Babel na era digital
O lançamento de fones que traduzem, quase que instantaneamente, frases em dezenas de idiomas promete demolir as fronteiras linguísticas que separam os povos
As religiões abraâmicas — judaísmo, cristianismo e islamismo — creem que os quase 7 000 idiomas existentes hoje no planeta tenham uma origem comum: a Torre de Babel. Há referências a essa obra no Velho Testamento, mais precisamente no Livro do Gênesis. Diz a tradição que, tempos depois do Grande Dilúvio, do qual Noé teria salvado homens e animais abrigando-os numa formidável arca, seus bisnetos reuniram os humanos remanescentes para que erguessem uma enorme torre. A construção seria de tal modo gigantesca que seu pico tocaria o céu. Naqueles dias, os homens falavam uma só língua. Mas Deus, contrariado com o ambicioso projeto humano, decidiu interrompê-lo, fazendo com que os homens passassem a falar diferentes idiomas e, assim, não mais se entendessem.
Desde então, persiste a multiplicidade linguística, que, no entanto, já foi maior — cerca de uma centena de idiomas desapareceu na última década. Mas a era digital começa a devolver ao homem um pouco do que a ira divina lhe teria tirado, com a chegada ao mercado de aparelhos capazes de traduzir, durante um diálogo, dezenas de línguas.
Desde 2015 têm se popularizado aparelhos com tradução quase simultânea. São fones dotados de softwares habilitados para traduzir os idiomas diretamente no ouvido dos interlocutores. Na prática, o funcionamento é bastante simples: fala-se algo em, por exemplo, inglês; o áudio é captado pelo dispositivo, que o traduz imediatamente para, digamos, o português (confira ao lado). No início deste mês, o Google trouxe a público o mais avançado produto desse tipo. Os fones de ouvido Pixel Buds traduzem, praticamente de forma instantânea (em apenas 0,2 segundo), mais de quarenta idiomas. Na demonstração do aparelho, que chega às lojas em novembro, um indivíduo fala em inglês, enquanto outro responde em sueco, ambos com os Buds em suas orelhas e em rede wi-fi.
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