Secretário de Alckmin conta com chefe para disputar governo de SP
Colocando-se à esquerda do PSDB, Floriano Pesaro cola na candidatura do tucano ao Planalto e se apresenta como pré-candidato a governador pelo partido
Há três anos como secretário de Desenvolvimento Social de São Paulo, Floriano Pesaro (PSDB) se divide hoje entre dois grandes objetivos. O primeiro é eleger o chefe, o governador Geraldo Alckmin (PSDB), como o próximo presidente da República. O outro pode ser ainda mais difícil: ser o candidato tucano ao governo de São Paulo, uma tarefa que coube a apenas três pessoas (Mário Covas, José Serra e o próprio Alckmin) em 24 anos, ou seis eleições disputadas.
Para entrar nessa lista, diz estar pronto para disputar prévias com quem quer que seja e conta com o apoio de Alckmin. “Eu fico muito feliz que seja assim, que no meu partido eu tenha espaço para disputar uma prévia”, diz Floriano, para quem João Doria deve concluir o atual mandato na Prefeitura da capital. “O grande comandante desse processo vai ser o governador Alckmin. Tenho muita confiança no governador.”
Nesta entrevista a VEJA, Floriano Pesaro falou sobre sua avaliação sobre o momento do partido e as relações com o vice-governador Márcio França (PSB). E defendeu que não há necessidade de alternância de poder em São Paulo. “Quando é bom, não tem por que mexer”.
O senhor é secretário do governo de São Paulo. A renúncia de Geraldo Alckmin para disputar a Presidência vai representar uma situação inédita. Diferentemente de 2006 e 2010, o vice que se prepara para assumir, Márcio França (PSB), pretende disputar a reeleição à revelia do PSDB. Como disputar contra o próprio governo? Nós não vamos fazer campanha contra, vamos fazer a favor. O vice-governador tem toda a legitimidade para disputar a própria reeleição e montar seu arco de alianças, também servindo de apoio à candidatura de Alckmin à Presidência. Tenho convicção de que o PSDB não vai abrir mão de ter candidato por ter governado o estado por 24 anos, mas nosso adversário não é o Márcio França nem o PSB. Nossos adversários são o PT e os seus aliados. Márcio França como candidato será um aliado de Alckmin e, portanto, será nosso aliado também. Quem chegar na frente, vai compor com o outro.
Bom, o senhor mesmo fala em 24 anos de governo do PSDB. Em política, se fala muito na necessidade de alternância de poder… Só quando o governo é ruim. Quando é bom, não tem por que mexer. O governo de São Paulo é uma mostra do que o PSDB pode fazer pelo Brasil. Temos as melhores rodovias, um serviço de saúde procurado por todo o Brasil, a educação com as melhores notas e a melhor segurança pública, mesmo sendo o estado mais populoso. Claro que ainda não somos a Suíça e temos ainda mais o que avançar nessas áreas, mas o importante é se manter no rumo certo.
Mas o senhor não vê carências? O calendário das obras do Metrô está atrasado há muitos anos, por exemplo. Preciso lembrar que tivemos enfrentamentos com o Ministério Público e com os sindicatos. O Sindicato dos Metroviários é contra a população e a favor dos próprios benefícios. Foram autores de diversas ações que, de uma forma ou de outra, atrasaram as obras. É preciso um enfrentamento contra o corporativismo público.
Nossos adversários são o PT e os seus aliados. Márcio França como candidato será um aliado de Alckmin e, portanto, será nosso aliado também. Quem chegar na frente, vai compor com o outro.
O senhor diz que pretende disputar prévias. Em 2016, prévias para a Prefeitura de São Paulo se transformaram em um conflito em campo aberto dentro do PSDB. Não teme que o partido saia mais fragmentado? Muitas vezes, se confunde debate interno, o que é normal em um partido, com briga. Eu sempre digo: desconfie de partidos onde não há isso, porque provavelmente tem um caudilho que controla tudo. O PSDB tem líderes e às vezes eles divergem. Fico muito feliz que seja assim, que no meu partido eu tenha espaço para disputar uma prévia. Disputar com o [José] Serra e com o [Luiz Felipe] D’Avila é saudável. Me vejo competitivo para enfrentar os dois.
