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Traições, vaidade e ambição: a batalha familiar no clã Garotinho

O momento é de desmanche para o grupo, cujas figuras ainda mantêm influência na política fluminense

Por Anita Prado Atualizado em 21 jul 2025, 12h18 - Publicado em 20 jul 2025, 08h00

Mais conhecido nos últimos tempos pelo entra e sai da prisão por acusações variadas, entre elas as de compra de votos e corrupção, o ex-governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho montou uma das máquinas eleitorais mais eficientes da história fluminense, até hoje influente na política do estado. O ex-radialista de Campos dos Goytacazes chegou a angariar votos até para a mulher, Rosinha, que o sucedeu no cargo, em 2003. Agora, contudo, o clã vive um momento de desmanche. A ideia era reforçar e perpetuar a força do sobrenome por meio dos filhos Clarissa e Wladimir, também eleitos para cargos públicos. Não deu certo e o negócio descambou para uma guerra interna que destruiu alianças, isolou a matriarca e enterrou a imagem de unidade que lustrava o poder da família.

A disputa que coloca em lados opostos o pai, de 65 anos, a filha, de 43, e o filho, de 40, envolve acusações de traição, oportunismo e vaidade. O racha mais profundo é entre Clarissa e Wladimir, o único a manter cargo eletivo — é prefeito de Campos —, que já se estranhavam quando a relação desandou de vez na pré-campanha de 2022. Ele queria que a irmã tentasse novo mandato na Câmara dos Deputados, para manter alguém da família em Brasília. Clarissa, à época planejando engravidar, preferia ficar no Rio e concorrer a uma vaga na Assembleia Legislativa (Alerj). Ocorre que o irmão já havia reservado esse espaço para outro nome e não voltou atrás. Clarissa optou, então, por tentar o Senado, sem chance de ser eleita, ainda por cima alinhando-se à ultradireita, corrente à qual a família se opõe atualmente. “Ela não aceitou dividir espaço. Agora não está em composição política nenhuma e acabamos sem ninguém na Câmara”, criticou Wladimir em entrevista a VEJA.

Clarissa, por seu lado, também em conversa com a reportagem, acusa o irmão de ter conspirado contra ela nos bastidores e diz sofrer crises de ansiedade desencadeadas pelas brigas. A reunião familiar que selou sua escolha de não se lançar à Câmara, relata, foi marcada por gritos e portas batendo. “Wladimir chegou a comentar com outras pessoas que era um absurdo alguém abrir mão de uma candidatura por causa de um filho. Foi absolutamente insensível. Nossa família sempre foi muito unida politicamente. Nunca houve briga enquanto éramos só nós três — meu pai, minha mãe e eu. Agora ele quer liderar sozinho”, desabafa. E profetiza: “A soberba precede a ruína”.

DESABAFO - Rosinha, em postagem nas redes: “Rejeitada, doída e sofrida”
DESABAFO - Rosinha, em postagem nas redes: “Rejeitada, doída e sofrida” (@rosinhagarotinho/Instagram)

Entornando mais o caldo familiar, nos últimos meses, Clarissa fez acenos públicos a outro político de Campos: Rodrigo Bacellar (União Brasil), presidente da Alerj e, ao que tudo indica, nome favorito do governador Cláudio Castro para sua sucessão estadual. Bacellar, além de ser arqui-inimigo de Wladimir, é filho de um adversário histórico dos Garotinho na cidade. Para o prefeito de Campos, essa aproximação tem a ver com dívidas eleitorais da irmã: “Ela deve estar precisando do dinheiro do União Brasil”, espeta. Clarissa rebate: “Ele faz com o Bacellar o que fez com a gente: descarta quem não cabe no próprio projeto político”.

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Garotinho e Wladimir também estão rompidos. O filho diz que a ruptura se deu no mesmo ano de 2022, quando anunciou apoio à reeleição do governador Cláudio Castro, com quem firmou um acordo para destravar obras em Campos. Em certo momento, Garotinho se lançou candidato (logo desistiu), mas Wladimir manteve a palavra a Castro. “Fiz o que achei que era certo”, insiste. Já o patriarca atribui o conflito a uma picuinha municipal anterior: o filho ignorou sua recomendação para não antecipar a eleição da presidência da Câmara de Vereadores em Campos e o prefeito acabou perdendo o controle da casa para um irmão do desafeto Bacellar. “É um acúmulo de erros. Liderança não se impõe, se constrói. Ninguém será líder atropelando a história”, critica o patriarca, que recentemente publicou nas redes sociais que o filho estaria tentando “enterrá-lo vivo”. Conta que, na última vez em que se viram, propôs uma pacificação, que foi recusada. “Sigo sendo pai. Meu colo está aberto para ele”, concede. Já o relacionamento dele com Clarissa é tenso, mas civilizado. “Ela deu uma guinada muito forte à direita, com a qual não concordo. Mas, talvez por ser mais madura, sabe separar a questão política da familiar”, teoriza.

Wladimir mira voo alto: é citado nos bastidores como um nome que pode compor a chapa com Eduardo Paes ao governo do estado. A influência em Campos e a capacidade de dialogar com grupos à direita e à esquerda são trunfos, mas a família não põe fé. “Pensando racionalmente, se eu fosse o Eduardo, por que colocaria de vice alguém que já vai me apoiar de qualquer forma?”, questiona Garotinho. Nesse tabuleiro fragmentado, Rosinha, 62, se tornou a última ponte de diálogo possível, embora improvável — apesar de também estar magoada com Wladimir. Nas redes, postou que a Bíblia diz que um dia os filhos se voltarão contra os pais, mas não esperava passar por isso na própria casa, e que se sente “rejeitada, doída e sofrida”. Suas tentativas de apaziguamento até agora não deram em nada. Ao que tudo indica, a luta de Garotinho versus Garotinho deve seguir quente.

Publicado em VEJA de 18 de julho de 2025, edição nº 2953

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