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O supercoach

Celebridade mundial, bilionário e motivador de presidentes, o americano Tony Robbins, estrela do universo da autoajuda, faz sua primeira palestra no Brasil

Por Maria Clara Vieira Atualizado em 4 jun 2024, 17h38 - Publicado em 17 ago 2018, 07h00

Diante de uma plateia de 13 000 pessoas em transe, um homem de mais de 2 metros de altura e músculos de quem se exercita diariamente movimenta-se pelo palco, fala sem parar (em inglês, com tradução simultânea em fones de ouvido) e, em dado momento, põe estranhos para trocar confidências como se fossem amigos de infância. “Conte à pessoa ao lado quais são os piores sentimentos que você experimenta ao longo da semana”, convida. “Depois, abracem-se.” Sentar-se nas primeiras fileiras do espetáculo entremeado de música pop e luzes piscantes custou 5 500 reais — e todos os assentos foram ocupados. A ocasião era especialíssima: a primeira palestra no Brasil do americano Tony Robbins, 58 anos, o mais bem-sucedido expert em aprimoramento pessoal do mundo — ou coach, como a categoria é chamada hoje.

No competitivo universo do coaching, Robbins reina soberano. Da sua lista de clientes constam os ex-presi­dentes Nelson Mandela, Bill Clinton e Mikhail Gorbachev, a apresentadora Oprah Winfrey, a princesa Diana — até madre Teresa de Calcutá bebeu de sua fonte motivacional. Nascido na Califórnia como Anthony J. Mahavoric (o Robbins atual vem do pai adotivo), ele acumula um patrimônio estimado em 6 bilhões de dólares. A fortuna é fruto das vendas de três best-sellers (mais de 15 milhões de exemplares), dos concorridos seminários em um hotel de Palm Beach, na Flórida, que duram de três a sete dias e prometem “despertar o poder interior” dos participantes, e de palestras esporádicas como a que o trouxe a São Paulo por 24 horas na quinta-feira 9 — Robbins chegou, apresentou-se por quatro horas, dormiu e foi embora em seu jato particular.

Não sou guru. Não digo às pessoas o que fazer, só ensino estratégias.

Tony Robbins

O coach dos coaches não presta mais assessoria individual, mas se reúne a cada três meses com um seleto grupo de 300 clientes. Entre estes já figurou a tenista Serena Williams, que credita a Robbins sua recuperação após uma cirurgia complicada em 2011. “Eu me achava superconfiante. Depois de trabalhar com Tony, percebi que era no máximo uma nota 4. Com ele cheguei a 10”, elogia Serena. Robbins não fala sobre ex-clientes, mas abriu exceção no Brasil para contar uma história que ouviu de Gorbachev, quando lhe dava uma carona em seu avião. Contou o ex-presidente soviético que, em 1985, durante uma discussão de ânimos exaltados com o então presidente americano Ronald Reagan, este quebrou o gelo: “Isso não está funcionando. Vamos começar de novo. Oi, eu sou Ron. Posso chamá-lo de Mikhail?”.

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Segundo Robbins, a atitude de Reagan demonstra o poder da comunicação emotiva, uma das linhas mestras da controvertida programação neurolinguística, método desenvolvido na década de 70 que propõe a reformatação da mente por meio da linguagem e do qual o coach americano é o maior divulgador. No palco, ele reforça a mensagem: “Quem concorda comigo diga aye (sim, em inglês antigo)”. A resposta é um “ai” retumbante. “Tony é um showman como nunca se viu na história dos palestrantes. Usa técnicas sofisticadas de movimentação no palco para evocar sentimentos e sabe escolher os participantes das demonstrações”, diz Villela da Mata, presidente da Sociedade Brasileira de Coaching. Apesar da legião de fãs incondicionais que levam a ferro e fogo suas dicas, o californiano recusa o título de guru. “Guru é alguém de quem as pessoas dependem. Não digo o que elas devem fazer, só ensino algumas estratégias. Não quero que ninguém dependa de mim”, disse a VEJA.

Em matéria de exigências excêntricas, Robbins foi até modesto na vinda ao Brasil — “A não ser pela segurança, semelhante à dos aeroportos, que contratamos especialmente para ele”, revela a empresária Elany Leão, responsável pelo evento. O coach trouxe a pequena cama elástica onde se exercita antes de subir ao palco e a temperatura no auditório ficou em exatos 16 graus para evitar sonolência na plateia. O cachê não foi revelado, mas o custo da operação girou em torno de 12 milhões de reais — 3 milhões para cada hora de palestra. As mentes reprogramadas agradecem.

Publicado em VEJA de 22 de agosto de 2018, edição nº 2596

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