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A farra terminou

A Polícia Federal prende servidores do Ministério do Trabalho e vasculha gabinetes de deputados que comandavam esquema de venda de registros sindicais

Por Thiago Bronzatto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 17h04 - Publicado em 1 jun 2018, 06h00

Na quarta 30, agentes da Polícia Federal vasculharam os gabinetes dos deputados Jovair Arantes (PTB-GO) e Paulinho da Força (Solida­riedade-­SP). Estavam em busca de evidências que reforçassem a ligação dos parlamentares com um esquema de venda de registros sindicais no Ministério do Trabalho. Poderia ter sido pior. A PF solicitou ao Supremo Tribunal Federal (STF) a decretação da prisão dos dois deputados e de outros 21 envolvidos. O ministro Edson Fachin, do STF, acatou parcialmente o pedido. Também foi autorizada uma busca na casa do ex-deputado Roberto Jefferson, pivô do escândalo do mensalão e presidente do PTB, partido que divide com o Solidariedade desde o início do governo Temer os postos de comando do Ministério do Trabalho. Lá, eles montaram um negócio que, segundo as estimativas, rendeu algumas dezenas de milhões de reais em propina aos deputados, aos lobistas e a um grupo de funcionários corruptos.

A farra terminou
O DENUNCIANTE – Reportagem de VEJA que revelou o esquema (//VEJA)

O esquema foi revelado por VEJA em março passado. O gaúcho Afonso Rodrigues de Carvalho, dono de uma pequena transportadora e presidente do Sintrave, sindicato das microempresas de transporte rodoviário de veículos novos de Goiás, tentava havia mais de cinco anos, sem sucesso, obter um registro no Ministério do Trabalho para oficializar a sua entidade. O processo não andava. A solução se apresentou na figura dos lobistas Verusca Peixoto e Silvio Assis, que prometeram resolver o problema rapidamente, desde que o empresário arcasse com alguns “custos políticos”. Desconfiado, Afonso Rodrigues gravou as conversas. O áudio é autoexplicativo. Num deles, Silvio esclarece que o negócio envolve um “mesclado” de políticos do PTB e do Solidariedade. Já Verusca, mais explícita, deu cara e dimensão ao esquema: “O Jovair está junto com a gente”, disse ela. “Eles (Jovair e seus apaniguados) tinham pedido 500 000 para pagar a parte técnica, para pagar as pessoas envolvidas lá (…). E 2,5 (milhões de reais) quando sair (o registro)…”. Incluídos os honorários dos lobistas, o registro sindical custaria 4 milhões de reais.

O empresário simulou ter aceitado o negócio, pagou a propina com cheques pré-datados e pediu provas de que o registro iria de fato sair. A partir daí, o núcleo político entrou em ação. A lobista pôs Afonso em contato com Rogério Arantes, sobrinho do deputado Jovair, que, por sua vez, acionou o seu primo Leonardo Arantes, atual número 2 do Ministério do Trabalho. Com a cadeia de comando identificada e gravada, coube à Polícia Federal aprofundar a investigação e chegar a outros casos de fraude nos processos de registro sindical no Ministério do Trabalho. Além dos deputados Jovair e Paulinho da Força, os investigadores pediram a prisão de Roberto Jefferson e a do deputado Wilson Filho (PTB-PB), ambas também negadas pelo ministro Fachin. Rogério Arantes, Leonardo Arantes e os lobistas Silvio Assis e Verusca Peixoto tiveram a sua prisão decretada.

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OS ALVOS – Os investigadores pediram a prisão preventiva dos deputados Paulinho da Força e Jovair Arantes (Givaldo Barbosa /Agência O Globo - Gilmar Felix/Câmara dos Deputados)
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Em março, quando VEJA revelou em detalhes o funcionamento do esquema, o governo, apesar de todas as evidências, preferiu silenciar e se omitir. O Ministério do Trabalho continuou nas mãos do PTB, a área que cuida da burocracia sindical continuou sob o comando do Solidariedade e Leonardo Arantes, o sobrinho do deputado, continuou mandando e desmandando. Seis anos depois de protocolar o primeiro pedido, o empresário Afonso Rodrigues ainda não conseguiu registrar o seu sindicato.

Publicado em VEJA de 6 de junho de 2018, edição nº 2585

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