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Cinco anos de covid-19: ‘Países precisam se preparar como bombeiros’, diz pesquisadora

Ester Sabino, professora da USP que sequenciou o vírus em 2020, alerta para a necessidade de trabalhar com estratégias para evitar futuras pandemias

Por Paula Felix Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 31 dez 2024, 14h00

Há exatos cinco anos, o mundo seguia os conhecidos ritos de 31 de dezembro com os preparativos para a chegada de 2020. No escritório da Organização Mundial da Saúde (OMS) na China, uma mensagem da Comissão Municipal de Saúde de Wuhan chamou atenção. Tratava-se de uma declaração sobre episódios de uma “pneumonia viral” que passou a ser monitorada já no primeiro dia do novo ano. A humanidade se deparava com a maior emergência de saúde pública do século, a pandemia de covid-19, doença que afetou mais de 777 milhões de pessoas e matou 7 milhões, 714.506 só no Brasil.

Foram tempos difíceis e de muitas incertezas. Cientistas atravessavam madrugadas a fio para compreender os mecanismos do vírus e tentar mitigar sua disseminação. Nos primeiros meses, não era possível saber ao certo quais eram as populações mais vulneráveis e qualquer pessoa poderia ser um alvo para a exacerbação dos sintomas. De forma dura, a população aprendeu sobre a “tempestade de citocinas”, uma atividade anormal do sistema imunológico que afetava gravemente alguns pacientes, e também sobre a intubação, método que ajudou pessoas em estado crítico a respirar.

A pandemia de covid-19 mostrou a todas as nações que é fundamental ter sistemas de vigilância para novos patógenos e a necessidade de agir rápido, inclusive com a comunicação da forma mais acessível possível sobre doenças.

“Os países precisam se organizar e se preparar para uma nova pandemia mesmo que ela não aconteça como os bombeiros. Você precisa dos bombeiros para o momento em que acontece o fogo, mas toda a preparação e o treinamento têm de acontecer antes. É isso que os países precisam entender e ter grupos especializados nessa preparação”, diz a pesquisadora Ester Sabino, professora da Universidade de São Paulo (USP)

“O mais importante é que isso seja algo internacional. Não adianta que um país se organize sozinho. Organismos internacionais precisam continuar existindo e ajudando a coordenar as atividades”, explica.

Ester ganhou notoriedade por ter coordenado o sequenciamento do genoma SARS-CoV-2, o vírus causador da covid-19, apenas 48 horas depois de o primeiro caso ser detectado no Brasil. Esse trabalho foi, inclusive, fruto da recomendada estratégia de se preparar para evitar a disseminação de doenças.

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“Sequenciar rápido (o novo coronavírus) foi, na verdade, uma preparação. Estava me preparando para sequenciar para a dengue, estava tudo pronto, porque eu achava que ia ter uma epidemia grande de dengue em 2020, mas chegou um novo vírus e, por isso, a gente pode sequenciar rápido”, relata a VEJA.

Ester Sabino
Ester Sabino, pesquisadora sequenciou o genoma do SARS-CoV-2 (Currículo Lattes/Reprodução)

Negacionismo

Apesar de cada descoberta sobre o vírus ser apresentada de forma transparente pelas principais entidades científicas e órgãos internacionais de saúde, também foi um forte momento de correntes negacionistas inicialmente sobre o vírus e, depois, sobre a eficácia das vacinas.

No Brasil, a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro abraçou a vertente mais danosa frente a uma doença tão traiçoeira e chegou a tratar o quadro como “uma gripezinha”, desconsiderando o conhecimento científico e características inerentes aos vírus, como a capacidade de sofrer mutações e desenvolver novas variantes para infectar mais hospedeiros.

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Mesmo com o início da vacinação em janeiro de 2021, os brasileiros continuaram chorando por ente queridos e tragédias se somaram não só com o surgimento de novas cepas. O país foi impactado pela crise da falta de oxigênio no Amazonas que matou pacientes asfixiados e as ondas que elevavam o número de casos davam a impressão de que a pandemia era uma guerra perdida.

A vacinação e a ampliação do conhecimento sobre a doença fizeram a diferença. Segundo o estudo “Epicovid 2.0: Inquérito nacional para avaliação da real dimensão da pandemia de Covid-19 no Brasil“, apresentado neste mês, a imunização contra a doença com ao menos uma dose foi realizada por 90,2% das 33.250 pessoas ouvidas. O esquema vacinal completo, com duas doses, teve adesão de 84,6% dos entrevistados.

Fim da emergência, convivência com o vírus

Em maio do ano passado, a OMS anunciou o fim da Emergência de Saúde Pública de Interesse Internacional (PHEIC, na sigla em inglês) para a covid-19, encerrando, assim, o mais alto nível de alerta da entidade para uma doença, mantido para a pandemia por mais de três anos.

O encerramento do status não significava que a pandemia tinha acabado, porque o vírus não deixou de circular nos países e continua causando hospitalizações e mortes, principalmente em populações mais vulneráveis e entre as pessoas que não seguem as recomendações e resistem à vacinação, a forma mais segura e eficaz de evitar formas graves da doença.

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Consequências da covid-19

O vírus continua trazendo impactos para a saúde e tem consequências socioeconômicas. Ainda de acordo com o “Epicovid 2.0″, o índice de brasileiros impactados por sintomas persistentes da covid-19 é de 18,9%, dos quais 28,8% os enfrentam atualmente.

A principal situação pós-covid citada pelos entrevistados é a ansiedade, totalizando 33,1%, seguida por cansaço (25,9%), dificuldade de concentração (16,9%) e perda de memória (12,7%).

Com base nos dados da pesquisa, o ministério informou que mais de 28% da população foi infectada pelo vírus, o que corresponde a 60 milhões de pessoas.

Além das graves consequências para a saúde e perdas irreparáveis — cerca de 15% dos ouvidos perderam um ente querido para o vírus –, a covid desestruturou famílias financeiramente e gerou impactos sociais.

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Quase metade dos brasileiros (48,6%) relatou que sofreu redução na renda, o que resultou em insegurança alimentar para 47,4%. Isso significa que as famílias não tinham garantia alguma se teriam alimentos diariamente. O estudo indicou que 34,9% das pessoas entrevistados perderam o emprego e 21,5% tiveram de interromper os estudos.

Aprendemos a conviver com o vírus, mas é sempre preciso fazer mais. Cabe aos governos monitorar e ter sistemas preparados para novos patógenos com potencial para causar pandemias, prover insumos e vacinas, estruturar os sistemas de saúde. À população, o papel é de ter responsabilidade com a própria saúde e daqueles que estão no seu entorno, mantendo a vacinação em dia e seguindo as recomendações dos órgãos de saúde quando algum alerta for dado. Outras pandemias virão e os erros cometidos durante a covid-19 não poderão ser repetidos.

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