Daniel Ortega, presidente da Nicarágua, extinguiu os limites para o mandato presidencial e concentrou todo o poder nas suas mãos e nas de sua esposa, a vice-presidente Rosario Murillo. Na estratégia do casal, ela se candidataria à sucessão do marido nas eleições em 2021 e eles governariam felizes para sempre. A certeza já não anda tão sólida. Nas últimas duas semanas, milhares de pessoas foram às ruas pedir a saída de Ortega e, de quebra, de sua mulher.
A confusão começou depois que os estudantes protestaram em 18 de abril contra uma reforma da previdência — sempre ela. Na repressão, ao longo de duas semanas, mais de trinta pessoas morreram. A maior parte das vítimas foi atingida na cabeça e no peito. Entre elas, um jornalista. Uma estação de rádio foi queimada e dois canais de televisão foram retirados do ar. No domingo 22, policiais entraram na Universidade Politécnica da Nicarágua e mataram quatro estudantes. Na segunda-feira, a população saiu em manifestação pacífica com bandeiras do país e cartazes. “Ortega e Somoza são a mesma coisa”, dizia um, em referência ao ditador Anastásio Somoza, destituído por Ortega na Revolução Sandinista, de 1979. Além de enviar a polícia e o Exército para conter os protestos, Ortega pôs em ação grupos paramilitares da juventude sandinista, que os nicaraguenses chamam de “turbas”. Seus membros andam armados em motocicletas e contam com proteção policial.
Publicado em VEJA de 2 de maio de 2018, edição nº 2580