Coronavírus: as diferenças no perfil da pandemia no Brasil e EUA
O ritmo na aceleração de novos casos e mortes pela doença é menor entre os brasileiros
Ainda que guardem semelhanças numéricas e territoriais (ambos são países com extensões continentais), a análise na linha do tempo da pandemia do novo coronavírus mostra que há grandes diferenças em relação ao perfil da doença nas duas nações.
Levantamento de dados feito por VEJA aponta que a média móvel de casos diários nos EUA chegou ao patamar de 30.000 registros no dia 7 de abril, pouco mais de dois meses após a confirmação do primeiro infectado conhecido no país. No Brasil, no entanto, passaram-se quase quatro meses até chegar próximo do patamar de 30.000 segundo a média móvel. A cotação só foi atingida na segunda quinzena de junho (veja abaixo o gráfico com as médias diárias de casos e mortes).
Os Estados Unidos chegaram a ter um período de quase dois meses de retração no registro de casos, com média móvel chegando aos 21.000 novos diagnósticos em 9 de junho. Mas a tendência durou pouco e deu lugar a um ritmo acelerado de crescimento — puxado por regiões como a Flórida — levou a uma preocupante média de 67.158,3 casos diários em 19 de julho. Trata-se de um número três vezes maior, atingido em pouco mais de um mês. Os últimos quatro dias registraram os maiores valores de média móvel de novos casos do país na pandemia.
- Leia também – Pandemia no Brasil: O cenário previsto para os próximos meses.
No Brasil, os maiores patamares ocorreram até a casa de aproximadamente 37.000 casos diários. Nessa média móvel, o país ficou desde o dia 28 de junho — os últimos dados aferidos neste domingo, 19, no entanto, apontam inclusive para uma leve queda, aos 33.386,9 casos diários. Trata-se do cenário de platô, quando a pandemia atinge um patamar de estabilidade.
O primeiro caso confirmado do novo coronavírus nos EUA ocorreu em 21 de janeiro, praticamente um mês antes do primeiro teste positivo para a Covid-19 no Brasil. O espraiamento da doença, atingindo diferentes regiões com intensidades díspares foi semelhante nas duas nações. Em ambos os casos, ainda não houve regressão geral e consistente da pandemia. Aqui, há a indicação de um platô de casos e mortes. Lá, há um preocupante movimento crescente de registros de infecção e óbitos pela doença.
Mortes
Quando avaliam-se os óbitos, os EUA também sofrem uma aceleração mais severa do que o Brasil. O primeiro óbito no país foi registrado em 29 de fevereiro e o primeiro milhar por dia foi atingido em 4 de abril. Já na pandemia brasileira, por assim dizer, a primeira vítima fatal foi notificada em 17 de março e a taxa de 1.000 mortes diárias foi atingida em 4 de junho. Ou seja, o Brasil levou quase três meses para alcançar um patamar que os Estados Unidos atingiu em pouco mais de um.
Diferente do Brasil, os EUA chegaram a apresentar uma acentuada queda da mortalidade. Passaram de 2.235 mortes diárias, em média, no fim de abril para 515,4 mortes no início de julho. Agora, o cenário inverte-se e há subida. Na última quarta-feira, 15, os EUA atingiram pela primeira vez, desde junho, mais de 1.000 mortes diárias. A média móvel, no entanto, fica na casa das 783 vítimas fatais, como apontou a análise deste domingo, 19.
No Brasil, apesar das mortes manterem-se estáveis por quase um mês, a média diária é maior, na casa das 1.055,4 vítimas fatais por dia, segundo a média deste domingo. Uma taxa 34,7% maior que a americana.
Outro ponto desfavorável nos Estados Unidos é a inexistência de um sistema único de saúde, ou seja, uma rede articulada com um propósito comum, mas sim uma série de programas estaduais independentes pouco conectados entre si.
Ainda que o avanço do vírus ocorra de forma diferente nas duas nações, algumas semelhanças merecem destaque. Em ambos os casos, houve regiões em que o vírus apresentou altas vertiginosas no começo da pandemia para, na sequência, perder a potência. Cabem nesse exemplo São Paulo, Rio de Janeiro e Amazonas — no lado brasileiro. E Nova York, Nova Jersey e Connecticut, nos EUA. Outras regiões poupadas no início, agora sofrem aumentos mais expressivos. Exemplos brasileiros são Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul, entre os americanos, Flórida e Texas.
O cenário sugere que o vírus viaja para onde há mais pessoas suscetíveis, causando ondas regionais de contágio. Ou seja, os dados totais nos dois países não representam a realidade homogênea das duas nações, mas são um retrato de diferentes estágios (tanto de queda, quanto de alta) vivido por regiões que são mais, ou menos, atingidos pela pandemia nos dias atuais.
Nos Estados Unidos já foram ultrapassados os 3,8 milhões de diagnósticos positivos e a marca de 140.000 mortes em decorrência da Covid-19. O Brasil acaba de chegar aos 2 milhões de infectados e 79 mil óbitos.