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Verba para caixa 2 viajava como ‘lasanha’, relata empresário

Adir Assad conta em depoimento que funcionárias da construtora Delta viajavam com malas que tinham camadas alternadas de roupas e notas de dinheiro

Por Da Redação Atualizado em 9 ago 2017, 22h05 - Publicado em 9 ago 2017, 21h58

O empresário Adir Assad, apontado como operador financeiro do esquema que desviou recursos em obras da construtora Delta, disse em depoimento ao juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Criminal, que os repasses de caixa 2 da empreiteira alcançaram R$ 370 milhões entre 2007 e 2012 e que a propina circulava em malas como “lasanha” (uma camada de roupa, outra camada de dinheiro).

Os depoimentos ocorreram no âmbito da Operação Saqueador. Segundo ele, o dinheiro era desviado nas obras realizadas pela construtora por meio de notas frias de empresas que tinham Assad entre os sócios . “A demanda foi crescendo em 2010 e 2011”, pontuou. Assad confirmou ao juiz que o dono da Delta, Fernando Cavendish, mencionou que grande parte do dinheiro desviado ia para o ex-governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), que estaria aumentando a demanda por propinas. “[Ele disse que] Grande parte desse dinheiro vinha para o Sérgio Cabral e não podia atrasar”.

Assad disse que foi procurado pela Delta para entrar no esquema, com o argumento de que a empresa estava tendo problemas com fornecedores. A partir do entendimento, começou a funcionar a emissão das notas frias para o desvio de dinheiro pelo pagamento das obras. “Chegou uma hora que tínhamos 14 ou 15 empresas para dar o faturamento para eles [da Delta] operarem as obras”.

O empresário e lobista contou que, apesar de ter começado a fazer negócios com a Delta em 2007, somente no fim de 2010 esteve pessoalmente com Cavendish. A partir daí, houve a indicação de Cláudia Salgado, uma funcionária da companhia, para tratar da emissão das notas e dos repasses de dinheiro. Dos valores apresentados nos documentos, as empresas dele ficavam com um percentual pelo serviço.

‘Lasanha’

O empresário informou que a Delta montou uma equipe com quatro funcionárias que iam a São Paulo para pegar o dinheiro. Os valores eram de até 170 mil reais, para caber nas malas. “Duas vezes por semana iam buscar o dinheiro. Não colocava mais do que 150 mil ou 170 mil reais por mala”, disse. Ele acrescentou que as parcelas, consideradas por ele como “menores”, ocorriam nestes valores para facilitar o transporte e evitar roubos. O transporte era feito em malas com o dinheiro arrumado entre roupas. “Elas faziam como lasanha, vai. Uma camada de roupa outra de dinheiro”, detalhou.

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Duas vezes por semana, [funcionárias da Delta] iam buscar o dinheiro. Não colocava mais do que 150 mil ou 170 mil reais por mala. (..) Elas faziam como lasanha, vai. Uma camada de roupa outra de dinheiro.

Adir Assad

Segundo Assad, as empreiteiras do país começaram a ter problemas a partir da instalação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Cachoeira, em abril de 2012, para apurar o envolvimento do contraventor Carlos Augusto de Almeida Ramos, conhecido como Carlinhos Cachoeira, com políticos e agentes públicos. “Quando instalaram a CPMI do Carlos Ramos eles não sabiam exatamente onde ia bater isso. Quando começou a respingar nas nossas empresas, começou um alvoroço no mercado”, contou. Assad reconheceu que o esquema em que se envolveu era ilícito e disse que se arrepende de ter participado.

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Operação Irmandade

Pela manhã, o empresário já tinha prestado depoimento ao juiz Bretas, mas no âmbito da Operação Irmandade. Nos dois depoimentos, Assad destacou que estava falando à Justiça pela primeira vez. Antes de ser ouvido, ele trocou de defesa, que agora está a cargo do advogado Pedro Luiz Bueno de Andrade. O defensor disse que a mudança foi por uma questão de estratégia e não teria sido feita para tentar um acordo de delação premiada. Andrade também defende Samir Assad (irmão de Adir) e o sócio dos dois, Marcello José Abudd.

Abudd prestou depoimento logo em seguida e confirmou as entregas semanais de dinheiro à empresa Delta. O empresário negou ter informação sobre o envolvimento de algum político e disse que não tinha contato com qualquer outra pessoa no esquema. Até ser preso, só conhecia Adir Assad e também disse estar arrependido. “Se eu soubesse dessa dimensão e do que se praticava jamais teria cometido este erro. Me arrependo tremendamente.”

Foram ouvidas ainda as irmãs Sônia Mariza Branco e Sandra Maria Branco Málago. As duas eram antigas funcionárias de Adir Assad e, com a criação de empresas para o esquema das notas frias, foram incluídas como sócias. “Eu cheguei a perguntar porque estava fazendo notas e ele disse que era uma jogada de imposto com as empresas”, contou Sônia. Já Sandra disse que sabia que havia algo errado, mas precisava manter o emprego. “Tinha medo de desagradar e ser mandada embora. Tinha os meus filhos, não tinha marido para ajudar.”

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Carlinhos Cachoeira foi o último ouvido pelo juiz Bretas na tarde desta quarta-feira e contou que esteve três ou quatro vezes em reuniões na Delta, com a qual iria desenvolver o projeto de loteamento da Fazenda Gama, que no entanto não foi adiante. Cachoeira contou ainda que não recebeu recursos da Delta e conheceu Cavendish em um jantar, em 2010, quando foi apresentado a ele pelo ex-senador Demóstenes Torres (então no DEM-GO). Depois disso, afirmou nunca mais ter tido contato com o empreiteiro. “Sou inocente. Totalmente inocente”, disse no depoimento.

(Com Agência Brasil)

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