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Lipo HD promete o sonhado abdômen tanquinho à base de bisturi

A técnica que aspira gordura em volta dos músculos seduz quem quer ter corpo de atleta sem suar com exercícios

Por Bruna Motta
Atualizado em 4 jun 2024, 14h54 - Publicado em 13 dez 2019, 06h00

Engana-se quem pensa que a única receita para alcançar um visual de atleta — músculos definidos, barriga achatada, tanquinho no abdômen, bíceps proeminentes — é suar, suar, suar e suar mais um pouco na academia. Dá para ter tudo isso dormindo — sob anestesia peridural, ressalve-se. Produto do aprimoramento da lipoaspiração, procedimento estético que está completando quarenta anos como o mais popular no Brasil e no mundo, a lipo HD (de “alta definição”), feita com aparelhos mais sensíveis e indicada só a quem está em forma, promete esculpir e ressaltar o contorno anatômico dos músculos da barriga, cintura, braços e glúteos, produzindo o corpão atlético que vai chamar atenção na praia no verão que se aproxima.

Técnica inventada há cinco anos pelo médico colombiano Alfredo Hoyos, a lipo HD consiste em aspirar até o limite a gordura existente nas bordas do próprio músculo, o que faz com que ele ressalte sob a pele. O procedimento é realizado com cânulas mais grossas nas camadas mais profundas e mais delicadas na região imediatamente embaixo da pele, para evitar “buracos” na modelagem. Caso o paciente queira acrescentar à musculatura abdominal os gomos da barriga tanquinho, o médico os esculpirá um a um, reintroduzindo a gordura retirada. O cirurgião plástico Edgar Lopez, de São Paulo, conheceu a técnica no mesmo congresso em que Hoyos a apresentou, especializou-se nela e contabiliza atualmente uma média de trinta lipos HD por mês, 70% delas em mulheres. “Mas a média de homens no meu consultório é bem maior do que para a lipoaspiração em geral”, diz Lopez, que posta fotos de antes e depois nas redes sociais e tem meio milhão de seguidores.

O preço e a duração do procedimento variam conforme a área que vai ser redefinida, mas na maior parte das vezes ele não custa menos de 15 000 reais e não demora menos de duas horas e meia. No país vice-campeão de cirurgias plásticas, com mais de 80 000 por mês, esses dois fatores não chegam a desanimar — ainda que a aparência pós-lipo HD tenha lá seu traço de “bom demais para ser verdade”. O funcionário público Carlos Lima, de 35 anos, submeteu-se à intervenção em agosto, depois de anos de academia sem obter a musculatura desejada. Ao custo de 25 000 reais, redefiniu de uma só vez abdômen, costas, glúteos e braços. “A lista assusta mais do que o procedimento em si”, garante Lima, todo satisfeito com o resultado: “Consegui chegar aonde queria”.

Uma condição imprescindível para que a lipo HD dê resultado é o índice de massa corpórea do paciente não estar acima de 30 — o que admite um certo sobrepeso, mas exclui os obesos. “É uma lipo para quem está quase magro. As pessoas que têm muita gordura a retirar correm o risco de ganhar uma pochete, em vez de gominhos”, brinca o cirurgião plástico André Maranhão, do Rio de Janeiro, que se especializou há dois anos em lipo HD e diz que o movimento em seu consultório mais do que duplicou neste ano, devido à popularização crescente da técnica. Segundo Maranhão, só aspirando pouca gordura é possível definir contornos e “dar vida” à musculatura. Esse aspecto faz também com que o paciente tenha menos hematomas, recuperação rápida e curvas mais realistas do que na lipoaspiração convencional. Feito o procedimento, começa a malhação — só ela garante que o corpo de atleta adquirido na sala de cirurgia vai se manter intacto. “A pessoa precisa seguir com uma rotina regular de exercícios”, adverte Maranhão. Para a estudante Melissa Raquel, de 26 anos, que esculpiu o abdômen há dois anos, isso não foi sacrifício. “Ver no espelho meu corpo definido me fez ir muito mais à academia”, afirma. “O resultado passou de bom para excelente.”

Como todo procedimento médico, a lipo HD não é uma intervenção sem riscos. Níveo Steffen, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), faz um alerta sobre o cuidado na escolha de um profissional experiente e bem recomendado. “A lipo HD retira gordura da camada mais superficial sob a pele, e qualquer erro pode provocar aderências e aparência irregular”, explica. O aparelho de ultrassom usado para aquecer a gordura e facilitar sua aspiração pode causar queimaduras na pele se não estiver bem regulado, e o pós-operatório requer drenagem linfática, uso de malha compressora e fisioterapia. “É função da SBCP não vender ilusões”, argumenta Steffen. Tomadas essas providências, Pérciles Vitório, presidente da comissão de lipoaspiração da SBCP, recomenda ao paciente retomar sua rotina, inclusive de exercícios físicos, em duas semanas. “Voltar à vida normal estimula a evolução não só do corpo, mas também da mente”, diz. Fica a pergunta: será que vale mesmo a pena?

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(./.)

Publicado em VEJA de 18 de dezembro de 2019, edição nº 2665

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