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Coronavírus: novo estudo condena uso de cloroquina em doses elevadas

Pesquisa brasileira publicada no JAMA teve de encerrar a amostragem com apenas 81 análises por segurança dos pacientes

Por Da Redação Atualizado em 25 abr 2020, 12h37 - Publicado em 25 abr 2020, 12h21

Nesta sexta-feira, 24, um dia após o Conselho Federal de Medicina, autorizar o uso de cloroquina e hidroxicloroquina em pacientes com quadros de Covid-19, um estudo brasileiro que desaconselha o uso da cloroquina para o tratamento da doença foi publicado no periódico JAMA, uma das revistas médicas mais respeitadas em todo o mundo.

O trabalho foi realizado no Hospital e Pronto-Socorro Delphina Rinaldi Abdel Aziz, em Manaus, e foi liderado pelo infectologista Marcus Lacerda, com a participação da intensivista Luhdmila Hajjar, do Hospital das Clínicas, em São Paulo. Tinha a intenção de analisar como se daria a recuperação de 440 pacientes com quadros confirmados e suspeitos de Covid-19 após o uso de cloroquina combinado com azitromicina e oseltamivir (Tamiflu). Dividiu os participantes em dois grupos; um que receberia doses altas de cloroquina (600 miligramas, duas vezes por dia) durante 10 dias; e o outro que receberia doses menores (inicialmente 450 miligramas duas vezes ao dia no primeiro dia, diminuindo para 450 miligramas uma vez ao dia por 4 dias).

Inicialmente, a pesquisa pretendia analisar 440 pessoas, mas com “a ocorrência de eventos adversos graves”, foi encerrada após a análise de apenas 81 indivíduos. No período, seis dos quarenta inscritos no grupo de doses baixas tinham morrido, uma média de 15%. Já na equipe que tomou as doses mais altas, dezesseis dos 41 vieram a óbito, 39% do total. Há também o relato do aumento de possibilidade de arritmias em 4 de 36 pacientes com doses mais baixas e 7 de 37 pacientes do grupo de altas doses. Dois pacientes do grupo de altas doses também apresentaram taquicardia ventricular — condição em que o coração bate muito rapidamente. As mortes, vale dizer, não estão necessariamente relacionadas aos acometimentos cardíacos.

O estudo afirma que a idade dos pacientes pode ter sido fator agravante para os quadros de saúde. Além disso, há também o desaconselhamento de que sejam feitos estudos semelhantes em pacientes cardiopatas, ou que façam uso de medicamentos para o coração.

O estudo sugere, portanto, que doses mais altas de cloroquina não devem ser recomendadas a pacientes no tratamento de Covid-19 em estágio grave, especialmente em combinação com azitromicina e Tamiflu (oseltamivir). A decisão é baseada  justamente no aumento do risco de arritmias cardíacas e de letalidade. Entretanto, o documento não estende o desaconselhamento aos casos leves.

Por conta do encerramento precoce dos exames, não foi possível detectar qualquer benefício geral em relação à eficácia do tratamento, diz o documento.

Em editorial publicado pela revista, é lembrado que diversos outros estudos estão em andamento sobre o tratamento de Covid-19 com cloroquina e que devem oferecer “informações cruciais” sobre a correlação entre a doença e a droga. Ainda assim, a revista informa que o estudo brasileiro “deve levar algum grau de ceticismo às alegações entusiásticas sobre a cloroquina e talvez servir para coibir o uso excessivo”.

Os pesquisadores sugerem que pesquisas futuras acerca do uso da cloroquina em casos de Covid-19 levem em conta ensaios clínicos com o medicamento usado como forma de precaução e em pacientes com doenças leves ou moderadas. 

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A pesquisa conta com membros da Fundação de Medicina Tropical Doutor Vieira Dourado, das Universidades de São Paulo, do Estado do Amazonas e das Federais do Mato Grosso do Sul e de Santa Maria, da Fiocruz, entre outros.

Agência internacional

Ainda nesta sexta-feira, 24, a agência reguladora de alimentos e drogas dos Estados Unidos (FDA, na sigla em inglês) emitiu nesta sexta-feira, 24, um alerta contra o uso de cloroquina e hidroxicloroquina no tratamento do novo coronavírus. Segundo o órgão, os medicamentos podem causar anormalidades perigosas no ritmo cardíaco de pacientes com Covid-19 e devem ser usados ​​apenas em testes clínicos ou em hospitais nos quais os doentes possam ser monitorados.

 

 

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