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Brasileiro ainda sabe pouco sobre depressão, revela Ibope

Entre as pessoas de 24 a 35 anos, 63% teriam vergonha de revelar diagnóstico a familiares

Por Letícia Passos
Atualizado em 28 ago 2019, 15h14 - Publicado em 28 ago 2019, 14h00

Há algum tempo a depressão está sendo considerada o “mal do século”. No Brasil, a doença atinge 5,8% da população – taxa que está acima da média global (4,4%), segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Apesar de o assunto ser cada vez mais abordado, ainda há muita desinformação a respeito da depressão e as pessoas sentem vergonha de falar sobre o assunto. A questão é tabu inclusive entre os mais jovens – população cuja taxa de suicídio vem aumentando nos últimos anos.

“Doenças psiquiátricas ainda são um tabu muito grande. Por isso as pessoas tentam ‘fugir’ da questão ao associá-la a problemas simples, pois são mais fáceis de encarar”

Novos dados revelam que 23% dos adolescentes entre 13 e 17 anos enxergam o transtorno mental como um “momento de tristeza” e não uma doença grave, revela pesquisa realizada pelo Ibope. “Doenças psiquiátricas ainda são um tabu muito grande. Por isso as pessoas tentam ‘fugir’ da questão ao associá-la a problemas simples, pois são mais fáceis de encarar”, explica o psicólogo André Garcia.

O levantamento ainda mostrou que, na mesma faixa etária, 39% dos adolescentes afirmaram que, caso recebessem o diagnóstico de depressão, não revelariam para familiares. O porcentual foi mais alto do que a taxa média verificada entre todas as idades (22%). Esse dado é ainda mais alarmante quando verifica-se a faixa etária entre 25 a 34 anos: 63% das pessoas disseram que não contariam para a família pela vergonha de admitir um quadro depressivo.

No grupo jovem (18 a 24 anos), 56% declararam que não mencionariam o diagnóstico de depressão no ambiente de trabalho ou acadêmico (escola/faculdade). De todas as faixas etárias analisadas, a menor taxa ficou entre pessoas com 55 anos ou mais (28%). Eles também estão mais bem informados quando o assunto é antidepressivos: 58% acreditam que a medicação é eficiente. Esse resultado surpreende, já que o tabu sobre a depressão está fortemente associado a pessoas mais velhas.

A medicação é um problema entre os mais jovens: 53% acreditam que os medicamentos para depressão não funcionam ou não têm certeza de sua eficiência. Outro dado problemático aponta que 29% deles não acreditam que a depressão possa ser tratada com sucesso. Entre a população mais velha, apenas 18% têm essa visão. “As pessoas não acreditam que a depressão possa ser curada porque só ouvem falar de casos do transtorno, mas nunca de pacientes que superaram a doença. Não há um costume de falar sobre a solução, apenas do problema”, explica Garcia.

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A crença pode afetar a adesão ao tratamento: 23% dos jovens de 18 a 24 anos revelaram que não tomariam antidepressivos mesmo sob prescrição médica. Atitude semelhante foi notada em 34% dos adolescentes (13 a 17 anos). Nesse mesmo grupo, 12% afirmaram que não procurariam um psiquiatra, mesmo tendo recebido encaminhamento médico.

População masculina

O cenário de desinformação e preconceito é preocupante entre a população masculina. A pesquisa mostra que 55% dos homens acreditam que ter uma atitude positiva e ser alegre são medidas suficientes para vencer a depressão. O levantamento indica também que 29% não sabem que a doença não está relacionada a um “sinal de fraqueza” ou pouca força de vontade. 

Entre eles, a vergonha e o medo de preocupar é motivo para 47% dos homens deixarem de informar a família sobre o diagnóstico de depressão. Quando o assunto é tratamento, 21% afirmaram que não tomariam antidepressivos.

População feminina

Entre as mulheres, o cenário é um pouco mais animador: 58% delas sabem que ser positivo e alegre não são fatores suficientes para superar a depressão. Além disso, 83% das mulheres estão convencidas de que a doença não está relacionada à falta de Deus ou sinal de pouca fé. Ainda assim, 41% dessa população não contaria para a família, pois temem ser rotuladas de “estar querendo chamar atenção”.  

Depressão e suicídio

O levantamento verificou o contato dos entrevistados com a depressão e o suicídio. Os dados indicam que 66% conhecem alguém diagnosticado com depressão severa – esse número sobe para 73% entre as mulheres. Enquanto isso, 41% afirmam ter conhecido alguém que cometeu suicídio.

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Por outro lado, o pensamento suicida não é levado a sério entre homens (28%) e pessoas mais velhas (32%). Os dados apontam que o desabafo do próximo sobre “a vida não valer a pena” ou como a “morte como uma solução” foi recebida com descaso por esses grupos, com a primeira reação sendo “pare de pensar em bobagens”.

A falta de conhecimento sobre a depressão e as causas do suicídio contribui muito para que as pessoas descartem a gravidade do problema e deixem de procurar ajuda profissional. Ainda existe a crença de que psicólogo e psiquiatra é coisa para louco. Eu não sou louco, então não preciso. Mas não é assim.

conclui o psicólogo.

Depressão

depressão é um transtorno psiquiátrico que pode ser desencadeado por diversos fatores, como carga genética e ambiente onde o indivíduo está inserido; no entanto, os especialistas ainda não chegaram a um consenso sobre qual deles é predominante. No Brasil, estima-se que sejam diagnosticados aproximadamente 2 milhões de casos por ano e, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), pelo menos 30% da população mundial vai enfrentar algum episódio de depressão ao longo da vida.

Além do preconceito com os transtornos mentais, a dificuldade de interpretar os sintomas faz com que uma pessoa demore a procurar ajuda. Os sinais podem ser confundidos com sentimentos naturais do ser humano, como tristeza, indiferença e desânimo. Esses sentimentos passam a configurar um quadro de depressão clínica quando a variação do humor começa a afetar negativamente vários aspectos da vida do paciente – da produtividade no trabalho e nos estudos às relações com outros indivíduos, passando pela qualidade do sono e a disposição física para realizar as atividades do dia a dia.

O tratamento da depressão inclui psicoterapia, medicamentos (em alguns casos e sob recomendação médica) e até mesmo a prática de atividade física e uma boa alimentação. 

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