Como vai o presidente
Temer é acometido por uma infecção urinária depois de três internações em três meses e sua saúde vira alvo de especulações em Brasília
O ano-novo trouxe algumas preocupações, e muitas especulações, em torno da saúde do presidente Michel Temer, que completou 77 anos em setembro. Um dia depois do Natal, ele se sentiu mal e teve febre. Exames detectaram uma infecção urinária, e o diagnóstico aumentou a força dos boatos sobre sua condição supostamente frágil. Em Brasília, especula-se sobre a gravidade dos problemas e chegou-se a cogitar, no Congresso, a necessidade de Temer afastar-se do cargo para cuidar da saúde — o que, no caso de um presidente sem vice, é sempre um ponto de tensão política. Mas, considerando seu estado até agora, é possível afirmar: são apenas boatos. Temer, inclusive, se deixou fotografar em caminhada matinal na quinta-feira para afastar os rumores.
A infecção urinária é um problema comum no contexto das recentes intervenções pelas quais o presidente passou. Para combatê-la, os médicos prescreveram injeções diárias de um novo antibiótico e reforçaram a indicação de repouso. Em Brasília, a equipe médica que normalmente faz plantão no Palácio do Planalto tem se desdobrado em escalas especiais para visitar o presidente no Palácio do Jaburu mais de uma vez por dia. Pessoas próximas a Temer afirmam que ele se sente disposto — melhor, ao menos, do que se sentia em outubro, quando foi parar na emergência do Hospital do Exército, em Brasília, com sangramento e dificuldade para urinar.
Na ocasião, depois de ir para o Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, Temer passou pelo primeiro procedimento cirúrgico recente, destinado a remover coágulos sanguíneos que haviam se formado na bexiga e estancar o sangramento. Foram feitas também biópsias da próstata e da bexiga para descartar a hipótese de tumores malignos. Ambas resultaram negativas. O presidente ficou internado e recebeu alta com o quadro controlado.
Em novembro, no entanto, quase um mês depois, ele retornou ao Sírio-Libanês, dessa vez para a colocação de stents — nada a ver, portanto, com o problema urinário. O stent, pequena estrutura introduzida via cateterismo, tem a função de ajudar a liberar o fluxo sanguíneo em artérias obstruídas por placas de gordura — um problema comum em pacientes mais velhos.
Em dezembro, nova internação. Temer voltou a se queixar de desconforto urinário e foi submetido a uma pequena intervenção para a desobstrução da uretra e colocação de sonda. Como essa sonda agora teve de ser retirada por causa da infecção urinária, a dilatação da uretra será feita ambulatorialmente ou em casa, uma vez por semana, durante dois meses. O procedimento, que exige anestesia local, consiste na inserção de um tubinho de plástico no canal da uretra de modo que ele não sofra um novo estreitamento.
O episódio atual é mais um capítulo de problemas recorrentes que podem ter tido início seis anos atrás, quando Temer foi submetido a uma cirurgia de próstata para tratar o quadro de crescimento benigno da glândula. Embora o procedimento tenha tido resultados satisfatórios, provocou o estreitamento do canal uretral, razão dos problemas atuais. A uretra é um órgão tubular, parte do sistema urinário. É comum que traumas ou cirurgias na região provoquem um tipo de cicatriz chamada de fibrose, capaz de diminuir o calibre do canal. Até outubro, o desconforto era considerado suportável pelo presidente.
Neste fim de ano, seguindo as ordens de diminuir o ritmo, Temer não viajou e passou as festas no Palácio do Jaburu, acompanhado da família. Na terça 2, o primeiro dia útil do ano, despachou de lá. Na quarta, foi ao gabinete, mas voltou um pouco mais cedo. A todos que o abordam promete que, desta vez, obedecerá à risca ao comando de repouso. Era o que ele deveria ter feito após a cirurgia para a desobstrução da uretra, em dezembro. Em vez disso, porém, enfrentou uma pesada agenda de compromissos. Agora, diante do novo quadro, o presidente cancelou o giro que iniciaria nesta semana pela Ásia. Ainda não descartou, no entanto, a possibilidade de viajar daqui a duas semanas para o Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça.
Publicado em VEJA de 10 de janeiro de 2018, edição nº 2564