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A ordem é esperar

Indefinição política faz com que estrangeiros deixem negócios em banho-maria, e a queda nos investimentos retarda ainda mais a aceleração do crescimento

Por Bianca Alvarenga Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 17h50 - Publicado em 3 ago 2018, 07h00

Não é fácil para uma empresa internacional tomar a decisão de aplicar alguns bilhões de dólares em um país cujo resultado eleitoral pode ter um impacto determinante no negócio, sobretudo se o investimento for de longo prazo. São óbvias, portanto, as razões pelas quais o Brasil deixou de atrair capital estrangeiro nos últimos meses. Sem saberem ao certo quais serão os planos do próximo presidente e quando a economia começará a reagir de fato, os empresários internacionais puseram os seus planos em b­anho-ma­ria até segunda ordem. Os números mais recentes divulgados pelo Banco Central mostram que o investimento estrangeiro direto (aquele realizado na compra de empresas ou na ampliação de negócios, e não aplicado no mercado financeiro) está atualmente nos menores patamares em quase dez anos.

Depois de o país ter registrado o ingresso recorde de 115 bilhões de dólares em 2011, os investimentos vêm minguando. Inicialmente, houve o impacto da recessão econômica. Agora, de acordo com os consultores, o desalento se deve às eleições. Pudera. Tem candidato prometendo rever privatizações, anular a reforma trabalhista, e por aí vai. Esse risco de mudança nas regras afeta diretamente a disposição das empresas para ampliar as suas atividades. No acumulado dos últimos doze meses até maio, entraram no país 61,8 bilhões de dólares em investimentos diretos, praticamente a metade do que foi registrado há sete anos. Sem esse capital estrangeiro, essencial para trazer mais tecnologia ao parque produtivo, a retomada será ainda mais vagarosa.

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(Arte/VEJA)

Não bastasse o cenário interno conturbado, outro fator, desta vez externo, trouxe novas complicações para o Brasil: a redução de impostos aprovada por Donald Trump. Muitas multinacionais fizeram as contas e concluíram que, com o incentivo, vale mais a pena despejar recursos nos Estados Unidos do que aplicá-los em países onde o risco e os impostos são mais elevados, como o Brasil. Criticada do ponto de vista do equilíbrio das finanças públicas, a redução tributária de Trump, não há como negar, deu um impulso aos investimentos. “É um efeito que afeta o mundo todo, mas os outros países estão mudando sua estrutura tributária para poder competir”, diz Carlos Toro, da consultoria KPMG.

O Reino Unido, por exemplo, deve reduzir o imposto de renda cobrado de empresas de 20% para 17% nos próximos dois anos. Muitas companhias estão redesenhando seus planos e escolhendo os países com regras mais amigáveis ao capital — e o Brasil, enquanto isso, permanece deitado em berço esplêndido. “Continuamos a ter uma das maiores cargas tributárias corporativas do mundo, e não há nenhum plano de governo para mudar isso”, afirma Toro. A falta de reformas fiscais, que balanceariam os gastos do governo, mostra que a arrecadação de impostos seguirá como a única solução para o rombo nas contas públicas.

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Ainda assim, há setores que vêm atraindo negócios. Empresas chinesas, por exemplo, adquiriram posições de relevo no ramo de energia. Trata-se de uma área com fluxo de caixa estável a longo prazo e menos sujeita a oscilações. Os europeus, que já tinham participação significativa no segmento, também abocanharam uma parte desse mercado. Em junho, a italiana Enel comprou a distribuidora Eletropaulo por mais de 5 bilhões de reais. Grupos estrangeiros, da mesma forma, tiraram proveito do fato de muitas empreiteiras envolvidas na Lava-­Jato e em outras investigações terem sido obrigadas a se livrar de alguns de seus negócios. Mas as oportunidades de investimento agora estão rareando. “O número de ativos à venda diminuiu. Ao mesmo tempo, não vingou, até o momento, a promessa do governo de fazer novas concessões e leilões de projetos na infraestrutura”, diz Alvaro Bandeira, economista-chefe da corretora Modalmais.

Bancos e consultorias que auxiliam empresas estrangeiras nos processos de aquisição relatam que os investidores estão interessados em ferrovias e aeroportos. Empresários chineses e russos estudam competir por trechos da Ferrovia Norte-Sul e da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol). Já grupos europeus e asiáticos estão de olho na oferta de aeroportos de capitais do Sudeste e Nordeste, como Vitória, Recife e Maceió. O governo prometeu que as concessões sairiam em 2018, mas, com a proximidade das eleições, o mercado, que não é bobo nem nada, já entendeu que o prazo é duvidoso.

O alívio tributário de Trump incentiva o dinheiro a ficar nos EUA

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A persistência do alto índice de desemprego, que registrou 12,4% entre abril e junho, revela que os negócios que dependem da recuperação do consumo continuarão vislumbrando um horizonte negativo. “Ainda há um baixo índice de confiança das empresas e das famílias. Se o empresário local investe pouco, imagine o estrangeiro”, analisa Marco Sottovia, presidente da consultoria TMF no Brasil. Ele diz que o custo Brasil e a complexidade para fazer negócios no país ainda são grandes obstáculos, mas que a definição do próximo governo é um fator de peso no momento. Os executivos esperam uma retomada no fluxo de investimentos somente no ano que vem— e, ainda assim, tudo dependerá do rumo dado pelo futuro presidente. Até lá, a ordem é esperar para ver o que acontece.

Publicado em VEJA de 8 de agosto de 2018, edição nº 2594

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