Último Mês: Veja por apenas 4,00/mês
Continua após publicidade

Sete vezes Jair

Publicado em VEJA de 16 de janeiro de 2019, edição nº 2617

Por Roberto Pompeu de Toledo
Atualizado em 4 jun 2024, 16h16 - Publicado em 11 jan 2019, 07h00

1

Na cerimônia de posse do novo ministro da Defesa, o presidente Jair Bolsonaro deu um passa-moleque na história. Com os olhos voltados para o ainda comandante do Exército, general Eduardo Villas Boas, disse, ao abrir o seu discurso: “Muito obrigado, comandante Villas Boas. O que conversamos morrerá entre nós. O senhor é um dos responsáveis por eu estar aqui”. Para os documentos sigilosos dos governos há pelo menos um prazo de validade. Vencido, os historiadores ganham a oportunidade de enriquecer ou corrigir o que até então passou como registro fiel dos fatos. Nesse caso, se o que os dois conversaram morrerá com eles, vai se condenar à eternidade o silêncio sobre um fato anunciado como crucial a ponto de ter decidido a eleição.

2

No discurso no Planalto, Bolsonaro decretou o fim do socialismo, da inversão de valores, do gigantismo estatal e do politicamente correto. No parlatório, disse que “pela primeira vez o Brasil irá priorizar a educação básica”. O chanceler Ernesto Araújo definiu o objetivo da “luta extraordinária” do presidente como o de “reconquistar o Brasil e devolver o Brasil aos brasileiros”. O “nunca ­antes neste país” está de volta. É bom Jair se acostumando: o novo governo é tão jactancioso, nos ímpetos salvacionistas, quanto aquele outro. Para quem já se cansou com as refundações do país, resta o tédio, profundo.

3

Bolsonaro mostrou-se à vontade e no geral bem informado, na entrevista ao SBT, diferentemente do candidato inseguro e dependente do Posto Ipiranga das entrevistas da campanha. Ao limitar-se a falar só a jornais e emissoras amigas, limita-se a si próprio.

4

Bolsonaro, na entrevista ao SBT, e o chanceler Araújo admitiram a possibilidade de ceder espaço para uma base militar americana em território nacional. Antes, o presidente já se comprometera a mudar a embaixada em Tel-Aviv para Jerusalém. Nos dois casos a outra parte não pedira; foram oferecimentos gratuitos. A cogitação da base americana acabou afastada, ao que consta por influência dos militares, mas é bom Jair se acostumando: o novo governo tem a tendência de atravessar a rua para deliberadamente pisar em casca de banana.

Continua após a publicidade

Qualquer problema empalidece diante do potencial destruidor dos filhos

5

 

A ministra dos Direitos Hu­manos, Damares Alves, insurgiu-se contra a possibilidade de os alunos estudarem em faculdades fora do estado onde vivem e proclamou que menino deve se vestir de azul e menina de rosa. No primeiro caso conferiu status de problema ao que para muitos alunos é libertação. No segundo, deu asas a um infantil devaneio passadista. Qualquer problema causado por ministros, no entanto, inclusive as trombadas e os bate-cabeças, empalidece diante do potencial destruidor dos filhos do presidente. Eles estão em todas, falam de tudo. De quebra, um está enroscado nas embrulhadas de um assessor e outro em bate-­boca com ex-namorada a que não faltam inconfidências de alcova.

6

Bolsonaro anunciou ter assinado aumento do IOF, até se desculpou por isso, mas não assinou. Um assessor de segundo escalão, o secretário da Receita, Marcos Cintra, precisou vir a público para esclarecer a questão. É bom Jair se acos­tumando: o presidente ainda não aprendeu a ser presidencial. Fez muito rápido o percurso do baixo clero para a candidatura, da candidatura para a cabeça de um movimento, daí para o Planalto. Não há receita, mas insistência no Twitter e nos lives pela internet não parece um bom caminho. Nem Donald Trump deve ser um modelo — mesmo porque está ameaçado de cair.

Continua após a publicidade

7

Não dá para torcer contra. É torcer contra os interesses do Brasil e dos brasileiros, e embirrar além da conta com o resultado das urnas. Que o governo Bolsonaro tenha menos trapalhadas, menos protagonismo da prole bolsonara, menos falsos problemas, menos infantilismos e menos reacionarismos, e mais momentos bonitos e politicamente corretos como o de Michelle Bolsonaro a discursar em libras no parlatório do Palácio do Planalto.

Publicado em VEJA de 16 de janeiro de 2019, edição nº 2617

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Veja e Vote.

A síntese sempre atualizada de tudo que acontece nas Eleições 2024.

OFERTA
VEJA E VOTE

Digital Veja e Vote
Digital Veja e Vote

Acesso ilimitado aos sites, apps, edições digitais e acervos de todas as marcas Abril

1 Mês por 4,00

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (equivalente a 12,50 por revista)

a partir de 49,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.