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Erga a cabeça!

Medicina comprova: usar dispositivos móveis com o corpo curvado antecipa surgimento de rugas no pescoço e, é claro, aumenta o risco de problemas na coluna

Por Thaís Botelho Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 12 ago 2017, 06h00 - Publicado em 12 ago 2017, 06h00

Num texto escrito em 1980, o colombiano Gabriel García Márquez (1927-2014) definiu o medo de avião como “o mais recente de todos, pois só existe a partir do momento em que se inventou a ciência de voar, há apenas 77 anos”. Se as criações tecnológicas nos fizeram desenvolver novos temores, novos comportamentos e alimentaram a paúra de mentes tão terrenas como a de García Márquez, é inquestionável que também deflagraram inéditos problemas de saúde que, aos poucos, começam a ser entendidos em profundidade.

Sempre se imaginou que o uso exagerado de smartphones e tablets, com o corpo curvado e a atenção sugada pela tela, pudesse fazer mal para o corpo. Estudos recentes constatam: faz mal, sim. Uma das pesquisas revela um malefício surpreendente: o vício eletrônico acelera o surgimento de rugas no pescoço. Criou-se até um termo, tech neck (neck é pescoço, em inglês), para designar os males que resultam da postura equivocada. Um trabalho coordenado pela Universidade Chung-Ang, da Coreia do Sul, mostrou que mulheres a partir dos 29 anos apresentaram vincos na região do pescoço — enquanto o natural seria depois dos 40. O ponto em comum entre as pessoas investigadas: o mau uso dos eletrônicos. Diz Claudia Marçal, da Sociedade Brasileira de Dermatologia e Academia Americana de Dermatologia: “Há dez anos, esse cenário seria inimaginável”. Os smartphones como os conhecemos têm só dez anos de vida. Os tablets mal celebram os sete anos de existência.

Os aparelhos portáteis, eles mesmos, não são os culpados. São tão úteis, tão competentes, que alimentam o exagero. Os americanos, geralmente campeões em tudo, ficam duas horas por dia conectados no celular. Os brasileiros permanecem vidrados pelo dobro do tempo. Mas é tempo demais para ficar de cabeça baixa. “Uma hora diária com a postura errada já impacta no surgimento de rugas precoces”, diz o dermatologista Jardis Volpe. O pescoço é uma região extremamente vulnerável. Depois das pálpebras, é onde o corpo tem a pele mais fina, com 2 milímetros de espessura. A pele das mãos, por exemplo, tem o dobro da grossura. Além disso, a pele do pescoço possui poucas glândulas sebáceas, cuja função é produzir uma substância rica em gordura que forma uma espécie de filme protetor natural contra rugas. É, portanto, uma região com superfície particularmente frágil. No ângulo de 45 graus da cabeça, postura mais comum quando estamos mesmerizados com aparelhos eletrônicos, o impacto no corpo equivale a 22 quilos sobre os ombros — quatro vezes o peso exercido na posição ereta. Uma pergunta: ler livros também não seria atalho para danos ao organismo? Errado, porque não lemos tanto quanto acessamos as redes sociais.

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(//VEJA)

A sobrecarga do grude eletrônico, portanto, atinge em cheio também as articulações da coluna, o que aumenta o risco precoce de problemas na região (veja o quadro acima). Um trabalho conduzido pela Universidade de Gotemburgo, na Suécia, com 7 000 homens e mulheres entre 20 e 24 anos, todos com fortes dores nas costas, mostrou que um tempo relativamente curto de uso incorreto dos dispositivos móveis (cinco anos) já pode causar desalinhamento na coluna.

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Mas qual é a postura correta, afinal? Diz Vinicius Benites, presidente da Sociedade Brasileira de Coluna (SP): “Não há mistério: mantenha o corpo o mais ereto que puder — cabeça, coluna e braços”. A rigor, talvez só existam duas formas de evitar problemas de postura nas pessoas exageradamente conectadas: não usar smartphones ou adotar telefones móveis à moda antiga, aqueles que só serviam para telefonar — ninguém precisa abaixar a cabeça para simplesmente falar. São os chamados dumb phones, os celulares burros, uma onda que começa a crescer no mercado, atraindo celebridades do porte de Rihanna e Scarlett Johansson, como mostra a reportagem publicada nas páginas seguintes.

Publicado em VEJA de 16 de agosto de 2017, edição nº 2543

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