O estilo Neymar
A mudança para Paris está fazendo bem ao visual do craque. As extravagâncias do jeitão boleiro continuam presentes, mas vêm ganhando um toque de classe
Muita gente que viu o jogador Neymar de smoking vinho no meio de um mar de trajes escuros na premiação dos melhores do ano da Fifa, em Londres, na segunda 23, foi correndo fazer piada nas redes sociais. Pois surpreenda-se: para quem entende de moda, ele estava elegante na medida certa para um jovem de 25 anos entre veteranos que ele próprio vai (se tudo der certo) desbancar. Os motivos mais citados para a gradual metamorfose do garoto espalhafatoso de penteados atrozes em adulto de gosto ainda, digamos, excêntrico mas seguramente mais requintado são a mudança para a Espanha, há quatro anos, e, principalmente, a relocação para a França, em agosto. “Paris explica tudo. A cidade tem um dress code poderoso. Lá se torce o nariz para o visual despojado e moletom é malvisto. Neymar é um cara que gosta de moda. Não poderia dar outra coisa”, afirma a jornalista Iesa Rodrigues, especialista no assunto.
O smoking em questão, em tecido meio furta-cor que vai do vinho ao azulado, acompanhado de gravata estreita no mesmo tom, é obra do estilista Ricardo Almeida, de quem o jogador é cliente desde 2011. “O traje exprime bem o jeito ousado e inovador de Neymar. Seu grande diferencial é poder fazer o que quiser. Roupas que causariam estranheza em outra pessoa nele viram tendência”, diz Almeida. O mesmo estilista assina outro visual recente do atacante, o terno usado no casamento da atriz Marina Ruy Barbosa, azul-marinho com filetes de xadrez em tom tijolo, que Neymar completou com chapéu e tênis — acessórios sobre os quais Almeida não tem jurisdição: “Só produzo os ternos”.
Brasileiros que foram jogar na Europa e passaram pelos grandes centros da moda confirmam que a mudança enverniza o estilo. “Em apenas uma tarde, já gastei milhares de euros em roupas na Champs-Élysées”, declarou em entrevista o atacante Fred, que jogou quatro anos na França e hoje está no Atlético Mineiro. “Paris é uma cidade sensacional, onde aprendo muito sobre moda”, empolgou-se David Luiz na época em que atuava no PSG (atualmente está no inglês Chelsea). Também acontece de a imersão no mundo fashion provocar certa dose de alucinação — e Daniel Alves é a prova em pessoa, com sua escalafobética coleção de jaquetas metalizadas, calças coloridas e bermudas quase saias. Amigo do peito e colega de time de Daniel Alves, Neymar admira a sua ousadia. Indagado sobre quem é, na sua opinião, o jogador mais estiloso, cravou: “Dani Alves”.
Da curta passagem pelo Brasil neste mês, para jogar na seleção e esticar no casamento de Marina, Neymar levou mais dois ternos Ricardo Almeida ainda inéditos. O estilista conta que faz sugestões de tecidos e cortes, que, mediante aprovação do jogador, confecciona com base nas medidas anotadas no ateliê. “Não interfiro no estilo. Ele chega com a ideia do que quer e, juntos, trabalhamos a melhor forma de pô-la em prática”, explica. As provas são feitas conforme a disponibilidade do cliente e normalmente acontecem em quartos de hotel reservados para isso. A assessoria do jogador garante que ele vai às lojas para comprar as próprias roupas e se arruma sozinho, sem ajuda profissional. É de sua exclusiva autoria, portanto, o look todo branco com jaqueta vermelha Louis Vuitton por cima (mais colares, brincos e óculos, de que não precisa) exibido no mês passado em uma noitada em Londres. Diferente, sim — mas certíssimo para Neymar. “É normal uma estrela querer se diferenciar do padrão. E a moda masculina precisa disso para acordar”, diz o estilista João Pimenta.
O jogador também ganha muita coisa. Na semana de moda de Paris, no final de setembro, compareceu como convidado (com Daniel Alves) ao desfile da grife de luxo Balmain vestindo luxo — e, sim, elegância — dos pés à cabeça. Um avanço e tanto para quem ostentou no início da carreira, e até hoje repete, o moicano mais pavoroso — e imitado — da história dos penteados. Jovem, milionário, em ótima forma física, influente (tem 83 milhões de seguidores no Instagram), Neymar, neste viés parisiense, é candidato a entrar para a seleção sartorial do muito cool David Beckham (que, aliás, já foi a expressão de tudo o que é brega). Nada garante que não vá derrapar nos excessos da moda ostentação. Tudo bem — é do jogo.
Publicado em VEJA de 1º de novembro de 2017, edição nº 2554