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A bela e a fera

Cláudia Cruz se oferece para fazer delação junto com o marido, o ex-deputado Eduardo Cunha. O casal promete um mergulho nos esquemas de corrupção do PMDB

Por Thiago Bronzatto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 12 ago 2017, 06h00 - Publicado em 12 ago 2017, 06h00

À medida que Eduardo Cunha, ex-presi­dente da Câmara dos Deputados, ascendia na carreira política, sua mulher, a jornalista Cláudia Cruz, desfrutava o lado doce do poder. Na divisão de tarefas do casal, ele liderava dezenas de parlamentares e protagonizou o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff; ela gastava um dinheirão em roupas de grife e curtia viagens pelo mundo afora, todas devidamente registradas em fotos multicoloridas nas redes sociais. A influência política do deputado, que recebia propinas em contas bancárias secretas no exterior, ajudava a mordomia dela. Da mesma forma que emergiram juntos, Cunha e Cláudia Cruz sofreram uma derrocada juntos. Na mira da Operação Lava-Jato, o deputado do PMDB perdeu o mandato e está preso em Curitiba desde outubro do ano passado. Já Cláudia Cruz, acusada de evasão de divisas, teve seus bens bloqueados pela Justiça, foi absolvida pelo juiz Sergio Moro em um processo, mas ainda é suspeita de ter feito parte de um esquema de lavagem de dinheiro.

Juntos na alegria e na tristeza, na riqueza e na pobreza, agora os dois estão lado a lado também numa proposta de delação. Em sua negociação com a Procuradoria-Geral da República, o ex-presidente da Câmara resolveu incluir a mulher em seu acordo de colaboração para blindá-­la contra as investigações que ainda estão em andamento. A ideia é que Cláudia Cruz confirme — e reforce — os fatos narrados pelo ex-parlamentar que envolvem seu relacionamento mafioso com a cúpula do PMDB e outros políticos. Se as conversas avançarem, a jornalista poderá receber uma espécie de imunidade judicial. Na prática, não poderá ser processada pelo Ministério Público. Atualmente, Cláudia está na mira de um inquérito que apura a suspeita de que ela tenha feito parte de um esquema para receber recursos por meio de um contrato de empréstimo simulado com uma igreja evangélica pertencente a um ex-deputado aliado de Cunha. Além disso, investigadores identificaram que a jornalista recebeu, de forma suspeita, dinheiro de uma empresa do grupo Libra, doadora de campanha do PMDB e operadora de um terminal no Porto de Santos.

Maus tempos – Preso há dez meses, Eduardo Cunha tenta sua última cartada
Maus tempos – Preso há dez meses, Eduardo Cunha tenta sua última cartada (Heuler Andrey/AFP)

As negociações envolvendo a delação do casal estão chegando a um momento crucial. O ex-deputado já entregou aos investigadores uma segunda leva de anexos com resumos dos crimes que pretende revelar. A primeira foi considerada frágil. Em sua segunda tentativa, Cunha acrescentou novos capítulos. Nos próximos dias, o Ministério Público vai decidir se aceita o acordo com o ex-­deputado. Um investigador da Operação Lava-Jato ouvido por VEJA disse que Cunha tem narrado histórias fartas mas apresentado evidências magras. Cláudia Cruz se propõe a ajudar.

Publicado em VEJA de 16 de agosto de 2017, edição nº 2543

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