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EUA e Rússia dão largada à imunização de animais contra a Covid-19

Cães, gatos, gorilas, tigres e ursos estão entre os protegidos. De recompensa, eles ganham marshmallows e sorvete

Por Paula Felix
Atualizado em 4 jun 2024, 13h21 - Publicado em 13 nov 2021, 08h00

Depois de mais da metade da população de seres humanos do planeta ter tomado ao menos uma dose das vacinas contra a Covid-19, agora começa a corrida para proteger os animais. Na Rússia e nos Estados Unidos, pets domésticos e bichos vivendo em zoológicos começaram a receber as injeções de imunizantes. Há dois objetivos na iniciativa. Primeiro, impedir que eventuais infecções evoluam para quadros preocupantes da enfermidade. Segundo, atenuar o risco de ocorrência de mutações no SARS-CoV-2, o vírus responsável pela Covid-19, no organismo animal. Cada vez que um vírus passa de uma espécie para outra, a probabilidade de isso ocorrer é significativa e uma dessas transformações pode criar uma versão habilitada a contaminar o humano com graus de transmissibilidade e de letalidade elevados.

Não se pode esquecer que pelo menos 75% das doenças infecciosas emergentes são de origem animal, incluindo a Covid-19. “Hoje, mais do que nunca, podemos ver a importante conexão entre a saúde animal e a saúde humana”, ressaltou a Organização Mundial da Saúde em seu posicionamento sobre o tema. Até agora, o que se sabia sobre a Covid-19 em animais é que a doença não se manifestaria neles de forma tão agressiva quanto em humanos. Um estudo realizado no Brasil pelo Laboratório de Pesquisa Clínica em Doenças Febris Agudas do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz) confirmou essa percepção, registrada em estudos semelhantes feitos no mundo. O pesquisador Guilherme Calvet analisou, entre março e outubro do ano passado, 21 pacientes com diagnóstico de Covid-19 e seus 39 animais de estimação, dos quais 29 eram cães e dez eram gatos. “Os resultados demonstram que, de 21 domicílios diferentes, quase a metade apresentava um ou mais animais de estimação positivos para SARS-CoV-2”, informou. Foram nove cachorros (31%) e quatro gatos (40%) infectados ou expostos ao vírus. Os animais obtiveram resultados de RT-PCR positivos de onze a 51 dias após o aparecimento dos primeiros sintomas de seus tutores. A literatura registra que a carga viral nos bichos é baixa e que os sinais por eles manifestados são leves, como coriza e tosse.

arte pets

Uma pesquisa publicada na semana passada, no entanto, sugere que pode haver exceções a esse quadro. Um time de cientistas ingleses e franceses identificou, pela primeira vez, um cachorro e dois gatos infectados pela variante alfa do SARS-CoV-2, surgida no Reino Unido. Os pets manifestaram miocardite (inflamação do músculo cardíaco) entre três e seis semanas depois de seus tutores testarem positivo para a doença.

Outro ponto é que até o momento não há indícios de que os animais transmitam o vírus para seres humanos. O que ocorre é o contrário, com tutores infectando os animais. “Os gatos são mais suscetíveis à infecção do que os cães. Em condições controladas de laboratório, verificou-se que os felinos podem transmitir o vírus para seus companheiros de espécie. No entanto, não está comprovada a transmissão do novo coronavírus de cães para outros cachorros ou gatos”, diz Guilherme Calvet.

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NAS MÃOS DA CIÊNCIA - Nos EUA, campanha nos zoos: furão protegido -
NAS MÃOS DA CIÊNCIA - Nos EUA, campanha nos zoos: furão protegido – (Zoetis/Oakland Zoo/.)

Apesar da baixa gravidade das manifestações clínicas da Covid-19 em bichos, tornou-se clara a necessidade de uma vacina indicada a eles. Em abril, a Rússia registrou o primeiro imunizante, fabricado pelo Centro Federal de Saúde Animal da Rússia. A Carnivac-CoV tem como alvo cães, gatos, visons e raposas. No país, o mercado de pele de animais é um nicho importante e serviu de alerta o caso dos 17 milhões de visons abatidos na Dinamarca, no ano passado, por causa de linhagens do vírus que sofreram mutações e infectaram algumas pessoas.

Nos Estados Unidos, desde julho mais de 100 espécies de mamíferos abrigados em zoológicos, santuários e instituições acadêmicas começaram a receber uma vacina experimental fabricada pela Zoetis, empresa com foco em saúde animal. Sua criação se deu após uma solicitação do Zoológico de San Diego. Em janeiro, os cuidadores depararam com gorilas infectados. Os animais, idosos, apresentavam tosse leve, secreção nasal e letargia. Com a autorização do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, tigres, ursos-negros, leões da montanha, furões e ursos-pardos foram os primeiros a ser imunizados. De recompensa pela picada, receberam esguichos de leite de cabra, marshmallows e sorvete. A vacina é experimental e, segundo informações da fabricante a VEJA, 26 000 doses estão sendo doadas a organizações de catorze países. Por aqui, não há movimentação em relação à proteção de animais. No Zoológico de São Paulo, o maior da América Latina, os bichos não estão sendo vacinados e, segundo a instituição, não há previsão para que isso ocorra. Mas é muito bom que a preocupação com os animais exista.

Publicado em VEJA de 17 de novembro de 2021, edição nº 2764

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