Último Mês: Veja por apenas 4,00/mês
Continua após publicidade

Uma jogada de classe

Adeus, moletom. Nas viagens da Copa de 2018, a seleção brasileira vai usar terno de corte moderno, do tipo slim fit, com paletó e calça justos ao corpo

Por Maria Clara Vieira Atualizado em 4 jun 2024, 16h28 - Publicado em 29 mar 2018, 18h21

Deixados aos próprios desígnios, jogadores de futebol costumam privilegiar firulas na aparência: roupas espalhafatosas, diamantes nas orelhas e nos cordões, cabelos — bem, melhor nem comentar os cabelos. Tudo bem. São jovens, são ricos e têm todo o direito de ostentar. Quando se apresentam como time, porém, uma dose de sensatez pode ser sinônimo de elegância. Daí ter sido saudada com elogios a decisão da CBF de vestir a seleção brasileira com terno e gravata nas viagens e ocasiões oficiais desta Copa do Mundo de 2018. O escolhido para requintar o grupo foi Ricardo Almeida, de 62 anos, alfaiate de famosos, o mesmo que Neymar tem acionado desde que resolveu refinar o guarda-­roupa. “Foram avaliados os trabalhos de quatro estilistas nacionais, de acordo com o projeto técnico e econômico”, explica Edu Gaspar, coordenador de seleções da CBF e responsável pela encomenda. A estreia será no dia 27 de maio, quando os 23 craques deixam a Granja Comary, em Teresópolis, e embarcam — nos trinques — para Londres, a primeira escala da viagem até Sochi, na Rússia.

O costume — nome correto do conjunto calça-paletó — desenhado por Almeida para a seleção é de lã fria em trama de fios nas cores azul-royal e preto, que resulta em um tecido azul-­marinho com efeito changeant, ou seja, ele muda sutilmente de tom conforme a incidência de luz. No forro do blazer, Almeida carregou no simbolismo. Linhas amarelas compõem formas geométricas inspiradas no construtivismo russo. Salpicadas aqui e ali, encontram-se imagens das taças dos anos em que a seleção brasileira foi campeã. A gravata de seda também é azul. “O monocromático não é ideal em um ambiente corporativo. Mas, como se trata de jogadores jovens, é bom fugir do tradicional”, aprova o consultor de imagem Alexandre Taleb.

O corte é daqueles que não perdoam imperfeições: o chamado slim fit, de calça e paletó apertados e curtos. “Procuro sempre fazer a roupa o mais junto ao corpo possível, até o ponto em que não incomoda quem vai usá-la. Quanto mais fiel à silhueta a peça for, mais elegante o dono ficará. Afinal, a pessoa faz academia para quê?”, brinca Almeida. Os ternos sequinhos circulam nas passarelas há décadas, mas só recentemente venceram as resistências e passaram a moldar, justos e curtos como nunca, os homens elegantes que não têm nada a esconder. Em tapetes vermelhos como o do Oscar, a impressão às vezes é que o bonitão alto e forte veste um número abaixo do adequado. “A roupa coladinha é consequência de uma cultura que valoriza a construção do corpo. Isso não era comum no universo masculino, mas agora é parte do visual do homem da metrópole que faz academia, musculação e cirurgia plástica”, diz o especialista em moda masculina Mário Queiroz. O slim fit fica perfeito em quem tem físico atlético — caso dos jogadores de futebol —, mas mesmo quem não está em plena forma pode usá-lo, afirma o consultor Taleb. “Se a roupa for confeccionada sob medida, o visual ficará mais esguio”, garante ele.

SELEÇAO-1958-ALTA.JPG
O COMEÇO – Gilmar, Pelé, Pepe e Orlando, em 1958: formalidade no esporte (Arquivo O Globo/.)

O terno era o traje social obrigatório da seleção nos anos de ouro: 1958, 1962, 1970, quando o futebol brasileiro colecionou vitórias e ganhou destaque internacional. Aí vieram os patrocinadores com seus logos onipresentes aplicados em agasalhos esportivos, e adeus, terno — o moletom dominou o meio de campo. Conquistou tamanha relevância no guarda-roupa dos jovens que, nos últimos anos, mudou de patamar. O agasalho que era só confortável virou moda irreverente e ganhou grife, sobretudo na figura dos rappers americanos.

A transição da seleção para o terno bem cortado reflete um certo amadurecimento da profissão de atleta. A seleção bem-vestida nasceu, é claro, nos dois principais centros de difusão da alta moda masculina: Itália e Inglaterra. Até agora, a Itália ganha de lavada. Os ternos das seleções recentes foram desenhados por Dolce & Gabbana, dupla que se encontra no olimpo das marcas refinadas. Já os costumes ingleses são criação da Marks & Spencer, marca de varejo muito menos charmosa. A Inglaterra, por outro lado, tem a seu favor no jogo da elegância o fato de ser o país de David Beckham, pioneiro do reposicionamento dos craques da bola — sujeitos sempre mal-ajambrados — em modelos de marcas caras e chiques. Agora é a vez de a seleção brasileira dar sua contribuição ao time dos boleiros bem-vestidos. A jogadores num terno bem cortado, de gravata e sapatos de couro, perdoam-se até mesmo os cabelos heterodoxos. Todos, menos o moicano.

Publicado em VEJA de 4 de abril de 2018, edição nº 2576

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Veja e Vote.

A síntese sempre atualizada de tudo que acontece nas Eleições 2024.

OFERTA
VEJA E VOTE

Digital Veja e Vote
Digital Veja e Vote

Acesso ilimitado aos sites, apps, edições digitais e acervos de todas as marcas Abril

1 Mês por 4,00

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (equivalente a 12,50 por revista)

a partir de 49,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.