União Brasil quer se mudar para ficar longe do partido de Bolsonaro
Rachada, legenda vive guerra fratricida entre o atual presidente e seu antecessor e tem planos de lançar o governador Ronaldo Caiado à Presidência
Não é exatamente uma desavença entre inquilinos, mas o União Brasil, partido que foi criado a partir da antiga legenda de Jair Bolsonaro, o PSL, com o Democratas, quer distância da atual sigla do capitão, o PL, e procura uma nova sede. Hoje ambos dividem o mesmo andar em um complexo de escritórios na região central de Brasília.
Interlocutores do União dizem que o motivo da mudança é financeiro, embora a agremiação seja a terceira com o maior caixa para as eleições de outubro, com 536 milhões segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Conforme mostrou o Radar, antes mesmo de assumir o comando da legenda, o presidente do União Antônio Rueda, que acusa o antigo padrinho político Luciano Bivar de arquitetar um plano para assassiná-lo, decidiu não usar o escritório da sigla.
No governo Lula, o União Brasil foi contemplado com três ministérios – Comunicações, Turismo e Integração Nacional – em uma costura que levou parte da antiga cúpula, incluindo Bivar, a orbitar em torno do petista. Rachado desde sua criação em 2021, o partido, no entanto, tem planos de lançar o governador de Goiás Ronaldo Caiado à Presidência da República em 2026 e mantém boas relações com vários expoentes do bolsonarismo. Em junho, na posse de Rueda, por exemplo, o senador Flávio Bolsonaro, os ex-ministros do governo Bolsonaro Ciro Nogueira, Fábio Faria e Henrique Mandetta, além do o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, marcaram presença.
Briga pelo comando do União Brasil
Embora a posse de Rueda tenha dado demonstrações da capilaridade política do novo cacique, o ex-presidente do União disse a VEJA que buscará na justiça reverter a eleição do antigo aliado sob a alegação de supostas irregularidades na votação.
Antigos aliados que conhecem muito bem o passado um do outro, Luciano Bivar se livrou de ser expulso da legenda e é alvo de um processo no Supremo Tribunal Federal (STF) em que é acusado por Rueda de ameaças e de planejar matá-lo. A gravação parcial em vídeo de um diálogo entre Bivar e Rueda é um dos elementos que sustentam a acusação. Nela, Bivar teria ameaçado de morte a filha do desafeto, uma criança de dez anos de idade, que, por causa do episódio, foi retirada do país e hoje mora na Suíça.
Em um áudio também anexado ao caso, uma testemunha diz ter presenciado uma conversa telefônica de Luciano Bivar em que ele supostamente relata ter contratado dois pistoleiros para executar Rueda em uma emboscada em Brasília. Investigadores também apuram o possível envolvimento do deputado no incêndio da casa de praia do presidente do partido e uma propriedade da irmã de Rueda, a advogada Maria Emília Rueda. Luciano Bivar nega envolvimento com o incêndio e diz que as pretensa ameaças foram apenas uma conversa acalorada sem intenção de admoestar ninguém.