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Crianças com obesidade podem tomar remédio para emagrecer? Estudo explora potencial

Pesquisa testou liraglutida - parente da semaglutida, mas de uso diário - em crianças de 6 a 12 anos e demonstrou resultados promissores. Especialista comenta

Por Diogo Sponchiato Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 12 fev 2025, 14h00

Calcula-se que uma em cada cinco crianças esteja acima do peso no mundo – e esse número segue uma curva ascendente. Para deter a obesidade e os riscos à saúde que ela representa, os especialistas prescrevem mudanças na dieta e no estilo de vida. No entanto, esse plano nem sempre é suficiente e a criança não consegue emagrecer. Será que medicamentos poderiam ser uma forma eficaz e segura de intervir nessa história? Um novo estudo buscou respostas.

A pesquisa, recém-publicada no prestigado periódico médico The New England Journal of Medicine, avaliou, entre 82 crianças de 6 a 12 anos, o potencial de uma medicação chamada liraglutida. Trata-se de um representante da classe dos análogos de GLP-1, substâncias que imitam um hormônio produzido pelo corpo e propiciam perda de peso e controle dos níveis de açúcar no sangue.

O remédio, aplicado diariamente com uma caneta injetável, já está há mais de uma década no mercado, e é parente do Ozempic e do Wegovy, cujo princípio ativo semaglutida também é um análogo de GLP-1, mas de efeito semanal. O objetivo do estudo, financiado pelo laboratório fabricante Novo Nordisk, foi testar a segurança e eficácia do tratamento quando somado às intervenções no estilo de vida – para tanto, um grupo de pacientes tomou a medicação e outro ficou com uma dose placebo (sem o princípio ativo em si).

Faz sentido investigar essa perspectiva de encorpar o arsenal terapêutico diante da obesidade infantil. “Hoje, no Brasil, assim como em vários países, as medicações para obesidade só são liberadas a partir dos 12 anos. E, infelizmente, em algumas situações, iniciar o tratamento com essa idade já pode ser tarde. A criança chega com o peso muito elevado e teria tido benefícios caso o tratamento fosse iniciado mais precocemente”, contextualiza o endocrinologista pediátrico Fabiano Sandrini, do Departamento de Pediatria da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabolologia (Sbem).

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Os resultados do experimento

A principal conclusão do trabalho foi que, entre crianças de 6 a 12 anos, a utilização da liraglutida ao longo de pouco mais de um ano – sempre aliada à mudança de hábitos – propiciou uma maior redução do índice de massa corporal (IMC) em comparação ao grupo que se restringiu às orientações para o estilo de vida. Cabe pontuar que os participantes do estudo não tinham obesidade provocada por outra doença ou alteração genética específica.

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“As crianças que receberam a medicação apresentaram uma diminuição de quase 6% do IMC, o que é significativo”, afirma Sandrini, também professor da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. “No período avaliado, 40% dos participantes perderam quase 5% do peso e quase 1/3 deles eliminou quase 10%.”

O índice de efeitos colaterais foi mínimo, não representando um obstáculo à terapia medicamentosa. “São dados bastante promissores para que, em um futuro próximo, possamos iniciar o tratamento já em crianças a partir dos 6 anos de idade”, analisa o médico da Sbem.

“Mudanças no estilo de vida e na alimentação ainda são a base do tratamento da obesidade, mas, muitas vezes, elas não permitem reverter a condição na infância. Para esse grupo de pacientes, é preciso pensar em alternativas terapêuticas”, complementa o professor. “O uso de medicação para a obesidade, portanto, deve ser pensado quando os ajustes na dieta e nos hábitos não estão dando resultados eficientes.”

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A importância de intervir mais cedo

O grande problema da obesidade infantil é que ela eleva as chances de alguém conviver com o excesso de peso e os problemas de saúde associados a ele ao longo da vida. “A obesidade na infância é um preditor de obesidade na adolescência e da continuidade do quadro na fase adulta”, diz Sandrini.

“E sabemos que ela está ligada a várias doenças graves, como diabetes, problemas hepáticos e cardiovasculares e até alguns tipos de câncer”, observa o endocrinologista. Por tudo isso, a condição tende a diminuir não só a qualidade, mas também a expectativa de vida.

“O uso de uma medicação nesse contexto, com a devida indicação médica e ausência de contraindicações, visa tratar uma doença, cuja persistência levará a outras doenças e complicações na vida adulta”, reforça Sandrini. “Não se trata de um fim estético, mas a reversão da obesidade pode ainda melhorar a autoestima da criança.”

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Outros estudos estão em curso para mensurar o efeito da semaglutida entre crianças e adolescentes acima do peso. Os resultados dessas pesquisas poderão impactar, nos próximos anos, as diretrizes terapêuticas para a obesidade infantil.

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