O que realmente acontece com adolescentes que fumam cigarro eletrônico?
Segundo estudo feito no Reino Unido e nos EUA, assim como o cigarro tradicional, o "vape" pode fazer com que jovens se tornem tabagistas no futuro
Assim como os jovens que fumam os cigarros tradicionais, os fumantes de cigarros eletrônicos também têm um enorme risco maior de prolongar e piorar o hábito para além da adolescência. É o que revelam os resultados combinados de dois estudos nacionalmente representativos do Reino Unido e dos Estados Unidos, publicados na revista Tobacco Control.
Os estudos observacionais incluíram 1.800 adolescentes britânicos e americanos que fumaram cigarros antes dos 15 anos. Mais da metade também usava cigarros eletrônicos. Apesar das diferenças na regulamentação e na comercialização de cigarros eletrônicos entre os dois países, as descobertas sugerem que os “vapes” podem aprofundar os padrões iniciais do tabagismo, ou seja, adolescentes que já começaram a fumar antes dos 15 anos são especialmente vulneráveis ao desenvolvimento de dependência de nicotina. Os pesquisadores também se concentraram em descobrir como o uso concomitante de cigarros eletrônicos e tradicionais poderia moldar futuros padrões de tabagismo neste grupo.
Entre os adolescentes fumantes do Reino Unido, 57% disseram que também usavam cigarro eletrônico, índice semelhante entre os jovens americanos, com 58%. No final da adolescência, essa maioria tinha maior probabilidade de continuar fumando e com mais frequência: mais de seis cigarros por semana ou pelo menos 27 por mês.
Entre os participantes do Reino Unido, 61% dos usuários de cigarro eletrônico continuavam fumando no final da adolescência, em comparação a 50% dos que não consumiam. Os números equivalentes para os participantes dos EUA foram 42% e 24%. No final da adolescência, fumar com frequência era quase duas vezes mais comum entre os vapers do Reino Unido (37%) do que entre entre os não consumidores dos eletrônicos (23%).
“Essas descobertas são consistentes com a hipótese de entrincheiramento, ou seja, os cigarros eletrônicos entrincheiram os adolescentes que fumam cedo em uso contínuo e mais frequente do que o tabaco”, explicam os pesquisadores. “Outro ponto interessante é que não houve evidências de que o uso de cigarros eletrônicos tenha diminuído o hábito de fumar desses jovens.”
Este é, no entanto, um estudo observacional e, como tal, não pode estabelecer a causa. Além disso, baseou-se na memória pessoal, portanto, pode estar sujeito a imprecisões. Mesmo assim, eles alertam que medidas abrangentes devem ser tomadas para reduzir o acesso dos adolescentes aos cigarros, sejam eles eletrônicos ou tradicionais, para diminuir a probabilidade de entrincheiramento entre os jovens que começam a fumar cedo.