confirmação. Entretanto, para os pesquisadores, desenvolver um grau maior de ceticismo nas crianças, estimulando-as a questionar os acontecimentos a sua volta, permite que o pensamento crítico se desenvolva de maneira sadia, refreando a criação dos mecanismos de enfrentamento que tornam as pessoas mais suscetíveis às fake news.

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