Por que o analgésico fentanil está na mira de Trump?
Substância utilizada como droga é até 100 vezes mais potente que a morfina e virou problema de saúde pública; 100 000 americanos morreram em 2021

Em meio ao tarifaço anunciado pelo presidente americano Donald Trump a produtos importados do México, Canadá e China, um debate sobre um problema de saúde pública enfrentado pelos Estados Unidos voltou à tona: o uso do analgésico e anestésico fentanil como droga de abuso. O medicamento, um opioide indicado para dores intensas e causadas por câncer, chega a ser 100 vezes mais potente que a morfina e, segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC), esteve ligado a 68% dos casos de overdose no país em 2022.
Em comunicado publicado no último sábado, 1º, a Casa Branca afirmou que lidava com “uma situação de emergência” e que a tarifa adicional era uma medida “ousada” de Trump “para responsabilizar o México, o Canadá e a China por suas promessas de deter a imigração ilegal e impedir que o venenoso fentanil e outras drogas” continuem entrando no país. A China refutou a acusação e defendeu seu trabalho de combate ao comércio ilegal, enquanto México e Canadá apresentaram reforços às ações para combater o tráfico da substância como forma de acordo para evitar a taxação.
O fato é que o fármaco, principalmente em suas versões produzidas de forma ilegal, tem causado estragos ao criar populações que enfrentam uma luta desigual contra a dependência por uma substância tão forte.
Em sua forma ilegal, o fentanil pode ser comercializado em pó ou prensado em pílulas para ser cheirado, fumado, injetado ou ingerido. Há composições que o misturam a outros medicamentos e drogas, como cocaína, metanfetamina e cocaína, e também versões em spray nasal e até colírios.
O CDC divulga em sua página um relatório com informações sobre os impactos do consumo de opioides sintéticos com destaque para o fentanil, que é classificado como um “opioide sintético poderoso”. A taxa de mortes por overdose por uso dessas substância foi quase 24 vezes em 2022 em relação ao índice de 2013.
“As overdoses fatais e não fatais envolvendo fentanil aumentaram drasticamente na última década”, diz o órgão. Apenas em 2021, 100 000 mil americanos morreram por uso abusivo da substância e seus similares.
Crise dos opioides
Com a crise dos opioides instalada, o CDC emitiu, em 2020, um comunicado para profissionais de saúde, socorristas e entidades de redução de danos para ampliar a conscientização sobre os riscos de overdose e medidas precoces de intervenção.
Entre as orientações, está inclusive a indicação de aumentar a distribuição e uso da naloxona, medicamento que pode ser aplicado por spray nasal ou injeção que é capaz de reverter overdose por fentanil, heroína e outros opioides.
Em março de 2023, a Food and Drug Administration (FDA), agência regulatória americana, liberou a venda livre do spray nasal “para ajudar a reduzir as mortes por overdose de drogas” e afirmou que “a naloxona é um tratamento de emergência que salva vidas”.
Em uma epidemia fora de controle e que ceifa vidas, as medidas que favoreçam a saúde pública devem ser priorizadas, com o fortalecimento do acesso a informações precisas sobre os riscos de dependência e overdose, oferta de centros de tratamento e de tratamentos para situações de emergência. /COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS