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Hepatite: o número de infecções não para de crescer

Entender as diferenças entre os quatro tipos de hepatite é fundamental para conter a disseminação

Por Letícia Passos
Atualizado em 2 ago 2018, 14h30 - Publicado em 30 jul 2018, 16h53

As hepatites virais B e C – responsáveis por cerca de 60% dos casos de câncer de fígado – afetam 325 milhões de pessoas no mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, dados do novo relatório do Ministério da Saúde mostram que o número no país nunca foi tão alto: 587.821 casos de hepatite viral apenas em 2017. Em 2016, haviam sido 561.058, um aumento de 4,7%. Para este ano, a previsão é de 30.000 novos diagnósticos em relação a 2017. 

Os números são muito preocupantes, especialmente porque a hepatite é uma doença geralmente assintomática, o que dificulta o diagnóstico precoce. Além disso, quanto mais tardiamente acontece o tratamento, maiores são os riscos de desenvolver doenças mais graves, como câncer de fígado e cirrose hepática. Segundo a OMS o número de mortes causadas pelas hepatites virais já ultrapassou as do HIV: cerca de 1.340.000 portadores de HIV morrem anualmente, contra 1.750.000 óbitos em decorrência de complicações de hepatites.

Apesar dos avanços da medicina, a hepatite ainda é uma doença de difícil erradicação, pois só existe vacina para dois tipos (A e B). Sem a manifestação dos sintomas, muitos não sabem que estão infectados e tornam-se vetores da doença. Diante desse quadro, a melhor forma de evitar a doença ainda é a prevenção.

As diferenças entre as hepatites

A hepatite A, ou hepatite infecciosa, é uma doença contagiosa, causada pelo vírus A (HAV), cuja transmissão se dá por via fecal-oral, através do contato entre indivíduos, alimentos ou água contaminada. Apesar de geralmente não apresentar sintomas, a pessoa infectada pode sentir cansaço, tontura, enjoo, vômitos, febre, dor abdominal, pele e olhos amarelados (icterícia), urina escura e fezes claras. O aparecimento dos sintomas é comum entre o 15º e o 21º dia após a infecção. Na maioria dos casos, é uma doença de caráter benigno; entretanto, em 1% dos casos pode causar insuficiência hepática aguda grave, podendo levar à morte.

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Já a hepatite B, ou soro-homóloga, é causada pelo vírus B (HBV). Por ser transmitida através do sangue e outros fluídos corporais de pessoas infectadas, ela é considerada uma doença sexualmente transmissível (DST). A contaminação também pode acontecer durante a gestação, parto ou amamentação, caso a mãe tenha sido infectada pelo vírus. A hepatite B pode se desenvolver de duas formas: aguda (de curta duração) e crônica (mais de seis meses), que afeta principalmente as crianças: naquelas com menos de 1 ano, o risco é de 90%; entre 1 e 5 anos, varia entre 20% e 50%. Em adultos, o índice cai para 5% a 10%.

A hepatite C, chamada de “hepatite não A não B”, é causada pelo vírus C (HCV). Essa versão também pode ser transmitida pelo contato com sangue, entretanto, a contaminação pela gravidez ou por sexo são mais raras. Para homens que fazem sexo com homens que estejam infectados pelo vírus HIV, a transmissão da hepatite C por via sexual deve ser considerada um risco. Se a infecção persistir por mais de seis meses, o quadro pode evoluir para hepatite crônica – comum em 80% dos casos. A hepatite C crônica ainda pode causar cirrose hepática (20% dos infectados) e câncer de fígado (1% a 5%).

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Já a hepatite D, conhecida como Delta, é causada pelo vírus D (HDV), mas ele depende da presença do vírus da hepatite B para se reproduzir e causar a doença. A forma de transmissão também é semelhante à da B. Da mesma forma que as outras hepatites, os tipos C e D podem não apresentar sintomas.

Segundo o Ministério da Saúde, nos últimos dezoito anos, a Região Sudeste teve mais casos de hepatite B e C, enquanto no Norte do país predominam as hepatites A e D.

Vacinação

Uma das formas de prevenir as hepatites A e B é a vacinação. A vacina contra a hepatite A é oferecida em duas doses, que devem ser tomadas com intervalo de seis meses, sendo indicada para todas as pessoas a partir de 12 meses de vida. O imunizante, composto do vírus A inativado (morto), está disponível nas Unidades Básicas de Saúde e na rede privada. Alguns vacinados – de 20% a 50% – podem experimentar efeitos colaterais, como dor, eritema (vermelhidão) ou edema local; febre e fadiga ocorrem em menos de 5% dos vacinados.

