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Sons da maturidade

Chico Buarque reconectou o ouvinte a uma rara sensibilidade lírico-musical; Taylor Swift oferece intuições sobre a experiência de amadurecer no século XXI

Por Da redação
Atualizado em 4 jun 2024, 16h56 - Publicado em 22 dez 2017, 06h00

1 – REPUTATION, de Taylor Swift
(Universal)

Com seu rostinho de princesa Disney e uma carreira que começou pela música country, Taylor Swift tinha todo o jeito de ser um desses fenômenos que vendem milhões para depois desaparecer. Mas ela veio para ficar: este já é seu quarto álbum milionário. reputation, o mais sólido disco pop do ano, impõe um estilo pessoal em um mercado no qual singles e álbuns são criados em linha de montagem. A estrela juvenil cresceu: canta como adulta, e canta bem. As letras finalmente assumem os 27 anos da cantora e compositora, que não se apresenta mais como modelo de comportamento: sexo, paixão, bebedeiras, fama e até alguns palavrões bem colocados aparecem em reputation. Tudo conduzido por belas melodias, temperadas por instigantes flertes com o hip-hop e com a música gospel.

 

2 – DAMN., de Kendrick Lamar
(Aftermath)

Kendrick Lamar está para o universo hip-­hop atual como Stevie Wonder e Marvin Gaye estavam para a soul music dos anos 70. O rapper assume o posto de voz da consciência negra. DAMN. é a continuação de To Pimp a Butterfly (2015), álbum que, por seu conteúdo político, foi adotado pelos manifestantes do Black Lives Matter, campanha que se opõe à violência policial contra negros. No disco de 2017, o hip-hop é mais marcante — o anterior tinha uma levada jazzística. O apresentador Geraldo Rivera, que criticou Lamar, é ironizado na canção YAH, e o irlandês Bono, do U2, saúda a cultura rap em XXX. DUCKWORTH, que narra as diferenças de Lamar com o pai, mostra seu talento de cronista da sociedade americana. (Sim, todos os títulos são em letras maiúsculas: o que Lamar tem a dizer é muito urgente.)

 

3 – SONGS OF EXPERIENCE, de U2
(Universal)

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Na última década, o quarteto irlandês notabilizou-se muito mais pelas turnês gigantescas e pela pose missionária de seu cantor, Bono, do que pela qualidade de suas canções. O novo trabalho recoloca o U2 nos trilhos do bom rock. Ele tem duas qualidades fundamentais: a guitarra de The Edge, músico que aposta mais em timbres e distorção do que no virtuosismo, e o talento de Bono para criar mantras de humanismo sentimental (love ainda é a palavra mais repisada nas letras). Há várias mensagens nas canções de Songs of Experience: para a família de Bono, para os Estados Unidos e até para os imigrantes — Red Flag Day, um dos melhores momentos do álbum. É, acima de tudo, um disco de grandes músicas, que funcionam tanto em estádios lotados quanto num pub irlandês, entoadas a plenos pulmões.

 

4 – CARAVANAS, de Chico Buarque
(Biscoito Fino)

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Boas-novas – Chico Buarque: fim feliz de um período de seis anos sem material inédito, com o ótimo Caravanas (Daryan Dornelles/VEJA)
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São apenas sete canções inéditas (mais duas regravações). Mas que canções… Primeiro disco de Chico Buarque em seis anos, Caravanas tem sambas, blues, boleros. Em todos os gêneros, brilham as letras elegantes que colocaram Chico entre os grandes da música popular brasileira. Há referências a craques do passado (o atacante Puskás, em Jogo de Bola), alusões shakespearianas (Tua Cantiga cita o verso final do soneto CXVI) e um compositor mais romântico e saudosista do que crítico e político (a faixa-título, crônica dos choques sociais nas praias cariocas, é a exceção). Certa militância feminista cismou que Chico já não “representa” a mulher atual. Mas Blues para Bia fala com sensibilidade de uma jovem em cujo coração “meninos não têm lugar”.

 

5 – COM ALMA, da Banda Mantiqueira
(Sesc)

Ninguém fica imune ao som da big band liderada pelo saxofonista Nailor Proveta. O violonista Romero Lubambo, por exemplo, diz que a Mantiqueira o faz sentir-se mais brasileiro. O cubano Paquito D’Rivera, também saxofonista, passou a noite em claro depois de assistir a uma apresentação de Proveta e sua trupe. A Mantiqueira é uma big band nos moldes das grandes formações americanas dos anos 40 e 50, temperada com ritmos brasileiros como samba e choro. Com Alma, o quarto álbum do grupo, apresenta temas próprios, regravações e convidados de respeito. Desafinado, de Tom Jobim e Newton Mendonça, tem uma introdução delicada de violão de Lubambo, e Segura Ele, de Pixinguinha, ganha um solo de trompete do americano Wynton Marsalis.

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Publicado em VEJA de 27 de dezembro de 2017, edição nº 2562

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