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Mortes por Covid-19 em crianças são muito raras, confirma estudo

Feito na Europa, esse é o primeiro grande estudo a comprovar que o coronavírus causa predominantemente doenças leves nos pequenos

Por Da redação
Atualizado em 25 jun 2020, 20h13 - Publicado em 25 jun 2020, 19h38

Um estudo publicado nesta quinta-feira, 25, no periódico científico The Lancet Child & Adolescent Health comprovou que a Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, tende a ser leve em crianças e fatalidades são muito raras. De acordo com os pesquisadores do Instituto Great Ormond Street de Saúde Infantil da Universidade College London, no Reino Unido, que lideraram a análise, esse é o estudo mais abrangente sobre a doença em crianças feito até então.

Para chegar a essa conclusão, os cientistas analisaram 582 crianças e adolescentes, com idade entre 3 dias a 18 anos, da Europa. Todos os pacientes foram atendidos em hospital e realizaram teste PCR-RT para Covid-19. O estudo foi realizado durante um período de 3,5 semanas, de 1 a 24 de abril de 2020, ou seja, durante o pico inicial da pandemia na Europa.

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Os pacientes analisados vieram de 82 instituições de saúde especializadas em 25 países europeus. Os resultados mostraram que 62% dos pacientes precisaram ser internados no hospital e cerca de 8% precisaram de terapia intensiva. Apenas 25% tinham condições médicas pré-existentes. Isso contrasta com estudos em adultos, nos quais a proporção de pacientes com comorbidades é tipicamente muito maior. Mas os autores ressaltam que as crianças têm menos problemas médicos crônicos do que os adultos na população em geral.

Os resultados mostraram que o sintoma mais comum relatado foi febre (65% dos pacientes). Cerca de metade das crianças apresentava sinais de infecção do trato respiratório superior e um quarto apresentava evidências de pneumonia. Sintomas gastrointestinais foram relatados em 22%  das crianças e cerca de 30% dessas não apresentaram sequer sintomas respiratórios. Cerca de 92 crianças, a maioria das quais foram testadas devido ao contato próximo com um caso confirmado de Covid-19, eram assintomáticas.

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A maioria (67%) dos pacientes precisou ser internada, mas poucos (13%) precisaram de oxigênio ou qualquer outro suporte para ajudá-los a respirar em qualquer estágio. Menos de um em cada dez pacientes necessitou de tratamento em terapia intensiva e 4% – metade dos que foram para a UTI – precisavam de ventilação mecânica. Por outro lado, quando precisavam, esse apoio era tipicamente necessário por um período prolongado, geralmente por uma semana ou mais.

De acordo com os autores, embora a taxa de pacientes em UTI seja significativa, o fato de o estudo ser baseado em crianças que procuraram ajuda médica e foram testados para o Covid-19, e assim casos mais leves não teriam sido incluídos. “Nosso estudo fornece a visão mais abrangente da Covid-19 em crianças e adolescentes até o momento. Fomos tranquilizados ao observar que a taxa de mortalidade de casos em nossa coorte era muito baixa e provavelmente ainda é substancialmente mais baixa, dado que muitas crianças com doença leve não teriam sido levadas à atenção médica e, portanto, não incluídas neste estudo. No geral, a grande maioria das crianças e jovens experimenta apenas doenças leves. No entanto, um número notável de crianças desenvolve doenças graves e requer apoio de terapia intensiva, e isso deve ser levado em consideração ao planejar e priorizar os recursos de saúde à medida que a pandemia avança. ”, disse Marc Tebruegge, principal autor do estudo e pesquisador do Instituto de Saúde Infantil Great Ormond Street da UCL em Londres, Reino Unido.

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Quatro pacientes morreram durante o período do estudo, dois dos quais tinham condições médicas pré-existentes, o que corresponde a uma taxa de mortalidade de 0,69%. Todos os pacientes que morreram tinham mais de 10 anos de idade. Quando o estudo foi encerrado apenas 25 crianças ou 4% do total ainda apresentavam sintomas ou precisavam de apoio para a respiração.

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Tratamento

Em relação ao tratamento, o número de pacientes que recebeu terapias antivirais ou imunomoduladoras foi muito baixo para tirar conclusões sobre a eficácia de qualquer um dos tratamentos utilizados. Os autores alertam para a necessidade de ensaios clínicos robustos em crianças para ajudar os médicos a tomar decisões sobre a melhor estratégia de tratamento para crianças.

“Embora a Covid-19 afete crianças com menos gravidade do que os adultos em geral, nosso estudo mostra que existem casos graves em todas as faixas etárias. Aqueles que têm problemas de saúde pré-existentes e crianças com menos de um mês de idade têm maior probabilidade de serem admitidos em terapia intensiva. São necessários estudos controlados randomizados e bem projetados sobre medicamentos antivirais e imunomoduladores em crianças para permitir decisões baseadas em evidências a respeito do tratamento para crianças com Covid-19 grave.”, ressalta Florian Götzinger, do Wilhelminenspital de Viena, Áustria.

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Infecções simultâneas

Outro achado importante do estudo é que 29 (4,9%) crianças estavam infectadas com um ou mais vírus respiratórios ao mesmo tempo que o SARS-CoV-2, como vírus do resfriado ou gripe. Destas, 24% necessitaram de cuidados intensivos, em comparação com 7% das crianças infectadas apenas por coronavírus.

“Este é o primeiro estudo de crianças com Covid-19 a incluir dados de vários países e múltiplos centros. De notar, descobrimos que as crianças nas quais vírus adicionais foram detectados no trato respiratório ao mesmo tempo que a SARS-CoV-2 eram mais propensas a serem admitidas em terapia intensiva. Isso pode ter implicações importantes para a próxima temporada de inverno, quando as infecções por gripes e resfriados serão mais comuns. ”, disse Begoña Santiago-Garcia, do Hospital Universitário Gregorio Marañón, em Madri, na Espanha.

Na época em que o estudo foi realizado, a capacidade de teste em muitos países europeus era menor do que a demanda, e muitas crianças com Covid-19 e sintomas leves não foram testadas ou diagnosticadas. Além disso, os países estavam usando critérios diferentes para rastrear o vírus SARS-CoV-2. Alguns estavam examinando todas as crianças internadas no hospital, enquanto outros eram mais seletivos nos quais os pacientes receberam um teste.

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De acordo com os autores, essa falta de padronização dificulta a generalização dos resultados, mas a verdadeira taxa de mortalidade de casos em crianças é provavelmente substancialmente menor do que a observada neste estudo.

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