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Cães podem detectar estresse pelo cheiro do hálito humano, diz estudo

Um experimento mostra que cães podem ser treinados para reconhecer sintomas precoces de transtorno pós-traumático; intervenção pode ser mais eficiente

Por Ligia Moraes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 8 Maio 2024, 12h02 - Publicado em 28 mar 2024, 19h00

Em um estudo experimental, cães foram treinados para reconhecer sinais de estresse pós-traumático no hálito de humanos. O objetivo era descobrir se esses animais eram capazes de sentir indícios precoces do transtorno e, assim, agir para ajudar seu tutor mais cedo, antes mesmo que o paciente esteja ciente de que um episódio começou. E tudo indica que é uma opção viável: uma das cadelas foi capaz de farejar com sucesso a adrenalina, um dos hormônios liberados pelo cérebro em situações de luta e fuga e que possibilita o diagnóstico do quadro.  Os resultados foram publicados na Frontier, importante editora de artigos científicos, nesta quinta-feira, 28. 

Atualmente, os cachorros de serviço ou de assistência são treinados para alertar somente sintomas físicos e comportamentais da condição. No entanto, se eles fossem capazes de identificar os sinais mais prontamente, a intervenção seria mais eficaz.

O transtorno de estresse pós-traumático surge da exposição a um evento catastrófico ou assustador. Os sintomas incluem revivenciar esse acontecimento por meio de lembranças repentinas (flashbacks), resposta exagerada a estímulos externos, evitar e fugir de qualquer situação que relembra o trauma, ansiedade e humor deprimido.

Entre outras formas de assistência, os cães podem ajudar os pacientes alertando e interrompendo episódios quando seus tutores estão sentindo os sintomas. 

Humanos estressados têm um “cheiro característico” 

O nariz sensível dos cães já é utilizado para detectar os primeiros sinais de condições médicas potencialmente perigosas, como uma convulsão iminente ou hipoglicemia súbita. O novo experimento, por sua vez, representa a primeira evidência de que cães podem farejar flashbacks, sintomas muito comuns da condição. 

Todos os humanos têm um “perfil de cheiro” formado por compostos orgânicos voláteis (COVs) — moléculas emitidas pelo corpo em secreções como suor — influenciado por nossa genética, idade, atividades e outras variáveis. Há algumas evidências de que cachorros podem ser capazes de detectar COVs relacionados ao estresse humano. No entanto, nenhum estudo havia investigado se os cães poderiam aprender a identificar os compostos associados aos sintomas do estresse pós-traumático.

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A coleta de dados, ou melhor, de cheiros 

Os cientistas recrutaram 26 voluntários humanos como “doadores de cheiro”. Destes, 54% atenderam aos requisitos de diagnóstico para transtorno do estresse pós-traumático. Para fornecer uma amostra do seu cheiro, eles compareceram a sessões onde foram lembrados de suas experiências traumáticas enquanto usavam diferentes máscaras faciais, que faziam a coleta do cheio liberado pelo corpo, odor-alvo do experimento. Outra máscara, que servia como controle no estudo, fornecia uma amostra de respiração calma. Os participantes também preencheram um questionário sobre seus níveis de estresse e emoções.

Enquanto isso, os cientistas recrutaram 25 cães de estimação para treinamento em detecção de odores. Apenas dois foram habilidosos e motivados o suficiente para completar o estudo: Ivy e Callie. Os animais foram treinados para reconhecer o odor-alvo a partir de fragmentos das máscaras faciais, alcançando 90% de precisão na discriminação entre uma amostra com o cheio do estresse e a outra amostra da máscara-controle.

A dupla canina, então, foi apresentada a uma série de amostras, uma de cada vez, para ver se ainda conseguiam detectar com precisão os COVs de estresse. Neste segundo experimento, Ivy alcançou 74% de precisão e Callie alcançou 81% de precisão.

Achados e próximos passos

Comparando as identificações bem-sucedidas de Callie e Ivy com as emoções autodeclaradas dos participantes humanos, revelou-se que o desempenho de Ivy correlacionava-se com a ansiedade, enquanto o de Callie correlacionava-se com a vergonha.

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Assim, os cientistas supõem que Ivy estava sintonizada com os hormônios ligados a situações de luta ou fuga, como a adrenalina, e que Callie estava orientada para os hormônios relacionados com eventos de estresse, caso do cortisol. Este é um achado importante para o treinamento de cães de serviço, já que alertar para sintomas precoces do transtorno requer sensibilidade aos hormônios liberados pela mesma região do cérebro de onde sai a adrenalina.

Agora, a equipe planeja realizar mais experimentos para confirmar o envolvimento da região do cérebro responsável por respostas de luta ou fuga, além de realizar uma outra versão do estudo, mas com mais participantes e mais amostras de odor. Os cientistas frisam ainda que, para validar suas hipóteses, precisam analisar um número maior de cheiros provenientes de estresse. Dessa forma, eles poderão avaliar se os cães são capazes, de fato, de detectar confiavelmente COVs de estresse no hálito de um ser humano em diferentes contextos.

Cães de serviço psiquiátrico: esquizofrenia

Este ano, um vídeo se popularizou no Tiktok — com mais de 25 milhões de visualizações — no qual um homem com esquizofrenia filmou o momento em que sua cadela de serviço, Luna, veio em seu auxílio depois que ele começou a ter alucinações visuais.

A esquizofrenia é uma condição de saúde mental que se manifesta através da audição de vozes, percepção visual de coisas que não são reais (alucinações), de falsas convicções (delírios), pensamentos que não condizem com a realidade, uma piora na cognição, entre outras características. Kody Green (@schizophrenichippie), americano palestrante e militante em prol da saúde mental, foi diagnosticado com o transtorno aos 21 anos. 

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Luna, que aparece no vídeo, é um cão de serviço psiquiátrico que chegou a Green quando ainda era um filhote. Ela foi treinada para ajudar seu tutor em várias tarefas, incluindo ajudar a identificar alucinações visuais, fornecer suporte emocional e evitar autolesões durante alucinações auditivas.

No vídeo, Green demonstrou o treinamento de Luna depois que ele começou a ter uma alucinação visual, na qual “via outra pessoa” em sua casa. No clipe, ele pode ser ouvido instruindo Luna a cumprimentar a pessoa, mas ela permanece quieta e em vez disso senta-se. Essa resposta diz ao tutor que, na realidade, não há ninguém lá. 

Tarefas e responsabilidades de um cão de serviço para esquizofrenia

Cães de serviço podem ser treinados para ajudar pessoas diagnosticadas com esquizofrenia de várias maneiras. Eles podem melhorar significativamente a qualidade de vida das pessoas que sofrem com a condição e aumentar sua capacidade de operar de forma independente. Algumas das funções exercidas pelos cachorros de assistência incluem:

  • Lembretes de medicamentos e tratamento 
  • Teste de realidade para alucinações
  • Assistência com interações sociais
  • Buscas no ambiente
  • Encontrar ajuda em emergências
  • Fornecer apoio e conforto emocional 
  • Interrupção de alucinações e delírios
  • interrupção de comportamentos autodestrutivos 

Além dessas tarefas, os cães de serviço também podem fornecer companheirismo e amor incondicional aos seus tutores. Isso pode ser particularmente importante para pessoas com esquizofrenia, que podem se sentir isoladas e incompreendidas.

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