Cientistas brasileiros identificam os vilões do tratamento da hipertensão
As mortes por hipertensão cresceram 72% em 10 anos no Brasil
Uma colher de chá. Essa é a quantidade máxima de sal recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para se ingerir por dia. Só que, segundo o Ministério da Saúde, o brasileiro consome quase o dobro disso todos os dias. O resultado? As mortes por hipertensão cresceram 72% em 10 anos no Brasil. A doença está ligada a problemas no coração e AVC.
A saber, o controle da pressão arterial é vital. Isso pode ser feito através da adoção de hábitos saudáveis, como a redução do sal, a prática de atividade física e o controle de peso. No entanto, quando a medicação é prescrita, a não adesão pode ter consequências fatais. Até porque como esse tratamento geralmente dura muitos anos, ou mesmo a vida toda, é um desafio garantir que os indivíduos permaneçam comprometidos com o controle da doença.
Levando em consideração todos esses fatores, pesquisadores brasileiros têm feito uma análise dos principais problemas que dificultam a adesão ao tratamento. Entre os principais identificados estão o analfabetismo tecnológico, os baixos níveis de letramento em saúde e a educação formal limitada. Ou seja, mesmo que os indivíduos nessas situações possam ter acesso a computadores e à internet, muitas vezes eles se sentem desconfortáveis ao utilizar a tecnologia.
“Os profissionais da saúde não devem somente prescrever, como também gerir o paciente”, diz Bruno Nogueira, cardiologista do Incor/HCFMUSP e ex-presidente da Regional Vale do Paraíba da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo, que não participou do estudo. “A pessoa enferma deve estar no centro da decisão e a discussão é sempre importante, levando em conta sua condição financeira, quem a acompanha para a consulta e quais são os efeitos colaterais dos medicamentos”.
O grupo de pesquisa detectou ainda uma correlação entre a idade e as taxas de adesão. Por exemplo, indivíduos com menos de 40 anos têm duas vezes mais chances de aderir ao tratamento, em comparação com aqueles entre 41 e 64 anos. Fatores relacionados ao estado de saúde do paciente, como a ausência de sintomas, também têm sido associados à menor adesão à medicação. Para chegar a essas conclusões, os pesquisadores realizaram uma revisão completa de 14 estudos e coletaram informações de nove bancos de dados brasileiros.
“Cada vez mais, pessoas jovens estão tendo hipertensão. Isso se deve, claro, ao avanço do diagnóstico, mas também à exposição precoce aos fatores de risco: estresse, sedentarismo, consumo exagerado de industrializados, entre outros. É um desafio para todos mudar essa situação”, conclui Nogueira.
Tecnologia Aliada
Um dos conselhos dos especialistas é aliar a tecnologia à luta contra a hipertensão. Programar lembretes no celular, utilizar uma agenda virtual e até aplicativos para smartphones. Atualmente, a aposta da Sociedade Brasileira de Cardiologia para evitar complicações da hipertensão é o Elfie, onde o paciente pode criar um plano de monitoramento de saúde focado no controle de fatores que contribuem para a pressão alta.
Para isso, o usuário precisa interagir com o app, inserindo dados como peso, altura, aferição da pressão arterial e os medicamentos usados. Além disso, ele oferece a possibilidade de controlar o estoque de medicamentos e dividir as informações de saúde com um membro da família ou com o médico. Esse recurso pode ser extremamente importante para pacientes mais idosos, que representam a maior parcela dos hipertensos, pois um familiar ou cuidador consegue acompanhar de perto como vai a adesão ao tratamento indicado.