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A vacina da hepatite B, composta da proteína de superfície do vírus B purificado, é oferecida em três doses e deve ser tomada com intervalo de um mês entre a primeira e a segunda dose e de seis meses entre a primeira e a terceira dose. Ela é recomendada para todas as faixas etárias, especialmente para gestantes não vacinadas. A imunização faz parte da rotina de vacinação das crianças e deve ser aplicada, preferencialmente, nas primeiras doze a 24 horas após o nascimento como forma de prevenir a hepatite crônica, que atinge 90% dos bebês contaminados ao nascer.

A vacina contra a hepatite B é oferecida tanto na rede pública quanto na rede privada. Em 30% dos casos é possível que  ocorram efeitos adversos, como dor no local da aplicação, inchaço e vermelhidão, febre cansaço, tontura, dor de cabeça, irritabilidade e desconforto gastrintestinal.

Segundo a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIM), ainda existe uma versão da vacina combinada para as hepatites A e B, composta do vírus A inativado (morto) e da proteína de superfície do vírus B. A vacina deve ser tomada por crianças a partir de 1 ano e adolescentes menores de 16 (duas doses com intervalo de seis meses);  e por indivíduos acima dos 16 anos (três doses, sendo a segunda aplicada um mês após a primeira, e a terceira, cinco meses após a segunda). 

Essa opção, que só está disponível na rede privada, também apresenta efeitos colaterais em cerca de 10% dos vacinados. Entre os sintomas estão reações no local da aplicação – como vermelhidão e inchaço por mais de 24 horas – e dor intensa, além de febre, dor de cabeça, mal-estar, cansaço, náusea e vômito. 

Todas as doses das vacinas precisam ser tomadas para que a imunização seja efetiva. Quem estiver imunizado contra a hepatite B também diminui o risco de desenvolver a D, uma vez que o vírus da hepatite D depende do vírus da hepatite B para se reproduzir e causar a doença. No entanto, ainda não existe vacina contra a hepatite C. “Os vírus da hepatite recebem este nome por afetarem o fígado, mas na verdade eles são diferentes entre si. O da hepatite C, por exemplo, é um vírus que tem muitas variantes e sofre diversas mutações, o que dificulta a produção de vacinas contra ele”, explica Hélio Torres Filho, da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica (SBPC) e diretor médico do Richet Medicina & Diagnóstico. 

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Prevenção

Além da vacina – que é a maneira mais eficaz de evitar a doença -, algumas medidas podem ser tomadas para prevenir a contaminação. A hepatite A é mais comum em área com saneamento básico precário e, portanto, a melhor prevenção é a higiene, ou seja, lavar bem as mãos antes de comer ou depois de usar o banheiro, lavar bem os alimentos consumidos crus, cozinhar bem a comida, lavar adequadamente pratos, copos, talheres e mamadeiras e não tomar banho ou brincar perto de riachos, enchentes ou perto de esgoto a céu aberto. No caso de ter um doente com hepatite A em casa, recomenda-se utilizar hipoclorito de sódio a 2,5% ou água sanitária ao lavar o banheiro.

Como as formas de transmissão das hepatites B, C e D são similares, a prevenção segue o mesmo padrão: não fazer sexo sem camisinha com uma pessoa infectada (principalmente com hepatites B e D), não compartilhar material de higiene pessoal, como lâmina de barbear, escovas de dentes, alicates de unha ou outros objetos cortantes; não compartilhar seringas, agulhas, cachimbos ou equipamentos de tatuagem e piercings. No caso das gestantes, que podem transmitir os vírus (B e D) ao bebê, durante o pré-natal deve-se fazer os exames para detectar a doença. Diante de um resultado positivo, é fundamental seguir todas as recomendações médicas, inclusive sobre o tipo de parto e amamentação. 

    Diagnóstico e tratamento

    O primeiro passo para o tratamento é o diagnóstico. No entanto, como a hepatite costuma ser assintomática, aconselha-se fazer o exame regularmente. “É fundamental visitar o médico pelo menos uma vez por ano”, recomenda Torres Filho.

    Muitos descobrem a doença indiretamente, quando estão investigando outros problemas de saúde. Esse foi o caso de Elaine Moraes dos Santos, de 39 anos e formada em relações internacionais. Ela é portadora de hepatite A. O diagnóstico ocorreu em meio a um episódio alérgico. Elaine procurou um especialista para tratar a alergia e saiu do consultório com a solicitação de um exame de hepatite. “Quando tive os sintomas, eu pensei que era uma virose, então tratei com analgésicos. Tive febre alta, enjoo, cansaço e diarreia ao longo de quatro dias. Não precisei de tratamento porque, quando descobri, já tinha passado.” 

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