Pode ser uma surpresa, mas os receptores do sabor amargo não estão presentes apenas na boca. Na verdade, eles são encontrados em várias partes do corpo, inclusive nas vias aéreas. E ao estimulá-los – apesar de não estar muito claro como se fazer isso – é possível abrir as passagens de ar nos pulmões, tornando-os um alvo promissor para tratar condições respiratórias como asma e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC).
É o que revela um estudo publicado no Journal of Medicinal Chemistry, em que cientistas desenvolveram um composto poderoso e específico que pode abrir caminho para terapias direcionadas aos receptores do sabor amargo, e consequentemente, ao tratamento dessas condições respiratórias.
De acordo com os pesquisadores, entre os 25 diversos tipos de receptores de sabor amargo, o subtipo TAS2R14 é um dos mais dispersos nos tecidos além da cavidade oral. Apesar de sua prevalência, ainda é incerta sua estrutura como ativá-lo dentro do corpo.
O que se sabe é que, embora apenas alguns compostos sintéticos – incluindo o ácido flufenâmico presente em um fármaco anti-inflamatório não esteróide (AINE) – tenham se ligado e ativado o TAS2R14s, esses ligantes carecem de potência e não compartilham características estruturais significativas.
Assim, o desenvolvimento de um elemento capaz de promover essa ativação de forma mais eficaz virou um desafio para esses cientistas que usaram o ácido flufenâmico como base e criaram compostos análogos, com propriedades aprimoradas.
A equipe ainda expandiu sua pesquisa projetando uma série de ligantes com base em estudos anteriores, com certas características estruturais que aumentam a potência e várias outras novas variações testadas para medir a ativação do receptor.
Entre eles, porém, o ácido flufenâmico se mostrou seis vezes mais potente, indicando que uma quantidade menor poderia gerar uma resposta equivalente à do AINE. Além disso, esse foi notavelmente seletivo para TAS2R14 em comparação com os receptores de sabor não amargo, uma qualidade que pode minimizar possíveis efeitos colaterais.
“Esses novos compostos serão fundamentais para elucidar a estrutura, o mecanismo e a função fisiológica dos receptores do sabor amargo, bem como orientar o desenvolvimento de potenciais candidatos a medicamentos direcionados a esses receptores”, escreveram os pesquisadores.