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É urgente reduzir consumo nocivo de álcool a nível global, diz estudo

Indústria do álcool é grande obstáculo para o Plano Global de Ação para o Álcool (2022-2030), da ONU, que não possui mecanismos de fiscalização ou sanção

Por Ligia Moraes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 7 Maio 2024, 16h54 - Publicado em 28 fev 2024, 16h28

Esforços internacionais são urgentemente necessários para atender às metas estabelecidas no Plano Global de Ação para o Álcool (GAAP) até 2030, segundo especialistas em saúde pública da Universidade de York, na Inglaterra. No estudo, publicado nesta terça-feira, 27, no periódico BMJ Global Health, os cientistas afirmam que as iniciativas devem partir, principalmente, de lideranças de países de baixa e média renda, onde o mercado de bebidas alcóolicas se expande rapidamente e a infraestrutura de saúde e outros recursos essenciais são escassos.

O Plano Global de Ação para o Álcool (GAAP), da Organização Mundial da Saúde (OMS), foi endossado pela 75ª Assembleia Mundial da Saúde, em maio de 2022, com o objetivo de implementar, como prioridade de saúde pública, uma estratégia global de redução do uso nocivo do álcool. O documento compreende áreas de ação e, para cada uma delas, são propostos indicadores de nível mundial para monitorar a implementação. Atualmente, 35 Estados Membros das Américas são acompanhados pela OMS e pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).

Menos marketing e reformulação de produtos

Para funcionar, o Plano exige que os operadores econômicos ajam rigorosamente para, por exemplo, restringir a exposição de marketing a menores de idade e reformular produtos. Além disso, os governos, como um todo, deveriam agir rapidamente para cumprir as metas, o que requer priorização e liderança política. 

Os autores do estudo afirmam, porém, que nenhuma das metas é respaldada por sanções ou mecanismos de fiscalização. Por isso, a indústria de álcool, que “anteriormente teve sucesso em atrasar a adoção de políticas baseadas em evidências em todo o mundo”, deve continuar desafiando a implementação das medidas incluídas no GAAP.

A indústria é parte do problema 

Há muito tempo, o álcool é objeto de conflitos de interesses interdepartamentais nos governos, com a Saúde, frequentemente, perdendo  influência para o Comércio e a Indústria. Isso ajuda a explicar o porquê houve poucos sinais de movimento nas áreas-chave de ação, desde a adoção formal do Plano pela Assembleia Mundial da Saúde em 2022.

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O GAAP considera os operadores econômicos, envolvidos na produção e comércio de álcool, partes significativas do desafio associado ao consumo. Os cientistas, no entanto, defendem uma abordagem cautelosa – mas, eficiente – em relação ao papel desses operadores no contexto do Plano de Ação Global para o álcool.  

Para os pesquisadores, no entanto, existem poucos indícios de que o GAAP tenha estimulado inovações políticas significativas por parte dos Estados Membros, ou mesmo atividades para as quais ações foram propostas. O estudo prevê que, mesmo se esses esforços forem feitos, os países enfrentariam uma grande oposição das principais empresas de álcool e de seus representantes; a menos que o próprio GAAP induza uma mudança nas abordagens da indústria em relação à política. Assim, é fato que a incerteza em relação às medidas, se seriam suficientes para atingir os objetivos de 2030, permanece. 

Os estudiosos alertam ainda que  “a nível global, o fracasso em alcançar a meta de 2030 significará que milhões mais serão condenados a morrer desnecessariamente porque o mandato dos governos do mundo, agindo juntos na Assembleia Mundial da Saúde, não foi respeitado pelos principais intervenientes em uma poderosa indústria globalizada”. 

No Brasil 

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Uma pesquisa do Ministério da Saúde apontou um aumento de 18,4% para 20,8% no consumo excessivo de álcool no país entre 2021 e 2023. Entre os homens, foi registrada alta de 25% para 27,3% no período. Já entre as mulheres, o crescimento foi de 12,7% para 15,2%. Vale pontuar que o consumo abusivo de álcool ocorre quando homens ingerem cinco ou mais doses, e mulheres bebem quatro ou mais doses, em uma única ocasião no mês.

Outra análise, feita a partir dos resultados do Covitel (Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas Não Transmissíveis em Tempos de Pandemia) e de um teste da OMS (Organização Mundial da Saúde), mostra que 6 milhões de brasileiros, ou 4% da população adulta, têm um padrão que indica consumo perigoso de bebidas alcoólicas, com risco de dependência.

Ainda relacionado aos impactos da pandemia, o número de mortes por transtornos mentais associados ao uso abusivo de álcool vem crescendo, com média de 8,5 mil óbitos anuais no período de 2020 a 2022, um aumento de 33% em relação a 2019, quando esse número ficou em 6,4 mil. Os mais afetados são os brasileiros mais velhos, sobretudo, os idosos.

Principais metas do Plano de Ação Global sobre Álcool 2022-2030: 

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  • Até 2030, deve haver uma redução relativa de pelo menos 20% (em comparação com 2010) no uso nocivo do álcool.
      •  Até 2030, 50% dos países devem possuir capacidade reforçada para a implementação de estratégias e intervenções eficazes para reduzir o uso nocivo do álcool.
      •  Até 2030, 50% dos países devem possuir capacidade reforçada nos serviços de saúde para fornecer intervenções de prevenção e tratamento de doenças e problemas relacionados ao uso do álcool, alinhada com os princípios da cobertura universal de saúde.
      • Até 2030, pelo menos 50% dos países devem possuir recursos dedicados a redução do uso nocivo do álcool mediante a implementação de políticas e o aumento da cobertura e da qualidade das intervenções de prevenção e tratamento dos transtornos causados pelo uso dessas substâncias.
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