Ticiana Villas Boas, mulher de Joesley, contesta executivo da JBS
Declaração foi usada por Patricia Abravanel, filha de Silvio Santos e mulher do deputado Fábio Faria, em ação por danos morais contra o delator Ricardo Saud
A apresentadora de TV Ticiana Villas Boas, mulher do empresário e delator Joesley Batista, dono do Grupo J&F, que controla a JBS, contestou um trecho do anexo da delação premiada do diretor de relações institucionais da empresa, Ricardo Saud, em que ele relata o pagamento de propina ao governador do Rio Grande do Norte, Robinson Faria (PSD), e ao filho dele, o deputado federal Fábio Faria (PSD-RN).
Por meio de um áudio enviado a Patricia Abravanel (ouça abaixo), mulher do deputado e filha do empresário e apresentador Silvio Santos, no dia 1º de junho, Ticiana presta solidariedade e desmente a versão de Saud de que um jantar na casa de Joesley antes das eleições de 2014, do qual Patricia participou, destinou-se à negociação de pagamentos indevidos a Robinson e Fábio Faria. Na semana passada, a coluna Radar havia antecipado que uma gravação colocava em dúvida a delação do executivo.
A mulher de Joesley Batista classifica o relato de Ricardo Saud como “loucura total” e afirma que “então, o que eu quero falar é que eu acho um absurdo isso tudo… que tá acontecendo. É… aquele jantar, imagina só, não tem nada a ver… do que falaram, foi um jantar normal, eu não vi nada de, de, de, dinheiro, de… de nada que beirasse ser ilícito”. Ticiana Villas Boas ainda se dispõe a testemunhar em defesa de Patricia caso necessário.
Em seu depoimento à Procuradoria-Geral da República (PGR), Ricardo Saud disse que “foi um jantar muito elegante, até. Foi o Fábio Faria com a noiva, dele, a Patricia Abravanel, filha do Silvio Santos, foi o Robinson Faria com a esposa dele, nós todos com as esposas, tal, pra tratar de propina. É até bacana né, todo mundo com as esposas ali junto.”
Segundo o delator, o jantar serviu ao acerto de 10 milhões de reais em propina ao governador e ao deputado federal, supostamente paga por meio de doações oficiais disfarçadas, dinheiro vivo e notas frias de escritórios de advocacia. O valor, de acordo com Saud, foi desembolsado em troca da ajuda de Robinson Faria, caso fosse eleito, em concessões de água e esgoto no Rio Grande do Norte, do interesse do Grupo J&F.
O áudio enviado por Ticiana Villas Boas é um dos elementos considerados por Patricia Abravanel em uma ação por danos morais por meio da qual ela pede que Ricardo Saud seja condenado a pagar uma indenização de ao menos 300.000 reais.
Na ação, protocolada na Vara Cível de Pinheiros, na capital paulista, a defesa de Patricia diz que o jantar foi “um encontro social entre casais, com conversas informais”, classifica o depoimento do executivo como “calunioso” e alega que “no afã de tornar sua delação mais vistosa ou atraente por se tratar a autora de pessoa famosa, o réu envolve a Autora em situação que não lhe diz respeito”.
Ainda de acordo com o pedido, a repercussão do depoimento do executivo causou “abalos psíquico e moral” a Patricia Abravanel e danos à imagem dela, “com repercussão negativa nas redes sociais, inclusive prejudicando seus negócios”.
Ao contrário do que declarou Ricardo Saud, Patricia Abravanel também sustenta na ação por danos morais que o jantar ocorreu no final de semana do dia 7 de novembro de 2014, já depois da eleição. Foi nesta ocasião que, segundo Patricia, ela conheceu Ticiana e Joesley e convidou o casal ao chá de bebê de seu filho, em novembro, quando Silvio Santos teria conhecido Ticiana. A mulher de Joesley acabou contratada pelo SBT em abril de 2015.
Caso Saud seja condenado, o dinheiro será destinado à Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD).
Leia aqui a íntegra da ação movida por Patricia Abravanel.
Outro lado
Por meio de nota, Ticiana Villas Boas confirma que o áudio é verdadeiro e foi enviado por ela “em apoio à amiga e colega de trabalho Patricia Abravanel”. A jornalista sustenta que nem ela nem Patricia presenciaram nenhuma tratativa ilícita, mas que homens e mulheres se dividiram “em vários momentos do encontro”.
