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Suspeita de atentado transforma disputa no União Brasil em caso de polícia

Episódio envolve troca de acusações, denúncia de corrupção e ameaças de morte

Por Laryssa Borges Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 3 jun 2024, 17h16 - Publicado em 15 mar 2024, 06h00

Na quarta-feira 13, o União Brasil instaurou um processo para expulsar o deputado federal Luciano Bivar, ninguém menos que o presidente do partido. Dois dias antes, em Pernambuco, o fogo destruiu uma casa do advogado Antonio Rueda, vice-presidente da sigla, e outra da irmã dele, a tesoureira. Os dirigentes travam há meses uma disputa pelo comando da legenda, a terceira maior do país, que tem 59 deputados, sete senadores e um orçamento superior a 500 milhões de reais este ano. Rueda disse que ele e a irmã foram alvo de um atentado político e não precisou nem citar o nome de quem eles consideram como o principal suspeito. O embate entre os Rueda e Bivar já rendeu ameaças, inclusive de morte, e atingiu o ponto de ebulição com o incêndio supostamente criminoso. Uma das estrelas do partido, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, classificou o ataque como inaceitável, assinou a representação para a expulsão do deputado e disse que pedirá ao Tribunal Superior Eleitoral a cassação do mandato do colega. Na iminência de ser destituído do cargo, Bivar anunciou que cairia atirando — e cumpriu a promessa.

Sem apresentar uma mísera evidência, o presidente do União acusou o seu vice de utilizar a estrutura da sigla para traficar influência, mercadejar alianças políticas e negociar facilidades junto a tribunais superiores. Também afirma ter cedido um barco e um imóvel em Miami para supostas tramoias do ex-aliado, vincula a esposa dele ao furto de um cofre de sua propriedade e ainda insinua que o desafeto desviou dinheiro do caixa do partido. Bivar também imputa ao governador Ronaldo Caiado o envolvimento num assassinato em Goiás — sem provas, evidentemente. Em nota, o governador negou ser investigado no caso, afirmou que Bivar “mente de forma despudorada e criminosa” e disse que acionará judicialmente o parlamentar.

SEM PROVAS - Bivar: cofre roubado, acusações de desvios e assassinato
SEM PROVAS - Bivar: cofre roubado, acusações de desvios e assassinato (União na Câmara/Flickr)

Poucas atividades são tão cobiçadas quanto a de dirigente de partido político. As atuais 29 legendas movimentarão em 2024, um ano eleitoral, mais de 6 bilhões de reais em recursos públicos — uma estrutura que, quando mal admi­nistrada, se transforma numa máquina de produzir escândalos. Com apenas dois anos de existência, o União Brasil pode superar tudo que já se viu até hoje em termos de absurdo.

Antigos aliados que conhecem muito bem o passado um do outro, Bivar e Rueda protagonizam uma troca de acusações de arrepiar. Antes de ter a casa incendiada, o vice-presidente da sigla já havia denunciado à Justiça três ameaças que teria sofrido por parte do agora adversário. No processo, ao qual VEJA teve acesso, Rueda afirma ter tomado conhecimento de um plano para matá-lo. Segundo ele, Bivar teria confidenciado a uma pessoa próxima que já havia contratado assassinos de aluguel e reservado 20 milhões de reais para concretizar a empreitada.

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O advogado arrolou como testemunha o vereador Milton Leite, presidente da Câmara Municipal de São Paulo, que teria ouvido a confissão do deputado. Procurado, Leite disse que não iria comentar. Rueda também anexou ao processo um áudio mostrando que Bivar teria ameaçado de morte ele e a filha, uma criança de 10 anos de idade, e outro contendo o relato de uma pessoa sobre uma emboscada armada para surpreendê-­lo em Brasília. Essa última gravação foi apresentada ao Supremo Tribunal Federal uma semana antes do incêndio em Pernambuco.

LABAREDA - Destroços nas casas: vestígios indicam que incêndio foi criminoso
LABAREDA - Destroços nas casas: vestígios indicam que incêndio foi criminoso (//Reprodução)

Localizadas a cerca de 500 metros de um imóvel de Bivar e dentro de um condomínio particular no município de Ipojuca (PE), as duas casas começaram a pegar fogo simultaneamente. Em ambas, as labaredas atingiram primeiramente os móveis, o que reforça a possibilidade de uma ação criminosa. Ouvido por VEJA, o deputado minimiza o conteúdo das gravações e nega envolvimento com os incêndios. “Se fizerem alguma ilação direta entre mim e isso que aconteceu vou processar quem quer que seja por danos morais”, disse Bivar. Mais uma vez sem provas, ele jura que também foi ameaçado pelo advo­ga­do. “A diferença é que eu não gravei. Mas ele ameaçou minha família”, diz. Em nota, Rueda disse que as acusações de Bivar são “absurdas e fantasiosas” e afirmou que o contra-ataque do deputado tem “o objetivo espúrio de tentar desviar o foco das ameaças e dos graves atentados ocorridos em nossas residências no litoral de Pernambuco”.

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O União Brasil nasceu da fusão entre o DEM e o PSL, partido que era presidido por Bivar em 2018 e pelo qual Jair Bolsonaro se elegeu presidente da República. Logo no início do governo, o deputado se desentendeu com a ala bolsonarista da legenda que, na época, se empenhou para reabrir a investigação de um rumoroso crime ocorrido em 1982 envolvendo Bivar. O caso foi noticiado por VEJA em novembro de 2019. Há quarenta anos, o deputado foi apontado pela polícia de Pernambuco como suspeito da morte de uma massagista, com quem teria tido um caso amoroso. O corpo da mulher apareceu boiando no Rio Capibaribe, em Recife. O inquérito nunca foi concluído. Perguntado a respeito, ele disse que a tentativa de enredá-lo no assassinato foi uma armação perpetrada por seus inimigos e que nunca foi sequer intimado a prestar esclarecimentos sobre o assunto. Nada de novo, portanto. Coisas da política.

Publicado em VEJA de 15 de março de 2024, edição nº 2884

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