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De volta às compras

Os brasileiros enchem as lojas e fazem o comércio ter o melhor Natal em sete anos; o consumo das famílias pode impulsionar a economia em 2018

Por Bianca Alvarenga Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 16h44 - Publicado em 29 dez 2017, 06h00

As lojas cheias, bem cheias, na semana do Natal anunciavam algo de novo e muito bom no comércio, já que a festa responde por 30% da receita anual. Mas os balanços superaram as expectativas: o Natal de 2017 teve o maior crescimento nas vendas em sete anos. A expansão foi de 5,6% em relação ao mesmo período de 2016, segundo levantamento da Serasa Experian, empresa de análise de crédito. Os shopping centers foram os principais beneficiados pela retomada do consumo. As vendas para o Natal em shoppings aumentaram 6%, superando a marca de 50 bilhões de reais, de acordo com a Alshop, associação dos lojistas desses centros comerciais. Os segmentos do varejo que mais cresceram foram os que vendem produtos com preços mais baixos, como brinquedos, bijuterias e perfumaria. Mas até lojas que oferecem mercadorias mais caras, como eletrônicos, mostraram sinais de recuperação. Há evidente estímulo para toda a cadeia econômica. A produção de aparelhos de TV cresceu mais de 30% em 2017, assim como a venda de smartphones. Empresas que montam eletrônicos na Zona Franca de Manaus estão convocando funcionários que estavam parados para reforçar as linhas de produção.

Os resultados positivos são um reflexo do aumento do poder de compra dos brasileiros. A expectativa é que o chamado consumo das famílias cresça 1% em 2017 e até 3% em 2018, em linha com o que é esperado para o desempenho da economia como um todo. Ou seja, o consumo tem tudo para ser novamente o principal motor do PIB brasileiro, como ocorria antes da recessão. “Há quatro grandes pilares sustentando a recuperação do varejo: juros em queda, inflação baixa, fortalecimento da confiança dos consumidores e, principalmente, melhoria no mercado de trabalho”, diz Luiz Rabi, economista da Serasa. A taxa de desemprego caiu de 13,7%, em março, para 12,2%, em outubro, o que, na prática, significa que mais de 1 milhão de brasileiros conseguiram ocupação nesse período. A taxa básica de juros, que baliza o custo do crédito, está no patamar mais baixo da história, em 7% ao ano. A confiança do consumidor retornou aos níveis de 2014. Por fim, a inflação é a menor em quase duas décadas. Mas, apesar do contexto favorável, os bons resultados recentes estão longe de compensar o tombo dos últimos dois anos: as vendas no varejo encolheram 11,2% entre 2015 e 2016, segundo o IBGE. “É provável que o setor volte para o patamar pré-crise somente em 2020”, avalia Rabi.

Para que isso aconteça, é preciso que os pilares que dão sustentação ao consumo sejam reforçados e que a retomada do mercado de trabalho se espalhe pelo emprego formal, o que ainda não ocorreu. Mas há riscos relevantes no horizonte. Se a reforma da Previdência não sair do papel ou se candidatos com agenda populista, que negam a necessidade de ajustes na economia, se mostrarem com possibilidades reais de vitória na eleição presidencial, a desconfiança de investidores e empresários poderá fazer o real se desvalorizar, com efeitos negativos sobre a inflação e os juros. Esse movimento esfriaria a recuperação do consumo e, em última instância, do PIB. A torcida é que os resultados do Natal sirvam como ensaio geral para 2018.

Publicado em VEJA de 3 de janeiro de 2018, edição nº 2563

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