“Como revela o áudio, nem ela nem Patricia, durante o período em que estiveram juntas no jantar em sua casa, presenciaram qualquer conversa com conteúdo ilícito. Em vários momentos do encontro, os casais se dividiram em grupos de homens e mulheres, e Ticiana imaginou que Patricia, assim como ela, não sabia que nas conversas entre os maridos eles trataram de propina. Por isso ela se solidarizou e se dispôs a defendê-la caso fosse necessário, com a intenção de evitar que Patricia fosse envolvida no caso”.
Também por meio de nota, o Grupo J&F declara que “nenhum dos colaboradores mentiu” e que as tratativas de propina relatadas por Ricardo Saud ocorreram em “conversa reservada, sem a participação nem conhecimento das esposas”.
“Nenhum dos colaboradores mentiu em qualquer depoimento prestado à Procuradoria-Geral da República e ao Ministério Público Federal. Os colaboradores apresentaram grande número de informações e provas à PGR e em atendimento aos demais ofícios do MP, que estão sendo tratados dentro dos trâmites legais. Sobre a questão trazida pela reportagem, é importante esclarecer que o fato ocorreu na data e evento conforme relatados, em conversa reservada, sem a participação nem conhecimento das esposas. Os colaboradores continuam à disposição para cooperar com a Justiça”.
A transcrição do áudio
Leia abaixo a transcrição do áudio enviado por Ticiana Villas Boas a Patricia Abravanel no dia 1º de junho:
“Oi, Pati! Sou eu, Tici. É…tô ligando pra você e mandando essa mensagem pra… te falar do meu apoio, é…que eu tô do seu lado, quer diz(er)… não existe lado nessa história… Mas é assim, eu tô fora do País, já tem um tempo, né, como eu já tinha te falado, e ficou… e optei por não ver notícia, não ver televisão, porque eu tô… péssima, me magoa muito, né, óbvio. Você deve saber tudo o que tá acontecendo aí pelas notícias e tudo. Mas, é… me mandaram, tsc…é… um print de notícias relacionadas a você, que você…que parece que um executivo do… da JBS que falou que cê tava num jantar e num sei o quê de propina, uma loucura total… E que.. e hoje eu recebi (isso foi ontem), hoje eu recebi outro print de que você… não foi print esse, foi uma mensagem dizendo que você vai ter que depor… Então o que eu quero falar é que eu acho um absurdo isso tudo… que tá acontecendo. É… aquele jantar, imagina só, não tem nada a ver… do que falaram, foi um jantar normal, eu não vi nada de, de, de, dinheiro, de… de nada que beirasse ser ilícito. Joesley me falou que é um amigo dele, é… com uns casais, é… jantar em casa, como tem, praticamente como tinha, praticamente, milhõ…, jantar todo dia na minha casa, com vários políticos, vários empresários, tudo presidente, tudo na minha casa, ia, então, óbvio, não achei nada demais, nada de diferente do que… do que eu tô acostumada e não conversamos nada sobre isso. É, conversamos sobre é… o SBT, sobre filho, eu acho que eu tava grávida na época, você logo depois me chamou pra ir pro chá, pro chá de bebê de Pedro, eu fui. Então… então eu quero, seguinte, na prática dizer que se você for chamada pra depor ou se você precisar de qualquer coisa minha, do meu depoimento, que eu fale, eu tô à disposição. Tanto pra falar pra sua família, se você quiser. Se você for chamada pra depor, ou você… ou tiver qualquer tipo de implicação pra você, eu sou sua testemunha de defesa e vou deixar claramente que é um absurdo. Primeiro, que tudo que tá acontecendo aí, que Joesley falou, eu não sabia de nada, é… soube praticamente… um pouquinho antes, mas praticamente junto com todo mundo, na televisão. Então, eu tô assustada com tudo. E esse é… eu imagino que você também não saiba de nada, não sei… bem, não sei nada também, de nada da sua vida, mas… Mas o que eu quero dizer é que eu… eu tô aqui pra o que, o que você precisar e acho que nós somos vítimas de uma coisa que a gente não tem nada a ver. E… e é isso. Gosto muito de você e o que eu puder ajudar pra minimizar aí esse absurdo que aconteceu com você, é o mínimo que eu posso fazer, eu faço. Um beijo.”