Black Friday: Revista em casa a partir de 8,90/semana
Continua após publicidade

Febre oropouche avança no Brasil em sinal de alerta para a saúde pública

Após provocar as primeiras mortes, a doença transmitida por mosquitos leva a uma ampliação do monitoramento dos sistemas de vigilância

Por Paula Felix Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 2 ago 2024, 15h54 - Publicado em 2 ago 2024, 11h23

Em 2017, o ano em que se encerrava a emergência global pelo vírus zika e seu devastador rastro de 4 595 bebês nascidos com malformação craniana, uma voz se elevou para apontar o risco de outro patógeno propagado por insetos — e até então circunscrito à Região Norte — se disseminar e causar pânico. Em uma reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), o infectologista Luiz Tadeu Moraes Figueiredo, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, cravou: “O oropouche é um vírus que pode emergir a qualquer momento e provocar um sério problema de saúde pública”. Exatos sete anos depois, em meio a um surto de arboviroses encabeçado pela dengue, o Brasil se torna o primeiro país a registrar mortes pela doença e investiga episódios de microcefalia e morte fetal ligados à infecção. São elementos suficientes para que os sistemas de vigilância monitorem, cada vez com mais rigor, a moléstia transmitida por mosquitos que já se alastra por vinte e um estados, somando quase 7 300 casos.

O vírus oropouche é um velho conhecido do território amazônico e de alguns outros locais nas Américas. Descrito em Trinidad e Tobago em 1955, foi detectado no Brasil em uma amostra de uma fêmea de bicho-preguiça resgatada nas obras da rodovia Belém-Brasília em 1960. Desde então, surtos pipocaram de tempos em tempos por países como Equador, Panamá e Peru. “É uma zoonose que vinha se mantendo na natureza, entre os animais silvestres, e os casos humanos eram de pessoas que entravam na mata, mas agora ela se adaptou ao ciclo urbano”, diz Figueiredo. “Já tínhamos observado casos na região do Planalto Central, o que nos dava a ideia de que era uma arbovirose que vinha alargando a sua área de influência.”

arte febre oropouche

Com o maior surto de dengue da história brasileira, com 6,4 milhões de casos e 4 900 mortes, os holofotes se concentravam nas infecções transmitidas pelo Aedes aegypti, o mosquito mais adaptado para levar doenças aos humanos. Ocorre que, na surdina, outra patologia ganhava terreno e escala: uma enfermidade viral que tem como vetor uma pequenina mosca, apelidada de maruim ou mos­quito-­pólvora. Apesar do aumento na incidência da febre oropouche, a literatura médica pontuava que casos graves eram raros, sendo a complicação mais conhecida a meningite. Mortes não tinham sido notificadas até então. No mês passado, porém, a luz vermelha se acendeu.

O Ministério da Saúde apresentou, em uma nota técnica, os primeiros casos em investigação de microcefalia, aborto espontâneo e morte fetal, trazendo de volta o temor dos impactos do zika para as gestantes e seus bebês. Ao todo, são nove casos de transmissão da mãe para o filho em apuração. Houve reforço na orientação para monitoramento de registros de oropouche em grávidas e recomendação para uso de repelente e roupas que cubram a pele. A Organização Pan-­Americana da Saúde também se mobilizou e emitiu um alerta, considerando o fato de Bolívia, Peru, Cuba e Colômbia terem registro da infecção. Na última semana, a preocupação decolou com a confirmação da morte de duas mulheres com menos de 30 anos e sem doenças prévias, no interior da Bahia. Um terceiro óbito é investigado.

Continua após a publicidade
TEMOR - Microcefalia: investiga-se se a nova moléstia causa malformação congênita
TEMOR - Microcefalia: investiga-se se a nova moléstia causa malformação congênita (Juancho Torres/Anadolu Agency/Getty Images)

As notícias bateram na porta das autoridades sanitárias e suscitaram uma onda de medo. Mas há que ponderar e contextualizar o quadro. “Mortes podem ser registradas quando uma doença tem um número maior de acometimentos por causa das respostas individuais”, afirma o infectologista Jean Gorinchteyn, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. Ainda que o oropouche também seja transmitido pelo pernilongo comum (o Culex), não há indícios de que possa ganhar as mesmas proporções da crise do zika. O que não significa que a vigilância e as pesquisas possam dar trégua. “Até porque não se acreditava que ele fosse capaz de matar”, diz Figueiredo.

Nesse sentido, prospera a hipótese de que o vírus se rearranjou geneticamente com outros dois micróbios em circulação na Amazônia, o vírus de Iquitos e o de Perdões, ambos capazes de acometer humanos. “Mas ainda é cedo para afirmar se o oropouche modificado pode levar a sequelas mais complexas”, declarou o biólogo Renato Santana, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que conduziu o estudo junto ao laboratório Hermes Pardini a partir de amostras colhidas em estados afetados. Para evitar que a história se repita como tragédia, a prudência manda ter cautela. Ouvir as vozes da ciência é vital.

Publicado em VEJA de 2 de agosto de 2024, edição nº 2904

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Semana Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

Apenas 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (a partir de R$ 8,90 por revista)

a partir de 35,60/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.