Como o senhor vê a situação do prefeito João Doria? Nos últimos meses, ele viu a reprovação à sua administração subir. O que acha dele se projetar para disputar outros cargos? Governar a cidade de São Paulo talvez seja mais difícil do que governar o Brasil. É natural que a expectativa fosse maior que a realização de fato, mas não me pautaria por pesquisas nesse momento. É preciso dar tempo ao Doria para que continue na prefeitura, firme e forte e, ao final, fazer a avaliação, que tenho certeza que será boa. Projetar-se é uma decisão que depende da vontade política dele, mas são quatro anos, precisa do conjunto para dizer se foi bom. Acho que ele deveria concluir esse mandato.
Como surgiu a ideia de ser candidato ao governo? Nos meus primeiros dois anos no Governo do Estado, ficava bastante restrito ao palácio. Agora, eu tive a oportunidade de sair e conhecer o estado, percorrendo quase 200 municípios do interior de São Paulo e convivendo, direta ou indiretamente, com os 645 prefeitos. Percebendo uma troca geracional na política, um desejo imenso da população por renovação, conclui que havia espaço para trabalhar pela sucessão do governador Alckmin. De um lado, fortalecendo a candidatura dele à Presidência. De outro, mostrando experiência administrativa e passado irretocável, sem mancha nem participação em qualquer tipo de esquema.
Mas e dentro do PSDB? O partido alterna entre poucos caciques nas candidaturas executivas. E agora está às voltas com o nome do senador José Serra. Existe uma resistência? Muito pelo contrário, o PSDB clama por renovação. Eu me coloco no PSDB como uma pessoa jovem, com experiência e que é tucano de primeira hora. Na minha caminhada pelos diretórios, sinto uma adesão surpreendente à minha candidatura. O que mais escutei é que o partido precisa de renovação e de quadros novos e isso me estimula.
O senhor está falando das bases, dos diretórios locais. E o comando do partido? Caminhamos para que a sucessão seja através das prévias e, nesse momento, a base será muito importante. Se você pensar do ponto de vista de cúpula, o grande comandante desse processo vai ser o governador Alckmin. Tenho muita confiança no governador e naquilo que ele pensa a meu respeito. Ele tem demonstrado nos últimos três anos um carinho por mim e pelo meu trabalho.
É preciso dar tempo ao Doria para que continue na prefeitura, firme e forte e, ao final, fazer a avaliação, que tenho certeza que será boa.
O senhor é visto como um nome do PSDB mais engajado com questões de minorias. Mas como vê o partido e grupos mais conservadores que estão abrigados na legenda? Eu sou considerado de centro-esquerda dentro do PSDB e na juventude, já fui chamado de “tucano do bico vermelho”. Não do ponto de vista econômico, que isso já está superado, mas uma esquerda social, que está falando em um protagonismo dos direitos humanos, em uma cultura de paz e da diversidade. O PSDB também tem gente muita conservadora, mas a soma do partido é positiva e eu estou no campo mais progressivo. Sou um dos poucos tucanos mais engajado nas questões raciais, de gênero, LGBT.
Uma das principais questões do PSDB nesse momento é a possibilidade ou não de uma aliança com o PMDB em 2018, em um momento em que aparecem outros candidatos surgindo no governo, como Henrique Meirelles e Rodrigo Maia. Como o senhor vê um possível acordo? Já nos aliamos com o PMDB em muitos outros momentos. A Rita Camata, quando foi candidata a vice-presidente do Serra, estava no PMDB. Nossos aliados tradicionais são o PMDB, o DEM, o PPS e o PTB e, mais recentemente, o PSB e o PV. O PSDB é um partido muito fácil de compor alianças porque é um partido ao centro. Nos primeiros anos, era comum dizer que eramos “a noiva”, porque todo mundo sempre quis ficar ao lado do PSDB. Isso está voltando.