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As sequelas e sintomas duradouros da Covid-19

Os efeitos de longo prazo da doença incluem confusão mental, problemas cardíacos e cansaço persistente

Por Giulia Vidale Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 5 ago 2020, 18h05 - Publicado em 5 ago 2020, 17h52

Os sintomas da Covid-19 podem persistir semanas e até meses após o diagnóstico da doença, mesmo em pessoas que apresentam apenas formas leves, sem necessidade de hospitalização. A lista de problemas remanescentes é mais longa e variada do que a maioria dos médicos poderia imaginar. Os problemas contínuos incluem fadiga, batimentos cardíacos acelerados, falta de ar, dores nas articulações, confusão mental, perda persistente do olfato e danos ao coração, pulmões, rins e cérebro.

“Estamos diante de um conjunto de problemas que não imaginávamos no início. A Covid-19 é uma infecção nova e complexa. Temos observado que dependendo da lesão causada e do órgão afetado pela infecção, pode haver um processo inflamatório com curso próprio”, diz o cardiologista e clínico geral Marcelo Sampaio, da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo.

Relatório recente dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês) mostrou que a recuperação completa – mesmo de sintomas leves – pode demorar semanas. A pesquisa incluiu 292 pacientes de diferentes faixas etárias, que trataram a doença em casa. Os resultados mostraram que 94% dos participantes ​​apresentavam pelo menos um sintoma quando foram diagnosticados. Desse grupo, 35% disseram que “não haviam retornado ao estado normal de saúde” de duas a três semanas após a realização do teste.

Os sintomas persistentes incluíam tosse (43%), fadiga (35%) e falta de ar (29%). A maioria das pessoas que apresentaram sintomas persistentes tinha 50 anos ou mais, mas 32% do grupo tinha entre 35 e 49 anos e 26% de 18 a 34 anos. “Mesmo quando não exige hospitalização, a Covid-19 pode resultar em doença prolongada e sintomas persistentes, mesmo em adultos jovens e pessoas com nenhuma ou poucas doenças crônicas”, escreveram os pesquisadores do CDC.

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O relatório, publicado em 24 de julho, se junta ao crescente corpo de evidências sobre os efeitos de longo prazo da infecção por coronavírus no organismo. Pesquisa recente feita na Alemanha descobriu que cerca de 75% dos pacientes recuperado com Covid-19 apresentavam alterações estruturais no coração dois meses após a recuperação.

Em seu estudo, o CDC ressalta que o tempo de recuperação da Covid-19 parece ser muito maior do que o de outras infecções respiratórias, como a gripe sazonal: “Mais de 90% dos pacientes ambulatoriais com influenza se recuperam dentro de aproximadamente 2 semanas após ter um resultado positivo no exame”, escreveram.

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Sequelas

É difícil determinar a probabilidade de um paciente desenvolver sintomas persistentes devido a diferente metodologia dos estudos e ao fato da infecção ser recente, o que impossibilita resultados de longo prazo. Mas um grupo na Itália descobriu que 87% dos pacientes hospitalizados por Covid-19 ainda lutavam contra efeitos a doença, segundo informações da revista Science.

“Em geral, os pacientes que ficam com sequelas perenes são aqueles que apresentaram sintomas graves e, mesmo assim, é uma parcela pequena desses pacientes”, diz Sampaio.

Os órgãos mais afetados pela infecção são rins, coração e pulmão. Todos eles apresentam os receptores ECA2, que são usados pelo coronavírus para invadir as células.

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LEIA TAMBÉM: Coronavírus: muito além dos pulmões

Nos rins, a principal sequela é o comprometimento da função renal, incluindo insuficiência e necessidade de diálise. O problema é passageiro na maioria dos casos, mas isso não descarta a possibilidade de se tornar crônico. Segundo Sampaio, esse é um efeito comum após processos infecciosos.

No pulmão, as sequelas estão associadas à gravidade da lesão causada pelo coronavírus e variam desde um cansaço temporário ao realizar um esforço médio, até a dependência crônica de suporte de oxigênio. O mesmo vale para o coração. O coronavírus ataca uma célula cardíaca chamada miócito, o que pode levar à insuficiência cardíaca permanente. “Até hoje atendo pacientes com miocardite que desenvolveram o problema após infecção por H1N1, em 2009 e 2010”, explica o cardiologista.

Dores persistentes nos músculos e articulações são relatadas com frequência por pacientes que tentam retomar a prática de atividade física, por exemplo. Isso pode acontecer devido à ação do vírus nessas estruturas ou pela perda de massa muscular causada por um longo período de internação.

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Sequelas psicoemocionais, com a somatização para sintomas físicos, também estão presentes. “É comum pacientes se queixarem de dor persistente no peito muito tempo depois da infecção. Quando fazemos todos os exames e análises, não há nada físico que explique essa sensação”, conta o cardiologista.

Alterações neurológicas agudas, como acidente vascular cerebral (AVC), ou crônicas, como acentuação e até mesmo geração de quadros demenciais, podem acontecer, mas com menor frequência que os demais problemas. “Já está provado que alguns pacientes ficaram com demência após a infecção e isso pode ser uma sequela prolongada”, finaliza o especialista.

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