Em um ano, casos de hepatite A saltam 54,5% no Brasil; saiba como prevenir
Aumento foi influenciado por alta de casos no sul, sudeste e centro-oeste; Falta de saneamento básico é um dos principais fatores de risco para a doença

Em apenas um ano, o Brasil registrou um aumento de 54,5% nos casos de hepatite A, doença transmitida principalmente pela falta de saneamento básico. Segundo o mais recente Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde, a taxa de incidência passou de 1,1 para 1,7 caso por 100 mil habitantes em 2024, na comparação com o ano anterior.
As regiões sul, sudeste e centro-oeste foram as que puxaram esse aumento. No Sul, por exemplo, a taxa chegou a 3,3 casos por 100 mil habitantes, um salto de 50%. No Sudeste, o crescimento foi de 57,1%, e no Centro-Oeste, o número de casos subiu 350% em relação a 2023.
Apesar dessa alta recente, as regiões norte e nordeste continuam concentrando a maioria dos casos da doença. Entre 2000 e 2024, mais da metade dos diagnósticos confirmados (53,7%) vieram dessas áreas. Os estados com mais registros no período foram Amazonas, Paraná e Minas Gerais.
Os dados também revelam uma concentração crescente de óbitos entre idosos. Dos 27 óbitos registrados no ano passado, a maior parte ocorreu em indivíduos com 60 anos ou mais. E apesar da doença afetar historicamente mais crianças, os dados revelam o declínio das infecções nos pequenos, possivelmente relacionado à ampliação da vacinação infantil contra a hepatite A, incluída no calendário nacional desde 2014.
O que é hepatite A e como acontece a transmissão?
A hepatite A é uma inflamação no fígado causada por um vírus (HAV). A principal forma de transmissão é pela chamada via fecal-oral. Ou seja, quando a pessoa entra em contato com água ou alimentos contaminados com fezes de alguém infectado. A maioria dos casos ocorre por falta de saneamento básico e de higiene adequada.
A transmissão também pode ser facilitada por situações de convívio próximo, como entre pessoas que moram juntas, em instituições como creches e casas de repouso, ou ainda por meio de práticas sexuais que envolvem contato com a região anal.
Sintomas
Embora, na maioria dos casos, a hepatite A seja autolimitada — ou seja, o próprio organismo consegue eliminar o vírus com o tempo —, ela pode causar sintomas incômodos e, em alguns casos, evoluir para quadros mais graves, como hepatite fulminante.
Os sintomas nem sempre aparecem, mas quando surgem, costumam ser parecidos com os de outras doenças comuns, o que pode dificultar o diagnóstico. Os primeiros sinais incluem:
- Cansaço excessivo
- Sensação de mal-estar
- Febre
- Dores no corpo, especialmente musculares
Depois desses sinais iniciais, podem aparecer também sintomas no sistema digestivo, como:
- Enjoo
- Vômitos
- Dor na barriga
- Prisão de ventre ou diarreia
Um dos sinais mais característicos da doença, contudo, é a urina escura, que costuma surgir antes da icterícia, quando a pele e os olhos ficam amarelados. Esses sintomas geralmente aparecem entre 15 e 50 dias após a infecção e duram menos de dois meses.
A gravidade da doença pode variar de acordo com a idade. Em crianças com menos de 6 anos, muitas vezes a hepatite A não dá sinais, passando despercebida. Já em adultos, especialmente os com mais de 50 anos, os sintomas tendem a ser mais fortes e o risco de complicações é maior.
Vale ressaltar que mesmo em casos assintomáticos, a pessoa contaminada pode transmitir o vírus. Por isso, a prevenção continua sendo importante.
Mas afinal, como prevenir?
A vacinação – distribuída gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) – é, de longe, a principal fora de prevenção contra a hepatite A. Ela é aplicada em dose única, preferencialmente aos 15 meses de idade. No entanto, se necessário, pode ser dada a partir dos 12 meses até antes dos 5 anos completos (4 anos, 11 meses e 29 dias).
Além das crianças, a vacina também é indicada para pessoas com maior risco de complicações, como:
- Quem vive com HIV ou hepatites B e C;
- Transplantados e pessoas com imunidade comprometida;
- Usuários da PrEP (Profilaxia Pré-Exposição ao HIV).
Além do imunizante, alguns cuidados simples também ajudam a evitar a contaminação:
- Lave bem as mãos, especialmente após ir ao banheiro, trocar fraldas e antes de preparar alimentos;
- Lave frutas, legumes e verduras em água corrente. Se for consumir esse tipo de alimento cru, uma dica do próprio Ministério é deixá-los de molho por 15 minutos em uma solução feita com 1 litro de água e 1 colher de sopa rasa (10 ml) de água sanitária sem perfume e própria para alimentos;
- Evite brincar ou tomar banho em locais com esgoto a céu aberto, como valões, enchentes e chafarizes urbanos;
- Cozinhe bem os alimentos, principalmente frutos do mar, peixes e carne de porco;
- Lave com cuidado pratos, copos, talheres e mamadeiras;
- Durante as relações sexuais, use preservativo (interno ou externo) e higienize as mãos, genitais e região anal antes e depois.