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Estudo brasileiro revela qual etnia dorme melhor

Apresentado no 17º Congresso Mundial do Sono, trabalho científico usou testes de DNA para cruzar ancestralidade e padrões de sono dos participantes

Por Diego Alejandro
11 dez 2023, 17h00

Você já se perguntou o motivo de dormimos de formas diferentes? Mais horas, menos, de bruços, de lado, babando, roncando… para tantos padrões, há várias explicações. Inclusive, a ancestralidade genética. Pesquisadores do Instituto do Sono e da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) realizaram um estudo para detectar variações na estrutura de sono de três grupos étnicos e concluiu que os indígenas e orientais são os que dormem melhor entre as etnias avaliadas.

O estudo Padrões de sono segundo uma etnia geneticamente determinada na população de São Paulo foi apresentado no 17º Congresso Mundial de Sono, realizado em outubro, no Rio de Janeiro. Os pesquisadores analisaram 1.006 indivíduos que participaram do Estudo Epidemiológico do Sono de São Paulo (EPISONO), realizado em 2007. 

Todos responderam a questionários, realizaram polissonografias completas e tiveram amostras de sangue coletadas para a extração de DNA. Então, foram selecionados 31 marcadores informativos da ancestralidade dos participantes – o que torna o grande diferencial deste trabalho científico, uma vez que boa parte dos estudos avaliam o sono com base na etnia autorreferida e não a base genética da amostra pesquisada.

Melhor sono

Todos os grupos étnicos apresentavam apneia obstrutiva do  sono e insônia em grau leve. “Como os participantes vivem em uma metrópole, acreditamos que fatores não genéticos podem explicar a existência desses distúrbios de sono, como o tipo de alimentação, a frequência de prática de atividade física, o estilo de vida, o tabagismo e a falta de acesso a serviços de saúde”, afirma a médica Dalva Poyares, pesquisadora do Instituto do Sono e uma das autoras do estudo.

Os indígenas e orientais foram os que dormiram melhor entre os três grupos examinados. Os resultados dos testes de polissonografia revelaram que este grupo demorou menos tempo para pegar no sono (11 minutos e 68 segundos), teve maior duração de sono do que os demais (350 minutos e 62 segundos) e acordam mais cedo. A eficiência de sono, calculada pelo tempo que a pessoa fica na cama comparado ao tempo que a pessoa dorme, deste grupo foi de 84,91%, a mais alta entre todas as etnias.

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(Instituto do Sono (UNIFESP)/Divulgação)

Já os afro-brasileiros são os que dormem menos tempo durante a semana e cochilam mais. Em compensação, a etnia branca tem mais queixas de insônia e toma mais medicamentos para dormir.

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(Instituto do Sono (UNIFESP)/Divulgação)
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Classe social

A pesquisa também investigou a classe social de cada participante, tendo em vista que a relação entre sono e etnia é influenciada pela condição econômica do indivíduo.  Os dados evidenciam que 70,9% dos afro-brasileiros pertenciam às classes média e baixa, uma porcentagem bem acima dos indígenas e orientais (50,5%) e dos brancos (40,2%). E foi este grupo étnico que apresentou o pior padrão de sono em relação aos outros.

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Essa constatação é compatível com a literatura médica. Vários estudos identificaram minorias étnicas com baixo nível socioeconômico como apresentando pior qualidade de sono e maior risco de distúrbios de sono.

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Mesmo quando o fator socioeconômico foi controlado, ainda podem ser observadas diferenças entre as etnias nos padrões de sono e na frequência de distúrbios de sono. Para Dalva, o fato de pertencer a um grupo étnico pode tornar o indivíduo mais suscetível a um distúrbio de sono. “Nos Estados Unidos, a comunidade hispânica é tão pobre quanto a população afro-americana, mas o padrão de sono dos hispano-americanos é melhor do que o dos afro-americanos”, comenta a especialista.

Outra descoberta importante foi a de que os brancos apresentaram melhor qualidade de sono do que os afro-brasileiros, embora tivessem mais apneia obstrutiva do sono e movimento periódico das pernas. De acordo com a especialista, este fato ocorre porque 59,7% dos brancos representados no estudo pertenciam à classe alta e eram mais velhos.

“Essas pessoas têm alto poder aquisitivo o que possivelmente permite que consigam dormir mais tempo, ter um sono mais eficiente e melhor acesso à saúde”, diz. “Esses e outros achados sugerem que a influência no sono não é um princípio socioeconômico ou étnico, mas sim uma questão que engloba ambas as variáveis”, complementa.

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