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Novas lentes desaceleram progressão da miopia na infância

Tecnologias inovadoras como as lentes Zeiss MyoCare retardam a evolução do problema, enquanto hábitos protetores devem ser estimulados em casa

Por Ligia Moraes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 11 jul 2024, 15h44 - Publicado em 10 jul 2024, 18h55

A miopia, condição que causa dificuldades para enxergar à distância, está avançando pelo planeta- e rapidamente. A Organização Mundial da Saúde (OMS) prevê que, até 2050, esse distúrbio visual irá atingir metade da população global, ou seja, cerca de 4,7 bilhões de pessoas. As crianças, sobretudo pelo uso de telas e falta de exposição solar, intensificados após a pandemia, são as mais afetadas pelo problema

De acordo com um estudo da revista médica JAMA Ophthalmology, a maior referência científica na área, a prevalência da doença aumentou até 3 vezes em meninas e meninos de 6 a 8 anos em 2020, em comparação ao período de 2015 a 2019. Entre a população asiática, a prevalência da miopia é tão alta que alcança proporções epidêmicas, atingindo de 72% a 81% dos estudantes da escola secundária (11 a 17 anos).

A miopia e suas implicações  

A miopia ocorre quando a luz que entra no olho não é focalizada no local correto, o que faz com que objetos distantes sejam visualizados de maneira embaçada. Há aceleração na infância porque, nessa fase de crescimento, a presença da luz é ainda mais essencial ao órgão.

É na primeira década de vida que a curvatura e o comprimento do olho se desenvolvem de modo a pôr o foco no ponto correto. A luz solar estimula o enrijecimento da esclera, o arcabouço do olho — nos míopes, a esclera é mais elástica que o normal, o que provoca uma modificação no formato do órgão. Por ser mais ovalado, ele fica afeito ao foco em um ponto inadequado. 

O uso constante de smartphones contribui para o desenvolvimento da miopia porque, durante a visualização próxima – seja na leitura de um livro, seja no uso de dispositivos eletrônicos -, a lente natural do olho se avoluma para além do normal. Assim, a pressão ocular aumenta, empurrando a esclera, o que faz com que o foco das imagens não atinja a retina. 

Vale lembrar, todavia, que outros fatores de risco são responsáveis pela miopia, como explica a oftalmologista Júlia Rossetto, presidente da Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica (SBOP). “A miopia é multifatorial. Sabemos que o componente familiar é importante, o que explica a alta prevalência em populações asiáticas, por exemplo. E, se ambos os pais são míopes, a chance de a criança também ser aumenta em sete vezes”, explica.

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Novas soluções

Apesar da rápida deflagração da miopia, novas soluções prometem facilitar a vida de quem é afetado por esse distúrbio visual. Inclusive, novas lentes de marcas como Johnson & Johnson, CooperVision e Zeiss conseguem desacelerar a progressão da visão turvada.  

Recentemente, a empresa alemã lançou as lentes MyoCare que, segundo o gerente de Marketing e Produtos da Zeiss Vision Brasil, Widi Ortega, é um grande marco para atender as necessidades dessas crianças. “Estamos falando de aproximadamente dez anos de estudos para desenvolver um produto como esse”, afirma.

“Desenvolvemos duas lentes específicas: a MyoCare para crianças até 10 anos e o MyoCare S para aquelas de 10 a 17 anos. Nos testes, conseguimos reduzir a progressão da miopia em mais de 60%, comparado a crianças que não usaram as lentes”, revela Ortega. 

Resultados preliminares de um ensaio clínico realizado em parceria com o Wenzhou Medical University Eye Hospital, na China, com 232 crianças de 7 a 12 anos, mostraram que 16% das crianças que usaram as lentes Zeiss MyoCare não apresentaram crescimento axial (medida para avanço da miopia), diante de 7% entre aquelas que usaram lentes corretivas convencionais.

A inovação utiliza microestruturas que formam padrões de anéis na superfície frontal da lente, alternando zonas de desfoque e foco. Isso cria um efeito que impede a expansão do olho, enquanto proporciona uma visão nítida. “As lentes são adaptadas para diferentes idades e comportamentos, inclusive são ajustadas para acompanhar o crescimento das crianças e adolescentes, garantindo que continuem a fazer atividades normais, como brincar e estudar, sem prejuízo para a visão”, diz Ortega. 

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O executivo destaca que a Zeiss permite duas trocas das lentes em intervalos de seis meses, independentemente de alterações no grau da miopia ou astigmatismo.  “A criança, após seis meses de uso, deve ir ao oftalmologista, que faz uma nova prescrição, ajustando o grau conforme necessário”, esclarece. “Essa prática é um ponto importante, pois, no mercado como um todo, muitas empresas só autorizam a troca se houver uma alteração significativa no grau”, conclui. 

Hábitos saudáveis e prevenção 

Para mitigar o aumento da miopia infantil, existem importantes medidas preventivas que podem e devem ser adotadas. A médica Júlia Rossetto recomenda limitar o tempo de tela de acordo com a idade da criança.

Até 2 anos de idade, zero tempo de tela; de 2 a 6 anos, até uma hora por dia; de 6 a 10 anos, uma a duas horas por dia”, aconselha. Além disso, usar a maior tela possível e a uma distância maior, assim como intervalar o uso com outras atividades, de preferência ao ar livre, faz parte das orientações.

A detecção precoce também é importantíssima, porque os tratamentos propostos hoje são eficazes em desacelerar a progressão da miopia, mas não em revertê-la. Portanto, exames oftalmológicos completos e periódicos, especialmente para crianças com fatores de risco, são essenciais. Esses exames devem incluir a dilatação da pupila para um diagnóstico preciso e acompanhamento da progressão.

O controle da miopia infantil é um desafio global, e soluções como as lentes que retardam a progressão do distúrbio representam um avanço significativo na preservação da saúde ocular das crianças. A combinação de tecnologias inovadoras, com hábitos saudáveis e diagnóstico precoce, oferece o melhor caminho diante de uma pandemia capaz de comprometer a qualidade de vida.

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