A pátria que chora por todos
Já habituados às crises recorrentes, os argentinos agora reclamam da inflação crescente, do “tarifaço selvagem” aplicado pelo governo e do acordo com o FMI
Na Argentina, a independência é lembrada duas vezes ao longo do ano: em 25 de maio, quando se deu uma rebelião contra a Espanha, em 1810; e em 9 de julho, quando a independência foi proclamada, seis anos depois. As duas datas batizaram avenidas no centro de Buenos Aires. Ambas têm recebido manifestações recentes, ofuscando em parte a Praça de Maio, tradicional ponto de aglomerações. O tema dos últimos protestos é, mais uma vez, a soberania do país. Em 25 de maio, houve um protesto sob o lema “A pátria está em perigo”. Na segunda passada, 9 de julho, houve uma passeata de oposição que tomou a avenida homônima para criticar o socorro de 50 bilhões de dólares do FMI. A turma se emocionou com o hino argentino, devorou vários choripanes (os apreciados pães com linguiça) e empunhou cartazes com a Mãe Pátria embrulhada na bandeira nacional e a frase “Não me vendam”. Já habituados às crises recorrentes, os argentinos agora reclamam da inflação crescente, do “tarifaço selvagem” aplicado pelo governo e do acordo com o FMI, que, segundo eles, fere a soberania nacional. O presidente Mauricio Macri, eleito em 2015, é o alvo principal. Seu mandato começou com uma aprovação superior a 50%, mas sua aura foi se desgastando com a reforma da Previdência e as conversas com o FMI. Hoje, 35% aprovam seu governo. O presidente sonha com a reeleição no ano que vem, mas, sem perspectivas de que a economia se recupere, será uma missão difícil. O trunfo de Macri é que, se é verdade que ele não está tão bem, pelo menos ninguém na oposição tem conseguido galvanizar o atual descontentamento. Até agora.
Publicado em VEJA de 18 de julho de 2018, edição nº 2591