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A prisão do ex-presidente Lula é uma daquelas tragédias históricas que envergonham, mas é também uma lição que transcende à sua trajetória pessoal

Por Policarpo Junior Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 17h51 - Publicado em 7 abr 2018, 06h00

A prisão de um ex-presidente da República não é um fato inédito. Aconteceu com o marechal Hermes da Fonseca, detido em 1922, oito anos depois de deixar o poder. Aconteceu com Washington Luís, deposto e preso pela Revolução de 1930. E aconteceu com Juscelino Kubitschek, que passou quase um mês trancafiado em um quartel de São Gonçalo, no Rio de Janeiro, depois do golpe militar de 1964. Há, no entanto, uma diferença crucial entre esses casos e o do ex-presidente Lula, para quem o STF abriu as portas da prisão na semana passada. Hermes da Fonseca, Washington Luís e Juscelino foram presos por razões políticas, tal como aconteceu com o próprio Lula, então um combativo líder sindical em 1980, quando foi encarcerado por desafiar com greves as leis autoritárias da ditadura militar. Condenado a três anos e meio de cadeia por “incitação à desordem coletiva”, ficou detido 31 dias. Entrou na prisão como um dirigente sindical e dela saiu como um líder nacional.

Agora, a prisão de Lula representa o mais sonoro triunfo da lei sobre a impunidade dos criminosos de colarinho branco. Mas, além do simbolismo, sua prisão, examinada em toda a dimensão política e jurídica, transcende ao seu destino pessoal: é a condenação de todo um sistema montado pelas oligarquias nacionais — na política, no empresariado, na burocracia estatal — que se apropriou do Estado para promover o saque sistemático do dinheiro público. Ao longo da história, a quadrilha oligárquica mudou tudo — os nomes, os partidos, as empresas, os métodos —, menos sua essência.

É esse sistema perverso, injusto e intolerável que a Lava-­Jato está desmontando. Com a prisão de Lula, a operação acaba de derrubar sua vítima mais vistosa, seja pela alta popularidade, seja pelo papel proeminente que desempenhou em dois esquemas de corrupção batizados com aumentativos — mensalão e petrolão. O Brasil espera, daqui em diante, que o Supremo Tribunal Federal continue trilhando o caminho da coragem e mantenha de pé a decisão de autorizar a prisão imediata de condenados em segunda instância. Só assim será possível encarcerar os criminosos de colarinho branco que ainda não foram alcançados pela lei — e que devem fazer companhia a Lula na cadeia.

Publicado em VEJA de 11 de abril de 2018, edição nº 2577

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